EM CIMA DO VIADUTO,
de Cleto de
Castro
Vianney
Mesquita*
Não existe
romance mais lindo do que aquele que vive no silêncio da nossa alma e escrito
nas páginas da saudade. (ANTÓNIO POUSADA, escritor e padeiro
português. YParadela
de Guiães, 1903 - †São Paulo, 1973).
Dos gêneros mediante os quais o
artista nutre e propaga seu estro, no âmbito da Literatura, o romance é um dos
mais apreciados. Tal sucede, certamente, porque, em se cuidando de narração
mais ou menos longa, nele são traçados fatos imaginários, às vezes incitados
por ventos verdadeiros, cujo fulcro se pode encontrar no relato de aventuras,
no exame de costumes ou tipos psicológicos, na análise social ou em quaisquer
pretextos relevantes, ao ponto de se estabelecer uma peça interessante, que
conquiste a simpatia e o interesse do leitor.
Vários – e indispensáveis – são os
requisitos para um bom romance restar caracterizado, o mais relevante dos quais
desfecha na originalidade. Este escrevinhador, v.g., a despeito de haver publicado alguns trabalhos, no campo do
ensaio, na seara da crítica e na senda da prática religiosa católico-romana,
jamais venceu o temor de trazer à luz editorial uma composição gradeada pela
casta literária de narração romanesca. Isto, sempre, porque se achava parecido,
nalguns pontos da trama e do estilo, com romancistas que havia lido.
Talvez haja ocorrido essa
circunstância em virtude de pruridos de perfeição, os quais constantemente
tocaram sua exigente recepção de mensagens artísticas, mormente no que respeita
ao estado de originalidade, condição
literária que privilegiou para, de leve, proceder, neste passo, a breves
comentários sobre esta e o restante da produção desse político, vereador na
Cidade-Pátria (Palmácia-CE) do subscritor desta comentação (Cleto de Castro é
de Redenção-CE).
Não em raras ocasiões, este autor se
divisava perdoado da quiçá inocente parecença dos seus originais romanescos com
os de outrem, lembrando-se, até, da identidade estilística de Eça de Queirós,
no O Crime do Padre Amaro, Emílio
Zola, em Faute de l”Abbe Mouret;
senão também da comparação que costumava proceder, mostrando certa similitude
nas produções de A.J. Cronin, por exemplo, na A Cidadela, os estilos, as personagens e motivos de Sir Arthur Conan Doyle, por exemplo, n’As Aventuras de Sherlock Holmes; e as
irmãs Brontë – Anne, Charlotte e Emily – com pseudônimo dos Bells, Currer,
Ellys e Acton; e, por fim, ao confrontar Camões com Vergílio e Homero, Oliveira
Paiva com Aluisio de Azevedo ... e tantas outras colações empreendidas, até com
certa razão ao fazê-las, fim de inocentar-se, não de plágio, mas de contrafeições
elocutórias em que poderia incorrer sob influência de suas leituras.
Ex expositis,
conforme anunciado há pouco, são deixadas à parte,
intencionalmente, neste comentário as diversas exigências da escrita literária,
tantas de que a Teoria da Literatura faz divisão, com vistas a distinguir a originalidade.
É, pois, a circunstância mais ressaltada nesta obra cabalmente singular,
absolutamente original, do novel escritor, não só ainda feito promessa como
tal, porém efetividade tangível, que é o Sr. Cleto de Castro.
Sobra bem manifesto aqui, ao exigir a
instância de novidade para comentar, o fato de que no romance Em Cima do Viaduto, maiormente, porém,
na A Grande Viagem – texto que
acicatou o gosto deste cronista mais do que o seu produto ora referido –
configuram-se, em ambas, os requisitos da boa literatura, de sorte que,
privilegiando, neste lance, o aspecto de singularidade criadora, não significa
exprimir que o autor preteriu os demais, pelo contrário, os valorizou ao
extremo, porquanto bem calçado, incólume e intactamente, do pressuposto da raridade componente da trama, das
personagens, literatura e elocução.
Não esperem, agora, os leitores seja
aqui narrado o argumento desse interessante, inteligente, chocante trabalho de
Cleto de Castro, pois é vedado retirar do consulente a oportunidade de descobrir
a novidade, subtrair-lhe l’apéritif
composicional do Escritor, vitorioso no seu tentâmen beletrista, fagueiro no
batizado do seu novo livro, cerimonial de passagem de seu outro rebento, ávido
por quem lhe deslinde as urdiduras, sedento daquele que compreenda as
peripécias dos seus protagonistas e lobrigue nas entrelinhas os papéis de seus
figurantes menores.
Ao fazer a leitura, o consultante – quem sabe – depare o inesperado? Afinal de contas, os romancistas existem para
nos dizerem algo sobre os romancistas – evoca-nos Lord Chesterton. Podem ter a
convicção de que os bons terminam bem, ao contrário dos maus – eis o que são os
romances – na sentença de Oscar Wilde.
É possível adiantar a ideia de que, na
qualidade de leitor impertinente, a quem não é todo escrito que satisfaz, este
comentarista se regozijou com o exame dos dois romances, revisados do começo ao cabo,
impressionando-se com suas meadas perspicazes, teceduras consentâneas e
conducentes a um fim.
De tal modo, não é este Em Cima do Viaduto, como o anterior,
também, mero capricho de um estreante pressuroso para roubar a cena, afanoso
pelo prestígio público mediante uma produção medíocre, literatice de zoilos,
“artistas” deserdados das insinuações da anima,
falto da prontidão e destituído das emanações da arte.
Exatamente ao reverso desses maus
predicados, encontra-se Cleto de Castro, ao se deixar primeiro maturar, rolando
nos desvãos da vida, ao ralar no padecer do estudo, afanando-se, primeiro, na
dureza do trabalho, a fim de ajuntar razões e escapos, experiência e vigor
para, só depois, debutar, maduro e pronto, na seara literária, como tão bem o
fez com A Grande Viagem.
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ResponderExcluirExtraordinário.
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