O
MESTRE E O APRENDIZ
Totonho Laprovitera*
Era início da década de 80, quando tive a feliz oportunidade de conhecer Jean-Pierre Chabloz que, bastante receptivo, logo me convidou a visitá-lo.
Cheguei num sábado à sua casa na Vila Pita, começamos a conversar e todos os
assuntos, naturalmente, convergiam para as artes. Ofereceu-me e preparou um
coquetel de receita extravagante: leite, café solúvel, canela, cachaça e açúcar
eram alguns dos ingredientes que compunham a fórmula. Para logo me livrar da
poção, a bebi de gute-gute. Não deu certo, pois o novo amigo entendeu que assim
eu tinha feito por ter gostado e me repetiu a dose.
Tranquilamente,
Chabloz me falou de conceitos e fundamentos da arte de desenhar e pintar.
Contou-me uma história que até hoje repito, como agora farei.
Pois
bem, certa vez ele pediu a um menino, seu aprendiz, para realizar a seguinte
tarefa: desenhar uma criança em uma ilha, debaixo de um coqueiro e avistando
uma jangada. Não demorou muito e o menino já apresentou o desenho ao mestre,
que de pronto o arguiu:
– Eu
estou vendo a ilha, o coqueiro e a jangada. Mas, e a criança?
– A criança sou eu, mestre – respondeu o menino.
Essa história me apontou o ponto de vista de que na arte o autor deve estar inserido nela. Assim sendo, saberemos diferenciar o artista do fazedor de arte.
GRAVURAS: Desenho de Chabloz - Pintura em cerâmica de M. Luna
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