segunda-feira, 26 de março de 2018

ARTIGO - Desbanalizar a Violência Doméstica (KK)


Desbanalizar a
violência doméstica
Karla Karenina*




Quando se fala em violência doméstica associamos logo a homens que batem em mulheres. Mas existem várias formas de violência dentro dos lares. Geralmente praticadas pelo mais forte contra o mais fraco. De homens contra mulheres, filhos(as); de mães contra filhos(as), irmãos mais velhos contra mais novos(as)...

Já avançamos em mudanças de paradigmas, mas há muitos outros deles arraigados no inconsciente coletivo. Graças a algumas leis, a violência doméstica não é mais só um problema familiar. Podemos e devemos denunciar, estando fora da casa.

A punição dos agressores é necessária e justa. Mas não só isso. É preciso dar fim ao ciclo de violência a partir do tratamento dos agressores e dos agredidos, que podem repetir inconscientemente a raiva reprimida do passado.

Em nove anos de atuação como terapeuta de regressão vejo como os prejuízos são imensos! Alguns episódios traumáticos são tão dolorosos que acabam “esquecidos” por anos, trancafiados nos porões da alma. Mais à frente, através de sintomas físicos e/ou emocionais, essas memórias se manifestam como um grito de socorro.

Exemplos excelentes estão sendo mostrados na trama de Walcyr Carrasco, “O Outro Lado do Paraíso”, com a devida licença poética. A personagem Laura, que era abusada pelo padrasto, não lembrava dos abusos. Depois de uma sessão de regressão, os fatos vieram à consciência.

Outro exemplo é o do personagem Gael, que batia nas mulheres sem saber o porquê. Numa linda cena em que Mercedes (a curandeira do lugar) faz o que os xamãs chamam de “resgate de alma”, e nós terapeutas chamamos de regressão, Gael acessa os episódios da infância em que era espancado e humilhado pela mãe.

Histórias que acontecem na vida real e são recorrentes no dia a dia do meu consultório. É urgente contribuirmos para a desbanalização de todos os tipos de violência. Denunciando e olhando para as próprias histórias familiares.

Violência doméstica é um fenômeno transgeracional e tem cura! Façamos a nossa parte! As futuras gerações não podem continuar achando que é natural praticar ou sofrer violência!

Natural é nascer num ambiente acolhedor e amoroso, crescer sendo protegido e orientado, e assim, sucessiva e ininterruptamente, ser HUMANO.



Nota: Matéria publicada na edição de 26.03.2018 no Jornal O Povo.





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