GOLPE
DEMOCRÁTICO
Humberto Ellery*
O oxímoro, figura de linguagem muito utilizada pelos poetas,
consiste em relacionar em uma mesma locução palavras que exprimem conceitos
antagônicos, paradoxais. Eu mesmo gosto, quando pertinente, de utilizar esse
recurso retórico, pois, uma vez bem empregado, reforça muito a idéia que
pretendemos transmitir pelo aparente absurdo contido na expressão. Alguns
exemplos são: mutismo eloquente, silêncio ensurdecedor, maldade benfazeja, etc.
Camões tem uma belíssima poesia toda construída em oxímoros:
Amor é fogo que arde sem se ver
é ferida que dói e não se sente
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer... e por aí vai.
O nosso “Rei” Roberto Carlos canta uma
música intitulada “Outra Vez”, grande sucesso de Isolda, que também vai
nesse caminho, falando em “mentira sincera, brincadeira mais séria”, e tem dois versos de que gosto
muito:
“Você foi a maldade que só me fez bem
/ Você foi o melhor dos meus erros...”.
Mas às vezes a expressão decorre de um
lapso, descuido, ou mesmo desconhecimento do significado das palavras, como
certa vez ouvi de um repórter esportivo, que se referindo a um fato desabonador
ocorrido em um clube de futebol soltou essa pérola: O Fulano de Tal quando
souber desse fato vai ficar muito nervoso, tranquilamente!
Outra famosa relacionada ao futebol
aconteceu durante a transmissão de um jogo em Natal, RN. O grande craque do
time era um gaúcho chamado Scala (eu o conheci quando morei em Natal em
1979, e ele me confirmou ser verdade). O craque foi interceptar uma jogada adversária
e a bola passou, bisonhamente, entre suas pernas, favorecendo um gol do
time contrário, e o locutor a plenos pulmões berrou: FALHA
MAGISTRALMENTE O SCALA !!!!
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