domingo, 18 de outubro de 2015

ARTIGO - Sobre o Pecado e o Pecador (HE)

SOBRE O PECADO E O PECADOR
Humberto Ellery*

Leio neste Blog texto assinado pelo brilhante advogado e jornalista Alfredo Marques. O artigo pode ser resumido em uma só palavra – enternecedor.

Fazendo uma alusão ao Evangelho de João, capítulo 8, versículos de 1 a 11, o articulista coloca a suave Dilma na posição da mulher adúltera, coitada, passível de uma morte horrorosa e dolorida por lapidação, apenas por ter cometido adultério.

Então, assumindo a doce posição do Nazareno, desafia a nós, fariseus e escribas: “Aquele que nunca pecou, atire a primeira pedra!”.

Começo deixando bem claro que sou, por princípios cristãos, absolutamente contrário à pena de morte, portanto quanto a mim a Dilma pode ficar desassustada.

Quanto a dizer que a Dilma está “postada num cadafalso de argumentos trôpegos, inflados por opositores medíocres, cuja trajetória e presente não lhes contempla dignidade”, sou forçado a discordar de forma veemente, e recomendar ao Dr. Alfredo que procure conhecer melhor a Dra. Janaína Paschoal, o Dr. Hélio Bicudo e o Professor Miguel Reale Júnior, bem como ler cuidadosamente o pedido de Impeachment que assinaram.

Sobre à mulher adúltera da Bíblia, convém tecer algumas considerações. Em primeiro lugar, a mulher era culpada do crime que lhe imputavam: ela foi flagrada cometendo adultério. Os escribas e fariseus aproveitaram o ensejo e resolveram preparar para Jesus o que hoje chamaríamos de uma “sinuca de bico”, uma vez que o Cristo pregava a obediência às leis, especialmente a Torá, mas Sua principal mensagem era de amor e perdão. Caso Ele a perdoasse estaria desobedecendo a Lei Mosáica; caso a condenasse restaria desmoralizada toda a Sua pregação centrada no amor e no perdão.

O Evangelho nos diz que Jesus, colocado frente ao dilema, calou-se, sentou-se ao chão e pôs-se a escrever com o seu dedo sobre a areia. Não há como saber o que Jesus tanto escrevia, a Bíblia não esclarece. Exegetas, hermeneutas e teólogos têm pesquisado ao longo dos séculos, sem chegar a uma conclusão.

Como estudioso de Teologia, ousadamente, tenho uma tese. Acredito que Ele começou escrevendo o Levítico 20:10: “O homem que cometer adultério com a mulher do seu próximo deverá morrer, o adúltero e a adúltera”.

Em seguida, Jesus escreveu o Deuteronômio 22:22: “Se um homem for pego deitado com a mulher de outro homem, os dois deverão pagar com a morte”. Depois Ele levantou-se, apanhou uma pedra e a ofereceu ao fariseu mais próximo dizendo: “Aquele que nunca pecou atire a primeira pedra”.

Os fariseus se entreolharam e ficaram pensando que deveriam também apedrejar o adúltero, que certamente era amigo deles. Em seguida, Jesus sentou-se de novo ao chão e passou a escrever os nomes dos homens ali presentes e seus pecados. Silenciosamente foram saindo, um a um.

Quando Jesus finalmente levantou restavam apenas Ele e a mulher, assustada, trêmula, humilhada. Eram, frente a frente, o pecado e o Perdão, a paixão carnal e o Amor Divino, a miséria e a Misericórdia. Jesus, dirigindo-se àquela pobre alma, perguntou suavemente: “Onde estão os que te acusavam?”.

Jesus fez uma pausa, e tornou a perguntar: “Algum deles te condenou?”.Não, meu Senhor” – respondeu a mulher. Ao que o nosso Deus do Amor Infinito concluiu: “Eu também não te condeno. Vai em Paz e não tornes a pecar”. Deus odeia o pecado, mas ama o pecador.

Voltando ao questionamento do Dr. Alfredo Marques, posso concluir dizendo que eu também não condeno Dilma Rousseff, nem vou apedrejá-la. Peço apenas que ela saia do Planalto, que vá em paz e nunca mais se candidate a coisa nenhuma! Pelo Amor de Deus! 



NOTA DO EDITOR:

Humberto Ellery é teólogo e católico praticante, até por tradição de família, filho do homônimo general do Exército, ex-vice-governador do Ceará, dotado de espírito caridoso e humanitário, que, segundo a lenda urbana corrente na época, tinha autorização especial do Papa para ministrar a comunhão – o que hoje é permitido ao filho, e a muitas outras pessoas que atuam como Ministros da Eucaristia.


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