APRENDENDO
Edmar Santos
A maiêutica
socrática trazia como objetivo fazer com que o indivíduo alcançasse a “luz do
conhecimento”, a partir de questionamentos metodologicamente postos, à medida
que se ia refutando proposições, fazendo com que essa interlocução não desse
respostas prontas, mas levasse o aprendiz a buscar, e não receber o
conhecimento servido em uma bandeja de prata. Filosofar era a chave do
conhecimento.
Um dos maiores representantes da época renascentista,
o italiano Galileu Galilei, entendia a filosofia como uma obra de Deus, e
remetia somente a Ele o entendimento de sua inteireza, tanto que assim se
expressou ao refutar um de seus críticos: “(...) muitos são aqueles que sabem alguma coisa de filosofia; poucos
são aqueles que entendem um pouco de filosofia; pouquíssimos são aqueles
que conhecem alguma parte dela; um só, Deus, é o que a entende toda” (grifei).
Admitamos a afirmação de Galileu Galilei como
verdade; assim, temos que, a busca pelo bem pensar, pela reflexão mais
profunda, trata-se de perseguir o próprio conhecimento de Deus e Seu
entendimento. Se é que é possível!

No Eutimia, surpreendentemente, Reginaldo Vasconcelos
nos apresenta um pensar, sobre um autoconhecer, sobre a felicidade; olhando
para si mesmo, refletindo seu íntimo no seu agir cotidiano, mostrando que
alcançar o equilíbrio constante, ainda que em meio a oscilações ínfimas, porém,
necessárias à própria constância da condição desse equilíbrio, não é só
possível, mas perfeitamente praticável. Certamente um exercício de busca
incessante.
A anos luz de servir como um manual de auto ajuda, o
livro Eutimia é o mais profundo filosofar sobre o ser e sobre o absoluto guiar
de Deus em nós; sobre nossas interações com o mundo, com os outros, com o
destino, com o próprio Divino. Entendo que Ele É, e nesse sentido, nos basta
reconhecer seu poder sobre o todo e compreender o que Ele espera de nós.

Saber os porquês dos posicionamentos de cada símbolo
no corpo do adaptado homem vitruviano é uma das buscas que o ensaio me intriga
e impele a fazer. Certamente buscarei satisfazer essa curiosidade que me veio,
o mais breve e da maneira mais prospectiva.
Religiões, regimes políticos, são analisados em seus
aspectos de igualdade, justiça e influências sociais, de forma apartidária e
inferindo uma criticidade baseada no cabedal de conhecimento adquirido pelo
tempo de dedicação ao saber.
Suas alegorias sobre temas como a morte nos leva à
compreensão de seu nível de espiritualidade e capacidade intelectual, que no
plano cartesiano acima sugerido, podemos traçar uma linha gráfica que
certamente ascende aos níveis mais elevados. Aos distêmicos ou não, indico a
obra Eutimia.
COMENTÁRIO
Ao tempo em que
agradeço pela muito bem amanhada resenha da minha modesta obra Eutimia – uma sucinta
conjectura filosófica – atesto a rara acuidade com que, ao se aventurar nela,
Edmar Santos prospectou seu conteúdo.
Ele mergulhou
fundo nesse noturno poço maiêutico, destituído de corda-guia que siga a trilha
dos gregos antigos, ou que pervague os liames dos alemães e escandinavos
modernos, entre os maiores pensadores do universo.
Edmarus
Sanctorum (endônimo acelejano do resenhista), em certas passagens do texto, trai
lhe ter faltado fôlego a determinadas lonjuras do mergulho, mas faz prova de
que quando isso aconteceu perseverou na mais heroica apneia, em busca de alcançar o vertiginoso deslinde lógico
das teses demonstradas.
Filosofia,
realmente, não é coisa que se ensine a vivenciar ou se faça entender. Pode-se apenas dizer da própria experiência cognitiva, e se pode aprender a buscar as suas próprias conclusões sobre o mecanismo pessoal para alcançar a
felicidade genuína, objetivo finalístico do ser pensante, e que somente na virtude se
atinge em plenitude.
Eutimia, portanto, nada
mais é do que o roteiro que o autor aprendeu e desenhou ao sair do cipoal das
dúvidas da existência, do pântano dos medos mais siderais, enfim, da mais
dantesca geena psíquica em que de repente se flagrou – vivendo a mais nobre provação – quando, contraditoriamente, o destino lhe era absolutamente venturoso e sorridente, poupando-lhe de toda
dor real e de todo o infortúnio mais agudo. Pretende ser, portanto, no máximo, a débil luz
de uma lanterna. O caminho cada um tem que encontrar e percorrer.
Reginaldo Vasconcelos
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