VIDA E ESPERANÇA
Edmar Santos*
O amanhã surgirá como o hoje veio e o ontem se
foi!
Do ontem guardamos lembranças, algumas boas
outras nem tanto; no hoje construímos algo, destruímos alguns feitos, deixamos afazeres
para depois, por motivos diversos e quaisquer.
Quando crianças, vivemos pelas grandezas dos
adultos – o famoso narcisismo paterno – enquanto adultos, esquecemos de quão
importante era a criança que vivia em nós e que deixamos por lá, pelo passado.
Agora cuidamos de crianças, em nos tornando
pais, procurando oferecer-lhes o que nossos pais não conseguiram nos dar,
materialmente falando. Não percebemos que nossos velhos pais nos deixaram o de
mais concreto bem da vida: seus ensinamentos, cuidados e carinhos. O amor
tornou-se nostalgia.
Se para nossos pais o amanhã vem sempre
trazendo consigo a velhice do corpo, a lentidão dos reflexos, a experiência dos
anos vividos, para nós o desabrochar das experiências boas e más que eles
igualmente viveram.
O tempo passa! Em vida, a segunda certeza que
temos; posto ser a morte a primeira, nos perguntamos a todo o tempo se estamos
de fato vivendo uma vida que valha a pena! O que fizemos no passado que possa ser
comemorado no agora? O que de bom estamos construindo neste tempo para os que
virão depois? E quando o futuro nos chegar, e velhos estivermos, com o que nos
depararemos construídos por nossas mãos e vontades? Refletir é prudente!
Diante disso cabe arrepender-nos? Sim;
precisamos nos arrepender como quem desmatou densa floresta e que depois,
tomando consciência de sua drástica atitude predatória, reflorestou tudo de
novo e viu ressurgirem as fontes d’água em meio a verdejante arvoredo.
Reconhecer o erro e corrigi-lo é honroso!
Reconstruirmos? Claro; podemos reconstruir as
coisas boas que deixamos desgastar: as amizades, os passeios nas praças, os
bate-papos nas calçadas, e tantas outras vicissitudes singelas que se
agigantavam em nossas relações sociais. Só que agora, sem a pressa do
cotidiano, nem a impessoalidade das novas redes relacionais. Devemos resistir
ao desgaste, como a montanha luta com o vento!
Manter a esperança? Imprescindível; a
manutenção da boa esperança de que o humano que somos tem no espírito que nos
preenche a magnitude de poder refazer-se dos mais trágicos episódios
vivenciados. Um abraço sincero pode
aliviar angústia. Diz a música: “O melhor lugar do mundo é dento de um
abraço!"
COMENTÁRIO
Parece
até que eu e o diplomata dr. Márcio Catunda, que estamos escrevendo um livro
com sonetos decassilábicos portugueses, adivinhamos, em parte, o que pretendia
exprimir o Dr. Edmar nesse seu verdadeiro, belissimamente literário e virtuoso
texto. Veja e compare.
PRUDÊNCIA
V.M. (quartetos) e M.C. (tercetos)
Na inteireza da minha senescência,
Já terminei de armazenar enganos.
Guardo na mais esconsa advertência
A irrealização de certos planos.
Nesta quadra vital, tomo tenência
De, doravante, não me tornar lhano
Aos pruridos joviais da incontinência
Conducentes à nau dos desenganos.
Excessos não cometo, por prudência,
Pois é o corpo acusador libelo
A instalar seu "locus" na consciência.
Mas inda sei admirar o belo
E me não cansa demandar a ciência,
Se por estas virtudes de revelo.
Na inteireza da minha senescência,
Já terminei de armazenar enganos.
Guardo na mais esconsa advertência
A irrealização de certos planos.
Nesta quadra vital, tomo tenência
De, doravante, não me tornar lhano
Aos pruridos joviais da incontinência
Conducentes à nau dos desenganos.
Excessos não cometo, por prudência,
Pois é o corpo acusador libelo
A instalar seu "locus" na consciência.
Mas inda sei admirar o belo
E me não cansa demandar a ciência,
Se por estas virtudes de revelo.
Vianney Mesquita
Dr. Edmar
ResponderExcluirParece até que eu e o diplomata dr. Márcio Catunda, que estamos escrevendo um livro com sonetos decassilábicos portugueses, adivinhamos, em parte, o que pretendia exprimir nesse seu verdadeiro, belissimamente literário e virtuoso texto.
Veja e compare.
PRUDÊNCIA
V.M. (quartetos) e M.C. (tercetos)
Na inteireza da minha senescência,
Já terminei de armazenar enganos.
Guardo na mais esconsa advertência
A irrealização de certos planos.
Nesta quadra vital, tomo tenência
De, doravante, não me tornar lhano
Aos pruridos joviais da incontinência
Conducentes à nau dos desenganos.
Excessos não cometo, por prudência,
Pois é o corpo acusador libelo
A instalar seu "locus" na consciência.
Mas inda sei admirar o belo
E me não cansa demandar a ciência,
Se por estas virtudes de revelo.