OS PARAMENTOS DA PAIXÃO
Assis Martins*
É difícil reger
um Estado, sem dúvida. Muito mais custoso, no entanto, é dirigir um
teatro! (Eduard von Bauernfeld, escritor austríaco.
Viena, 13.01.1802 – Oberdöbling, 09.08.1890).
Os bastidores do teatro amador de Fortaleza, em décadas passadas, eram
um mundo de episódios engraçados. Muitos casos já se incorporaram à história da
Cidade e, repetidos, ganharam outras nuanças de geração a geração: histórias de
porres monumentais, amores repentinos, separação surpreendente de sólidos
casais etc.
A maioria desses eventos, no atual contexto, soa como bobagem, no
entanto, para os padrões morais daquela época, era motivo de comentários
maliciosos. Daí, qualquer asneira ganhava tons de importância e era acrescida
de detalhes, quando passava de boca a boca.
Era comum, após a Semana Santa, os grupos de amadores mais importantes,
como o TAF e o CTC, levarem a Paixão de Cristo para os palcos de cidades mais
próximas de Fortaleza, como Palmácia, Acarape, Redenção, Baturité, São Gonçalo
do Amarante. A divulgação do espetáculo era feita, normalmente, por meio de
volantes impressos e também com uma ajudazinha do padre, que, nas missas, pedia
o comparecimento dos fiéis “a esse evento de grande fé cristã”.
A zebra maior foi naquele ano em que a montagem do
Teatro de Amadores de Fortaleza iria a Icó, ensejando grande expectativa na
cidade e nos atores. Seria, com certeza, uma grande bilheteria para amenizar as
muitas despesas.
O Juvenal, Cristo de muitos anos de janela, competência e
aceitação, na véspera da viagem, resolveu sair do armário e se mandou com um
grupo de teatro rebolado, para brilhar nas ribaltas do Sudeste.
Tremenda surpresa, temporada cancelada e a revolta do diretor, sem
entender o motivo do Cristo trocar a coroa de espinhos pelo turbante da Carmem
Miranda...
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