sexta-feira, 30 de outubro de 2015

CRÔNICA - Os Paramentos da Paixão

OS PARAMENTOS DA PAIXÃO
Assis Martins*


É difícil reger um Estado, sem dúvida. Muito mais custoso, no entanto, é dirigir um teatro! (Eduard von Bauernfeld, escritor austríaco. Viena, 13.01.1802 – Oberdöbling, 09.08.1890).

Os bastidores do teatro amador de Fortaleza, em décadas passadas, eram um mundo de episódios engraçados. Muitos casos já se incorporaram à história da Cidade e, repetidos, ganharam outras nuanças de geração a geração: histórias de porres monumentais, amores repentinos, separação surpreendente de sólidos casais etc.

A maioria desses eventos, no atual contexto, soa como bobagem, no entanto, para os padrões morais daquela época, era motivo de comentários maliciosos. Daí, qualquer asneira ganhava tons de importância e era acrescida de detalhes, quando passava de boca a boca.

Era comum, após a Semana Santa, os grupos de amadores mais importantes, como o TAF e o CTC, levarem a Paixão de Cristo para os palcos de cidades mais próximas de Fortaleza, como Palmácia, Acarape, Redenção, Baturité, São Gonçalo do Amarante. A divulgação do espetáculo era feita, normalmente, por meio de volantes impressos e também com uma ajudazinha do padre, que, nas missas, pedia o comparecimento dos fiéis “a esse evento de grande fé cristã”.

zebra maior foi naquele ano em que a montagem do Teatro de Amadores de Fortaleza iria a Icó, ensejando grande expectativa na cidade e nos atores. Seria, com certeza, uma grande bilheteria para amenizar as muitas despesas. 

O Juvenal, Cristo de muitos anos de janela, competência e aceitação, na véspera da viagem, resolveu sair do armário e se mandou com um grupo de teatro rebolado, para brilhar nas ribaltas do Sudeste.

Tremenda surpresa, temporada cancelada e a revolta do diretor, sem entender o motivo do Cristo trocar a coroa de espinhos pelo turbante da Carmem Miranda...


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