sexta-feira, 9 de outubro de 2015

APRECIAÇÃO LITERÁRIA - Náufragos do Porto (VM)


NÁUFRAGOS DO PORTO
Romance maior
de Ednilo Soárez
Vianney Mesquita*

Onde quer que haja prazer para vender, lá estarei para o comprar. (Oliver Goldsmith. YCondado de Longford, 10.11.1728 Londres, 04.04.1774).

Consoante a trilha da reflexão à epígrafe, não há, realmente, algo mais transitório do que o prazer, nem tão fugidio como a ventura de deparar uma distinta leitura, mormente quando esta se esconde do lugar comum, se esgueira do terra-a-terra e aporta, literalmente, ao cais da literatura de qualidade, na qual se distingue o escritor, bem ao sabor reflexivo do mestre da Academia Francesa, Georges Louis de Leclerc, Conde de Buffon, ao exprimir a ideia de que l’style cest l’homme même.

Tal sucedeu comigo, ao defrontar afortunadamente as 250 páginas dos originais de Náufragos do Porto, romance de colheita do intelectual coestaduano, imortal da Academia Cearense de Letras, Ednilo Soárez, festejado escritor, também, de Ramalho Ortigão – um Marco na Literatura Portuguesa e Desvendando a Ilíada, duas das obras, a igual de outras por ele produzidas antes e depois, muito bem recepcionadas pelos analistas dessa linha no Brasil, Portugal e nas outras sete nações lusófonas.

Praticamente de duas assentadas, me deliciei com seus teores, os quais, de tão singulares, bem urdidos e – impende expressar - sem analogia filial a quem quer que seja, haja vista o fulgor próprio da estrela do seu produtor, me conduziram ao seu remate em estação recorde. Tal o fizera na juvenília adulta (como procedi, muito depois, ao divisar a letra de muitos escritores cearenses), ao sofregamente deparar, por exemplo e dentre outros, os haveres literários de Machado de Assis, José de Alencar, Antero de Quental, A. J. Cronin, Ernst Heminguay e tantos outros próceres da inteligência literária internacional.

Por obséquio, não conclua o consulente a noção de que já o conduzo ao mesmo patim de produtores literocientíficos de tanta nomeada. Não dissimulo, todavia, a expectação de que o tempo – um rio de acontecimentos, uma caudal impetuosa, na intelecção do imperador do Lácio, Marco Aurélio – saberá distinguir Ednilo dos simples mortais, consoante operou, por via da pena refulgente de tantos críticos dignos de convicção, com suas leituras acerca, exempli gratia, de Linhares Filho, Francisco Carvalho, Sânzio de Azevedo, José Alves Fernandes, Nilto Maciel e Dimas Macedo – só para referir aos cearenses – hoje postados no panteão da imortalidade, em seara artística de excessivamente laboriosa operação, conforme sói ocorrer com o gênero tomado por Ednilo Soárez para esquadrinhar no âmbito de uma das seis artes.

Contar aqui as firulas e tiradas geniais do romance – literatura de operação custosa, máxime porque não pode guardar similitude com ninguém, quer em estilo, seja em enredo – não me compete, tampouco se concerta. Se desse modo agisse, significava surripiar o apetite do leitor, subtrair o hors d’oeuvre do consulente, a esta altura ávido por se alimentar do pão amanteigado deste romance, expresso com cuidado multiplicado, zelo elocutório de narração, lógica nas teceduras da estória, inquietação relativa à exatidão da língua, preocupação com a fidelidade ao patois portuário, com suas gírias e expressões peculiares, ao que se aditam providências outras admissíveis a um escritor da dimensão acadêmico-literária do autor deste livro.

Exorna, magistral e redundantemente, o todo do romance – pois, por si mesmo, basto em qualidade o verdadeiro estudo propedêutico que lhe houve por bem proceder a intelectual lusitana, doutora Teresa Martins Marques, adicionando bem mais valor ao recheio de uma estória já preenchida de aprestos intelectuais e artísticos, aliás inerentes a um romancista de dotes tão singulares, ao modo do Presidente do Instituto do Ceará – Histórico, Geográfico e Antropológico – Professor Ednilo Gomes de Soárez.

Fortaleza, outubro de 2015


*Vianney Mesquita é docente da Universidade Federal do Ceará. Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa e da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. Árcade Fundador-Imortal da Arcádia Nova Palmaciana, com o nome arcádico de Jovem Chronos.
Escritor e jornalista.



NOTA DO EDITOR:

Ednilo Soárez é um dos maiores intelectuais cearenses, e juntamente com o irmão Ednilton é continuador da obra do pai, o Dr. Edilson Brasil Soares, à frente do Colégio 7 de Setembro, entidade educacional tradicional de Fortaleza,  hoje também uma faculdade – a FA7. O Colégio 7 de Setembro está  completando 80 anos. Ednilo foi eleito e será empossado no próximo mês de novembro na titularidade da Cadeira de nº 9 da ACLJ.

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