NÁUFRAGOS
DO PORTO
Romance maior
de Ednilo Soárez
Vianney Mesquita*
Onde
quer que haja prazer para vender, lá estarei para o comprar. (Oliver Goldsmith. YCondado
de Longford, 10.11.1728 – †Londres,
04.04.1774).
Consoante a
trilha da reflexão à epígrafe, não há, realmente, algo mais transitório do que
o prazer, nem tão fugidio como a ventura de deparar uma distinta leitura,
mormente quando esta se esconde do lugar comum, se esgueira do terra-a-terra e
aporta, literalmente, ao cais da literatura de qualidade, na qual se distingue
o escritor, bem ao sabor reflexivo do mestre da Academia Francesa, Georges
Louis de Leclerc, Conde de Buffon, ao exprimir a ideia de que l’style cest l’homme même.
Tal sucedeu
comigo, ao defrontar afortunadamente as 250 páginas dos originais de Náufragos do Porto, romance de colheita
do intelectual coestaduano, imortal da Academia Cearense de Letras, Ednilo
Soárez, festejado escritor, também, de Ramalho
Ortigão – um Marco na Literatura Portuguesa e Desvendando a Ilíada, duas das obras, a igual de outras por ele
produzidas antes e depois, muito bem recepcionadas pelos analistas dessa linha
no Brasil, Portugal e nas outras sete nações lusófonas.
Praticamente de
duas assentadas, me deliciei com seus teores, os quais, de tão singulares, bem
urdidos e – impende expressar - sem analogia filial a quem quer que seja, haja
vista o fulgor próprio da estrela do seu produtor, me conduziram ao seu remate
em estação recorde. Tal o fizera na juvenília adulta (como procedi, muito
depois, ao divisar a letra de muitos escritores cearenses), ao sofregamente
deparar, por exemplo e dentre outros, os haveres literários de Machado de Assis,
José de Alencar, Antero de Quental, A. J. Cronin, Ernst Heminguay e tantos
outros próceres da inteligência literária internacional.
Por obséquio,
não conclua o consulente a noção de que já o conduzo ao mesmo patim de
produtores literocientíficos de tanta nomeada. Não dissimulo, todavia, a
expectação de que o tempo – um rio de
acontecimentos, uma caudal impetuosa, na intelecção do imperador do Lácio,
Marco Aurélio – saberá distinguir Ednilo dos simples mortais, consoante operou, por via da pena refulgente de
tantos críticos dignos de convicção, com suas leituras acerca, exempli gratia, de
Linhares Filho, Francisco Carvalho, Sânzio de Azevedo, José Alves Fernandes,
Nilto Maciel e Dimas Macedo – só para referir aos cearenses – hoje postados no panteão
da imortalidade, em seara artística de excessivamente laboriosa operação,
conforme sói ocorrer com o gênero tomado por Ednilo Soárez para esquadrinhar no
âmbito de uma das seis artes.
Contar aqui as
firulas e tiradas geniais do romance – literatura de operação custosa, máxime
porque não pode guardar similitude com ninguém, quer em estilo, seja em enredo
– não me compete, tampouco se concerta. Se desse modo agisse, significava
surripiar o apetite do leitor, subtrair o hors
d’oeuvre do consulente, a esta altura
ávido por se alimentar do pão amanteigado deste romance, expresso com cuidado
multiplicado, zelo elocutório de narração, lógica nas teceduras da estória,
inquietação relativa à exatidão da língua, preocupação com a fidelidade ao patois portuário, com suas gírias e
expressões peculiares, ao que se aditam providências outras admissíveis a um
escritor da dimensão acadêmico-literária do autor deste livro.
Exorna,
magistral e redundantemente, o todo do romance – pois, por si mesmo, basto em
qualidade – o verdadeiro estudo
propedêutico que lhe houve por bem proceder a intelectual lusitana, doutora
Teresa Martins Marques, adicionando bem mais valor ao recheio de uma estória já
preenchida de aprestos intelectuais e artísticos, aliás inerentes a um romancista
de dotes tão singulares, ao modo do Presidente do Instituto do Ceará –
Histórico, Geográfico e Antropológico – Professor Ednilo Gomes de Soárez.
Fortaleza,
outubro de 2015
*Vianney
Mesquita é docente da Universidade Federal do Ceará. Acadêmico Titular da
Academia Cearense da Língua Portuguesa e da Academia Cearense de Literatura e
Jornalismo. Árcade Fundador-Imortal da Arcádia Nova Palmaciana, com o nome
arcádico de Jovem Chronos.
Escritor
e jornalista.
NOTA DO EDITOR:
Ednilo Soárez é um dos maiores intelectuais cearenses, e juntamente com o
irmão Ednilton é continuador da obra do pai, o Dr. Edilson Brasil Soares, à
frente do Colégio 7 de Setembro, entidade
educacional tradicional de Fortaleza, hoje também uma faculdade – a FA7. O Colégio 7 de Setembro está
completando 80 anos. Ednilo foi eleito e será empossado no próximo mês
de novembro na titularidade da Cadeira de nº 9 da ACLJ.
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