SOBRE O PECADO E O PECADOR
Humberto Ellery*
Leio
neste Blog texto assinado pelo brilhante advogado e jornalista Alfredo Marques.
O artigo pode ser resumido em uma só palavra – enternecedor.
Fazendo uma alusão ao Evangelho de João, capítulo 8, versículos de 1 a 11, o articulista coloca a suave Dilma na posição da mulher adúltera, coitada, passível de uma morte horrorosa e dolorida por lapidação, apenas por ter cometido adultério.
Então,
assumindo a doce posição do Nazareno, desafia a nós, fariseus e escribas: “Aquele
que nunca pecou, atire a primeira pedra!”.
Começo
deixando bem claro que sou, por princípios cristãos, absolutamente contrário à
pena de morte, portanto quanto a mim a Dilma pode ficar desassustada.
Quanto
a dizer que a Dilma está “postada num
cadafalso de argumentos trôpegos, inflados por opositores medíocres, cuja
trajetória e presente não lhes contempla dignidade”, sou forçado a
discordar de forma veemente, e recomendar ao Dr. Alfredo que procure conhecer
melhor a Dra. Janaína Paschoal, o Dr. Hélio Bicudo e o Professor Miguel Reale
Júnior, bem como ler cuidadosamente o pedido de Impeachment que assinaram.
Sobre à mulher adúltera da Bíblia, convém tecer algumas considerações. Em primeiro lugar, a mulher era culpada do crime que lhe imputavam: ela foi flagrada cometendo adultério. Os escribas e fariseus aproveitaram o ensejo e resolveram preparar para Jesus o que hoje chamaríamos de uma “sinuca de bico”, uma vez que o Cristo pregava a obediência às leis, especialmente a Torá, mas Sua principal mensagem era de amor e perdão. Caso Ele a perdoasse estaria desobedecendo a Lei Mosáica; caso a condenasse restaria desmoralizada toda a Sua pregação centrada no amor e no perdão.
O
Evangelho nos diz que Jesus, colocado frente ao dilema, calou-se, sentou-se ao
chão e pôs-se a escrever com o seu dedo sobre a areia. Não há como saber o que
Jesus tanto escrevia, a Bíblia não esclarece. Exegetas, hermeneutas e teólogos
têm pesquisado ao longo dos séculos, sem chegar a uma conclusão.
Como
estudioso de Teologia, ousadamente, tenho uma tese. Acredito que Ele começou
escrevendo o Levítico 20:10: “O homem que
cometer adultério com a mulher do seu próximo deverá morrer, o adúltero e a
adúltera”.
Em
seguida, Jesus escreveu o Deuteronômio 22:22: “Se um homem for pego deitado com a mulher de outro homem, os dois
deverão pagar com a morte”. Depois Ele levantou-se, apanhou uma pedra
e a ofereceu ao fariseu mais próximo dizendo: “Aquele que nunca pecou atire a primeira pedra”.
Os
fariseus se entreolharam e ficaram pensando que deveriam também apedrejar o
adúltero, que certamente era amigo deles. Em seguida, Jesus sentou-se de novo
ao chão e passou a escrever os nomes dos homens ali presentes e seus pecados.
Silenciosamente foram saindo, um a um.
Quando
Jesus finalmente levantou restavam apenas Ele e a mulher, assustada, trêmula,
humilhada. Eram, frente a frente, o pecado e o Perdão, a paixão carnal e o Amor
Divino, a miséria e a Misericórdia. Jesus, dirigindo-se àquela pobre alma,
perguntou suavemente: “Onde estão os
que te acusavam?”.
Jesus
fez uma pausa, e tornou a perguntar: “Algum
deles te condenou?”. “Não, meu Senhor” – respondeu a mulher. Ao que o nosso
Deus do Amor Infinito concluiu: “Eu também não te condeno. Vai em Paz e não
tornes a pecar”. Deus odeia o pecado, mas ama o pecador.
Voltando
ao questionamento do Dr. Alfredo Marques, posso concluir dizendo que eu também não
condeno Dilma Rousseff, nem vou apedrejá-la. Peço apenas que ela saia do Planalto, que
vá em paz e nunca mais se candidate a coisa nenhuma! Pelo Amor de Deus!
NOTA
DO EDITOR:
Humberto
Ellery é teólogo e católico praticante, até por tradição de família, filho do homônimo
general do Exército, ex-vice-governador do Ceará, dotado de espírito caridoso e
humanitário, que, segundo a lenda urbana corrente na época, tinha autorização
especial do Papa para ministrar a comunhão – o que hoje é permitido ao filho, e
a muitas outras pessoas que atuam como Ministros da Eucaristia.
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