AR COMPRIMIDO
Reginaldo Vasconcelos*
A Presidente Dilma Rousseff muitas vezes se
disse "estarrecida" com o discurso do seu principal adversário na última campanha
política. Mas ela estarreceu realmente a Nação ao declarar, da tribuna da ONU,
entre suas costumeiras platitudes tatibitates e truísmos tautológicos, que
aguarda o aparecimento de uma nova tecnologia capaz de armazenar ventos, a fim
de tornar mais regular a captação de energia eólica, que "cê joga de lá para cá, de lá para lá..." (sic).
Pessoalmente, não comungo com o espanto
nacional ante aquele raciocínio da Presidente, que guarda total coerência com a
prática política do Governo, refletida na retórica aérea de seus membros e de
seus muitos partidários. Então, para mim, é bastante compreensível que a tia do
Fome Zero e mãe do PAC – duas ventosidades governamentais petistas – acredite
poder ensacar ventanias algum dia.
Ora, está visto que, figurativamente, a
esquerda no poder vem armazenando ventos desde o seu primeiro mandato, inflando
bolhas quiméricas, engarrafando promessas gasosas, entubando minuanos fátuos, acumulando
aracatis imaginários pelos sertões – e é exatamente em função disso que presentemente
está colhendo tempestades.
A partir de Lula da Silva a diplomacia
brasileira se converteu em um notável armazém de brisas, em que se tentou
conter as aragens do progresso, recebendo também o fartum do atraso ideológico
e o miasma horrendo das ditaduras mundo a fora. Outro notável depósito de
ventos tem sido a pasta da economia do Governo, a enfunar índices falsos,
admitindo ar comprimido onde deveria haver recursos.
Por outro lado, puro bafo moveu a máquina
eleitoreira do petismo por doze anos, com bazófias e bravatas tocando as
ventoinhas da propaganda oficial, deblaterando que “nunca antes neste país” se
fizera algo de bom desde a descoberta de Cabral, apresentando seus feitos pífios como
pseudo-novidades, no formato variado das frágeis bexigas de aniversário.
Os "companheiros" do partido insuflaram os méritos
de um “pré-sal”, que rapidamente foi para a salga; imaginaram elevar com balões de gás hélio a
participação do País no concerto das nações; quiseram promover um agradável zéfiro político com a Copa do Mundo no Brasil, e produziram um ciclone
demolidor sobre as nossas finanças e sobre o nosso futebol – e, por fim, lançaram um simum de corrupção
que arrasou as grandes empresas estatais.
Aliás, foi sob o signo petista que os técnicos
brasileiros passaram a chamar os locais ideais para a instalação de parques
eólicos de “jazidas” de vento, palavra que indica algo dormente, parado, em
repouso, em depósito, que se aplica aos minerais ínsitos nas rochas, mas jamais
a correntes de ar, que são dinâmicas.
Por tudo isso, não é de estranhar que a Presidente
tenha feito um exercício de aeromancia no auditório das Nações Unidas para
prever que um dia teremos um grande estoque éolo sob a estrela do PT, para o
bem da humanidade.
Na verdade, Dilma ouviu o galo cantar sem
saber onde, e saiu cacarejando essa bobagem. Alguém lhe deve ter informado que
um consórcio de empresas norte-americanas do ramo da energia elétrica,
denominado Iowa Stored Energy Park, implantou um sistema misto de
produção de energia, eólica e pneumática.
Esse
sistema revolucionário usa o excedente de energia produzido nos períodos de
maiores ventos para acionar um compressor capaz de injetar ar no subsolo,
utilizado depois a força desse ar comprimido para mover turbinas complementares
de geração de energia, nos períodos de maior calmaria natural. Assim se armazena ar, uma tecnologia muito antiga. Armazenar ventanias, encontradas em jazidas, somente nessas cabeças de vento do Governo.
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