a serviço do
jornalismo
e dos amigos
Wilson Ibiapina*
Não se tem notícia de que
o jornalista Antônio Carlos Drummond nos seus 82 anos de vida, tenha
cometido uma inconfidência. Nunca se ouviu falar que Toninho Drummond tenha
sido desleal com alguém. Seu apelido era “Moita”, de tão reservado ele era. Deixa
como exemplo sua gentileza no trato com as pessoas, sua
experiência profissional.
Chegou a Brasília no começo dos anos 70, para assumir a direção do telejornalismo da TV Globo. Para minha surpresa, ele
foi me visitar no hospital, onde eu estava internado para a retirarada um cálculo renal.
Foi um gesto voluntário, de afeto por quem nunca tinha visto. Aquilo fez nascer
em mim respeito e admiração que viraram uma amizade por toda a vida.
Trabalhamos juntos durante
todo o tempo em que ele esteve na Globo, primeiro como chefe do jornalismo,
depois como diretor regional. Levou o jornalista Carlos Henrique de
Almeida Santos para comandar uma equipe que iniciou a cobertura
política da emissora. Estavam lá, entre outros, Geraldo Costa Manso, Hélio
Doyle, Carlos Marchi, Álvaro Pereira, José Carlos Bardawil. Ricardo Pereira,
Pedro Rogério, Marilena Chiareli, Edilma Neiva, Ana Maria Rocha,
João Firmino Pena, Sérgio Mota, Airton Garcia, Ronan Soares e
Flamarion Mossri, o turco que não usava gravador, tão na moda na época na cobertura do
Congresso Nacional.
Ele também dirigiu a TV Bandeirantes em Brasília, e foi
presidente da Radiobrás. Quem visse o Toninho muito calado, nos seus últimos dias
de vida, nunca imaginaria que ele fosse um sujeito espirituoso, um
exímio contador de causos.
Seus amigos não esquecem a história do tio Nestor, fazendeiro rico, que namorou a mulher do vaqueiro. Um dia, o marido enganado disse que precisava ter uma conversa séria e reservada com o fazendeiro namorador. Tio Nestor se preparou para o pior. O vaqueiro, quase cochichando, disse-lhe ao pé do ouvido: “Dr. Nestor, tô com a impressão que a Matilde está traindo nóis...”
Seus amigos não esquecem a história do tio Nestor, fazendeiro rico, que namorou a mulher do vaqueiro. Um dia, o marido enganado disse que precisava ter uma conversa séria e reservada com o fazendeiro namorador. Tio Nestor se preparou para o pior. O vaqueiro, quase cochichando, disse-lhe ao pé do ouvido: “Dr. Nestor, tô com a impressão que a Matilde está traindo nóis...”
Mineiro de Araxá, Toninho dizia que toda vez que via o mar se sentia
longe de casa. Orlando Brito lembra que estavam em Recife, acompanhando uma
viagem presidencial. Depois da cobertura foram dar uma volta na Praia de Boa
Viagem. “Mr. Brito, estamos muito longe de casa. Olha o tal
de mar aí! Nascemos em Minas e moramos em Brasília. Uai, o que nós estamos
fazendo nesse fim de mundo?”.
Toninho era um cidadão do mundo. Transitava em Belo Horizonte
ou Juiz de Fora, Paris ou Nova Iorque, com toda desenvoltura. Porém, jamais abriu
mão um segundo ou um milímetro de sua “mineiridade”.
Orlando Brito conta que;
“No avião de volta a Brasília, para bem longe do Atlântico, o amigo esqueceu o cidadão do mundo que era para ser mineiro original. Olhou pela janela do Boeing e comentou com alegria, quando viu do alto o Rio São Francisco cortar o interior do Brasil: 'Olha lá em baixo que beleza. E parece que o São Francisco nasce lá em Minas Gerais'. Conhecedor do puro refinamento dos comentários do Toninho, fiquei sorrindo, também discretamente, como mineiro que igualmente sou, da palavra 'parece'. Aquele cuidado para não afirmar nada”.
“No avião de volta a Brasília, para bem longe do Atlântico, o amigo esqueceu o cidadão do mundo que era para ser mineiro original. Olhou pela janela do Boeing e comentou com alegria, quando viu do alto o Rio São Francisco cortar o interior do Brasil: 'Olha lá em baixo que beleza. E parece que o São Francisco nasce lá em Minas Gerais'. Conhecedor do puro refinamento dos comentários do Toninho, fiquei sorrindo, também discretamente, como mineiro que igualmente sou, da palavra 'parece'. Aquele cuidado para não afirmar nada”.
A jornalista Olga Bardawil lembra que Toninho participou da cobertura
política de onze diferentes presidentes do País, “mas, mineiríssimo, sabia
muito mais do que contava”. Quando os amigos cobravam um livro de memórias, que
nunca veio, ele dizia que um dia iria escrever e que já tinha até o título:
“Minhas Amnésias”.
Eduardo Simbalista, que foi editor-chefe do Jornal Nacional,
lembra em artigo publicado no site Diário do Poder, que Toninho, como bom “coach”, tinha faro
para os melhores talentos. Com o carinho e a paciência do jornalista que já
vira de tudo um pouco, Toninho só se mostrava intolerante com a burrice e com a
teimosia. Mas, mesmo assim, não levantava a voz. Jornalista tinha de ser
inteligente e persistente, sem empacar. Um passo de cada vez, sempre
perguntando por quê.
O jornalista Fábio Ibiapina escreveu: “Toninho, um ser humano doce e
carinhoso, que no seu jeitinho mineiro ajudou a transformar o País, o jornalismo
e a vida dos amigos”.
Nota: O Jornalista Toninho Drummond, que foi Diretor da
Sucursal da Rede Globo em Brasília por 25 anos, morreu de falência múltipla dos
órgãos, na Capital da República, no último dia 24 de março. Era colega e amigo de Wilson Ibiapina, que em sua homenagem produziu essa crônica comovida.
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