quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CRÔNICA - Agora, A Saudade (RV)

AGORA, A SAUDADE.
Reginaldo Vasconcelos*


Já faz sessenta anos que um Edilmar Norões quase menino veio dos meios radiofônicos do Cariri para atuar na imprensa em Fortaleza, onde teve pleno êxito, de tal modo que, com o seu falecimento, na manhã de ontem (20.10.2015), a cidade já se sente desfalcada de sua marcante presença, na mídia e na sociedade cearenses.

Havia muitos anos participava da Diretoria de Jornalismo do Sistema Verdes Mares de Comunicação. Apresentava noticiosos no rádio e na TV e assinava sua coluna política no jornal, conduzindo-se com tamanhas simpatia e elegância que se tornou um ícone da vida social desta cidade.

Fosse atuando na instituição de classe das emissoras de rádio e TV, fosse em cargos diretivos do Iate Clube, fosse como candente torcedor do Fortaleza, fosse como membro titular emérito da Cadeira de nº 3 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, Edilmar era brilhante. No velório, o empresário Igor Queiroz Barroso, Diretor do Grupo Edson Queiroz, que é Membro Benemérito da ACLJ, fala à reportagem sobre o sentimento de perda que atinge a sociedade.

Eu acabara se sair do velório ontem à noite quando fui abordado pelo empresário Tarcísio Pedrosa, que tem uma butique de carnes na Antônio Sales, e que mora nas proximidades da residência de Edilmar. Ele quis manifestar o seu pesar pelo ocorrido, e dizer de suas impressões.

“Eu entendo de futebol” – disse-me ele. “E sempre achei que ninguém tinha comentários mais proficientes sobre o tema que Edilmar Norões, ao analisar as táticas e as estratégias postas em práticas pelos times locais. Ele vai fazer falta como cientista político, mas também como analista desportivo" – embora, digo eu, neste campo tenha ele feito um eficiente sucessor, na pessoa do filho Paulo César, jornalista especializado em esportes.

Ao chegar em casa, me esperava pesaroso Wagner Sales, o qual trabalhou na Verdes Mares anos atrás, e que há dez dias encontrou Edilmar Norões no Centro de Eventos, e com ele fez um “self”.

Contou-me que certa feita, funcionário modesto, procurara o diretor da emissora para dizer que casara, tinha que montar a casa, e que precisava de um empréstimo. “Vou resolver o seu problema”, respondeu-lhe Edilmar – e no dia seguinte o crédito pretendido já lhe  estava na conta bancária.

Discursos humildes e comovidos que se proferiram hoje ao pé do túmulo, dentre outros mais eruditos, também traziam narrativas sobre o espírito solidário de Edilmar Norões, que recebia a todos com um sorriso, e procurava ajudar como podia.

Mesmo o padre celebrante da missa de corpo presente contou em seu sermão que costumava procurar o jornalista em seu gabinete, pedindo apoio para suas obras pias, sendo sempre acatado e atendido. Enfim, o signo da vida desse homem era de fato a generosidade e a presteza.

Um belíssimo fato insólito: o cortejo que levou o féretro ao cemitério Parque da Paz fez uma parada defronte o prédio do Sistema Verdes Mares, na Aldeota, momento em que todos os seus funcionários tomaram as calçadas para aplaudir o chefe, o colega, o amigo estimado.

No ato tenso do sepultamento, diante da família contristada  sua mulher Lucila, filhos, filhas, genros, noras e netos  após as falas do acadêmico Roberto Moreira, Diretor da TV Diário, fiz um rápido discurso, em nome da Academia e em meu nome, que tinha por ele muita admiração e muito afeto. 

Frisei que nossa instituição cultua a memória, de modo que para nós Edilmar Norões não morre nunca, mas apenas, por ato de Deus, foi promovido para o nosso mais sublime panteão. E, seguindo uma tradição acelejana, recitei em latim a oração do Padre Nosso.

Será realizada já no dia 29 deste mês de outubro, na sede da Associação Cearense de Imprensa, a “Sessão da Saudade” de Edilmar Norões – dolorosa providencia regimental em que o acadêmico falecido recebe homenagens póstumas.  

Na oportunidade, sob a Presidência de Honra do Senador Cid Carvalho, será declarada vaga a cadeira vitalícia, e aberta a sucessão mortis causa da sua titularidade. O filho de Edilmar, o jornalista Paulo César Norões, é  candidato natural, caso aceite concorrer.


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