MÁRIO GOMES
POETA, SANTO E
BANDIDO
Dorian Sampaio Filho*


Ficou tudo acertado: a Fundação disponibilizaria
verba para fazer parte do pagamento e o poeta pagaria o restante. Lembro da
atitude positiva do Mário: “Dorian, você trata de receber da Fundação e deixa
que a minha parte eu garanto...”
Assim foi feito. Mário, passou a me visitar
diariamente, sempre trazendo uns trocados para abater a sua dívida, enquanto,
por outro lado, eu digladiava com os burocratas da Fundação para viabilizar a
verba prometida. Final das contas, saiu o livro “
Uma Violenta Orgia Universal – Antologia Poética de Mário Gomes (desaconselhável aos puritanos)”.

Uma Violenta Orgia Universal – Antologia Poética de Mário Gomes (desaconselhável aos puritanos)”.
O poeta, mesmo antes do lançamento de sua obra, já
havia cumprido a sua parte. Pagou tostão por tostão. Da Fundação Cultural de
Fortaleza, muito tenho a lamentar, até hoje não empenharam a conta do poeta...
Mário nos deixou no último dia de 2014. Agonizou onde
sempre brilhou, num banco da Praça do Ferreira. Marginalizado por uma sociedade
muitas vezes hipócrita, o andarilho, que um dia dominou as salas de aula como
professor de português, partiu deixando um rastro de dignidade.
Mário Gomes, embora maltratado pela dureza da vida
que escolheu, manteve até o fim a elegância do terno com lenço na lapela. Não
era um pedinte qualquer. Não mendigava. Aos mais próximos se dirigia para pedir
cigarro ou bebida com a atitude de quem cobra algo que a sociedade lhe usurpou.
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