sábado, 10 de outubro de 2015

CRÔNICA - Septuagenário, Eu? (HE)

SEPTUAGENARIO,  EU?
Humberto Ellery*


Nem eu acredito, mas em pouco mais de trinta dias (1º de dezembro) estarei completando SETENTA ANOS! Tchan-tchan-tchan-tchan...

Não sei se é porque sou muito sadio (Deo gratias), mas a verdade é que não consigo perceber grandes diferenças em minha vida. O espelho, sim, esse percebe.

Mas, como as diferenças fisionômicas foram se estabelecendo lentamente, eu fui me acostumando.

No entanto há uns quatro ou cinco anos aconteceu um fato bem ilustrativo da passagem do tempo pela minha aparência.

Essa história começa lá pela década de sessenta. Eu era aluno do Colégio Militar quando namorei uma garota (Betinha), bem mais nova do que eu. Ela devia ter na época uns doze/treze anos – e era uma “gatinha”.

O namoro não prosperou justamente porque era “escondido”. Ela, muito novinha, era proibida de namorar, e dizia que se seus pais descobrissem ela levaria uma “pisa”, e ainda ficaria de castigo, sem poder ir às tertúlias (é o novo!).

Terminado o nosso love affair ela, algum tempo depois, passou a namorar com um grande amigo meu, com quem terminou casando e formando um casal muito feliz.

Permitam-me abrir dois parênteses:

a.          sempre namorei muito e sempre com moças muito bonitas, pois enquanto os homens se apaixonam pelo que veem (a beleza é fundamental), as mulheres se apaixonam pelo que ouvem, e o que me faltava em boniteza me sobrava em lábia, a infalível cantada;

b.         sempre dei muita sorte às minhas ex-namoradas que, invariavelmente, casaram com os namorados que me sucederam, formando belos casais, com cidadãos da melhor qualidade, e todos meus amigos (tem desembargador, médico, engenheiro, empresário, político, artista, todos bem sucedidos na vida), a falta de sorte sobrou toda para a minha querida Maria José, que me atura há quarenta e cinco anos.

Voltando à narrativa do fato acontecido, estava eu recentemente no velório de um querido amigo, precocemente falecido, e encontrei com o marido da Betinha.

Trocamos um fraternal abraço enquanto lamentávamos a morte de nosso amigo comum.

Nisso, aproximou-se de nós minha ex-namorada, quando seu marido resolveu nos “apresentar”. Com a voz sussurrante, em reverência ao ambiente de tristeza, ele disse:

– Betinha, este é meu grande amigo Ellery.

Ela me fitou meio sem acreditar e, evidentemente me confundiu com meu irmão, o Dudu, que é cinco anos mais novo do que eu, mas muito parecido comigo (sendo eu mais bonito).

Ela apertou minha mão e disse:

– Muito prazer. Seu nome é Ellery?

– Sim, respondi, sou o Ellery. Ao que ela retrucou:

– Eu namorei com seu irmão.

– Não, Betinha – disse eu – você namorou foi comigo.

Ela , perplexa, balbuciou:

– Tu és o Bebeto?

– Sim, Betinha, eu sou o Bebeto, quarenta anos mais velho.

Ela, meio sem graça, disse:

– Você está um pouco diferente...

Como estávamos na presença do seu marido, senti-me à vontade para ser galante e concluí:

Pois é, Betinha, mas você não mudou nada, continua jovem e bonita.

E eu não estava mentindo!


Nenhum comentário:

Postar um comentário