terça-feira, 27 de março de 2018

CRÔNICA - A Serviço do Jornalismo e dos Amigos (WI)


a serviço do jornalismo
e dos amigos
Wilson Ibiapina*



Não se tem notícia de que o jornalista Antônio Carlos Drummond nos seus 82 anos de vida, tenha cometido uma inconfidência. Nunca se ouviu falar que Toninho Drummond tenha sido desleal com alguém. Seu apelido era Moita, de tão reservado ele era. Deixa como exemplo sua gentileza no trato com as pessoas, sua experiência  profissional. 

Chegou a Brasília no começo dos anos 70, para assumir a direção do telejornalismo da TV Globo. Para minha surpresa, ele foi me visitar no hospital, onde eu estava internado para a retirarada um cálculo renal. Foi um gesto voluntário, de afeto por quem nunca tinha visto. Aquilo fez nascer em mim respeito e admiração que viraram uma amizade por toda a vida.

Trabalhamos juntos durante todo o tempo em que ele esteve na Globo, primeiro como chefe do jornalismo, depois como diretor regional. Levou o jornalista  Carlos Henrique de Almeida Santos para comandar uma equipe que iniciou a cobertura política da emissora. Estavam lá, entre outros, Geraldo Costa Manso, Hélio Doyle, Carlos Marchi, Álvaro Pereira, José Carlos Bardawil. Ricardo Pereira, Pedro Rogério, Marilena Chiareli, Edilma Neiva, Ana Maria Rocha, João  Firmino Pena, Sérgio Mota, Airton Garcia, Ronan Soares e Flamarion Mossri, o turco que não usava gravador, tão na moda na época na cobertura  do Congresso Nacional. 

Ele também dirigiu a TV Bandeirantes em Brasília, e foi presidente da Radiobrás. Quem visse o Toninho muito calado, nos seus últimos dias de vida, nunca imaginaria que ele fosse um sujeito espirituoso, um exímio contador de causos. 

Seus amigos não esquecem a história do tio Nestor, fazendeiro rico, que namorou  a mulher do vaqueiro. Um dia, o marido enganado disse que precisava ter uma conversa séria e reservada com o fazendeiro namorador. Tio Nestor se preparou para o pior. O vaqueiro, quase  cochichando, disse-lhe ao pé do ouvido: Dr. Nestor, tô com a impressão que a Matilde está traindo nóis...

Mineiro de Araxá, Toninho dizia que toda vez que via o mar se sentia longe de casa. Orlando Brito lembra que estavam em Recife, acompanhando uma viagem presidencial. Depois da cobertura foram dar uma volta na Praia de Boa Viagem. “Mr. Brito, estamos muito longe de casa. Olha o tal de mar aí! Nascemos em Minas e moramos em Brasília. Uai, o que nós estamos fazendo nesse fim de mundo?.

Toninho era um  cidadão do mundo. Transitava em Belo Horizonte ou Juiz de Fora, Paris ou Nova Iorque, com toda desenvoltura. Porém, jamais abriu mão um segundo ou um milímetro de sua mineiridade”.

Orlando Brito conta que;

“No  avião de volta a Brasília, para bem longe do Atlântico, o amigo esqueceu o cidadão do mundo que era para ser mineiro original. Olhou pela janela do Boeing e comentou com alegria, quando viu do alto o Rio São Francisco cortar o interior do Brasil: 'Olha lá em baixo que beleza. E parece que o São Francisco nasce lá em Minas Gerais'Conhecedor do puro refinamento dos comentários do Toninho, fiquei sorrindo, também discretamente, como mineiro que igualmente sou, da palavra 'parece'. Aquele cuidado para não afirmar nada”.

A jornalista Olga Bardawil lembra que Toninho participou da cobertura política de onze diferentes presidentes do País, “mas, mineiríssimo, sabia muito mais do que contava. Quando os amigos cobravam um livro de memórias, que nunca veio, ele dizia que um dia iria escrever e que já tinha até o título: “Minhas Amnésias”.

Eduardo Simbalista, que foi editor-chefe do Jornal Nacional, lembra em artigo publicado no site Diário do Poder, que Toninho, como bom “coach”, tinha faro para os melhores talentos. Com o carinho e a paciência do jornalista que já vira de tudo um pouco, Toninho só se mostrava intolerante com a burrice e com a teimosia. Mas, mesmo assim, não levantava a voz. Jornalista tinha de ser inteligente e persistente, sem empacar. Um passo de cada vez, sempre perguntando por quê.

O jornalista Fábio Ibiapina escreveu: “Toninho, um ser humano doce e carinhoso, que no seu jeitinho mineiro ajudou a transformar o País, o jornalismo e a vida dos amigos”.

Toninho saiu de cena, mas fica na história da imprensa.






Nota: O Jornalista Toninho Drummond, que foi Diretor da Sucursal da Rede Globo em Brasília por 25 anos, morreu de falência múltipla dos órgãos, na Capital da República, no último dia 24 de março. Era colega e amigo de Wilson Ibiapina, que em sua homenagem produziu essa crônica comovida.

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