Literatura Filosófico-Científica Inusitada na
Crônica da
Prof.a D.ra Graça Martins
Vianney Mesquita*
Filosofia, doce leite da adversidade! (Guilherme Shakspeare).
A Natureza não dá saltos. (Godofredo Leibniz).
Para o observador menos devotado ao exame
procedimental do trato científico, pode afigurar-se inacreditável - no mínimo,
surpreendente - a ideia de ser possível a vinculação racional em vertentes de
aparências dessemelhantes, de procedências tão supostamente díspares, como esta
admirandamente comprovada pela Autora de O
HOMEM nas Abordagens Mecanicista e Humanista da Administração e no Humanismo de
Inspiração Cristã.
Maria
da Graça Holanda Martins publicou o mencionado livro em ótima ocasião, propícia
a excitar, ainda mais, a já efervescente reflexão, felizmente em uso atual na
ambiência da nossa Academia. Isto porque – e ela de sobra conhece este suposto
– o exame do conhecimento parcialmente ordenado não tem por objeto o saber
particular, pois é inexequível reunir em insulado conceito, estabelecer apenas
em uma lei, a enorme quantidade de detalhes e situações particulares,
constitutivas do ser ou do fato individual: Omne
individuum inefabile, conforme ensina a velha, revisada tantas vezes e, em
muitos pontos ainda, acreditada Escolástica.
Nas
alegações expressas nessa produção, eminentemente interdisciplinar, a
Pesquisadora não perde o foco, portanto, das grandes ligações da totalidade do
ser, deixando de assujeitar-se ao perigo de reduzir a visão a um apoucado
domínio da técnica, em virtude do desdobramento dos objetos, o qual conduziu o
debate da Ciência a uma progressiva especialização.
A
Escritora demonstra, com efeito, no seu substancial e bibliograficamente bem
forrado escrito, o caráter extensivo, a feição horizontal e o perfil encadeado
da compreensão ordenada, quando acolheu para arguir, sob o mesmo pálio
argumentativo e a umbela plural, o tema da Administração Científica e da Teoria
da Burocracia (esta havida pelo teórico alemão Max Weber como modalidade de poder), com base na conceição de homem
esposada nas abordagens mecanicista-humanista da Ciência/técnica de Taylor e Fayol, para saber se e até onde a ideação de humano, nesses
dois sistemas, converge para ou se desvia da homovisão do Humanismo de
inspiração cristã, divisado, e.g.,
por Pedro Dalle Nogare, em Humanismos e
Anti-Humanismos (Petrópolis: Vozes, 1977).
Conforme
já se dessume, a despeito da postiça falta de identidade temática, os assuntos
são passíveis de avaliação, todavia solicitam a necessária diligência
intelectiva, a exigir do estudioso a prontidão suficiente para fruir de juízos
absolutamente racionais, a fim de podê-los partilhar com todo o ecúmeno, felizmente
numa mensuração facilitada, pois serenamente transitados pelas indicadas sistematizações
da ordem metodológica, provindas das instruções de filósofos e metodólogos de
ofício.
Esses
aprontos intelectuais, é claro, a Autora detém elevadamente, porquanto os
resultados do seu ensaio podem ser socializados, haja vista representarem
nascente de fé e manifestação de verdade por parte de quem, por toda a vida,
mourejou em bancos e laboratórios idôneos, bem como fez da inteligência atelier
de raciocínio, forja de experimentos e terreno de prova.
Conquanto
possa antecipar o proveito da investigação, achei por bem não o fazer, a fim de
não baldar a curiosice do futuro consulente do livro, tampouco frustrar a
sofreguidão daquele leitor mais pressuroso, cuja necessidade orgânico-psíquica
o levará a consumir, de uma vez, todo o teor do curto (116 pp.) e substancioso
esforço triunfante de pesquisa.
De
passagem, no entanto, me impende atentar para o recheio interdisciplinar do
texto, pois reúne o enredamento profuso, quase desacostumado, de vários
contextos disciplinares – Administração, Filosofia Humanista, Religião,
Trabalhismo, entre outros – concedendo horizontalidade ao feito científico,
conjunção de procedimentos multíplices, significativos de parêmia da Filosofia
Escolástica, por onde lidaram Thomas de
Aquino, Guilherme de Occam, Duns Scotto Erígena e tantas outras figuras da
inteligência medieval, bem como seu discipulado ainda hoje resistente.
O
brocardo há segundos mencionado configura a ideia de o todo individualizado ser
inexprimível. Inexiste, por conseguinte e em tese, o saber particular: Non datur scientia de individuo.
Nota: A modo de exercício, não há
neste texto qualquer uso do vocábulo que.
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