quarta-feira, 21 de março de 2018

CRÔNICA - Carne de Pescoço (TL)


CARNE DE PESCOÇO
Totonho Laprovitera*




Conheci Zé Ramalho em 1977, quando ele estava partindo da Paraíba para o Rio de Janeiro, onde prosseguiria a sua carreira artística.

Em 1981 nos reencontramos, e ele me convidou para ilustrar o seu livro “Carne de Pescoço”, a ser publicado pela CBS, gravadora pela qual era contratado. Quando comecei a realizar as ilustrações, no início do livro, chamou-me atenção a revelação de que o primeiro som que ele ouvia ao acordar era o do olho dele abrindo. Interessante.

Pois bem, eram dez capítulos e eu já havia ilustrado nove. Faltava o último, que trazia sete poemas familiares, cada um bem diferente do outro. Senti dificuldade, até que me deu um estalo e, em Sobral, na casa do “seu” Aurélio Ponte, observei uma composição harmônica de uma vazia cadeira de balanço próxima à janela, que incluía um jarro de flores em seu peitoril. Ora, mandei brasa e retratei a cena.

Quando apresentei os desenhos, curiosamente, ele me perguntou sobre a ilustração da cadeira e eu respondi:  “Zé, tem cena mais familiar do que ler poemas sentado em uma cadeira de balanço, à beira de uma janela ornada com um jarro de flores? É sentar e ler.”
Ele riu, deu-me a mão e, então, brindamos às ilustrações.



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