SEM
LIMITES
E SEM
RESPEITO
Paulo
Ximenes*
Hoje, ouvindo programa de rádio da Rede
Bandeirantes, levado ao ar diariamente pelas manhãs, de que fazem parte o
jornalista, apresentador e radialista Ricardo Eugênio Boechat, o jornalista
humoristico José Simão, além dos colaboradores Eduardo Barão e Carla Bigato, fui
tomado por um sentimento de indignação – desses que assanham os brios de
qualquer patriota.
Eu ia dirigindo o meu carro, e, como de
costume, sintonizava aquela emissora – admirador que sou dos comentários
irretocáveis do Sr. Boechat, e do talento inegável do Sr. Simão – quando, de
repente, cai-me um fardo sobre a cabeça: Buemba! Buemba!
A dupla de radialistas, no afã de levar a cabo
alguns gramas de gracejos, resolveu fazer menção ao dia consagrado ao
Tiradentes, o nosso mártir da Inconfidência Mineira. E aí, o Sr. Boechat deu o
mote para uma piada.
“Uma estudante perguntou para outra se ela
sabia quem foi Tiradentes, ao que a outra respondeu: 'É um feriado!'” O Sr. José Simão aproveitou e emendou: “Um rapaz não sei de onde disse que
estava 'enforcado' nas Casas Bahia. E caíram todos em gargalhada”.
Eu lamento um deboche dessa magnitude, sem
limites e sem respeito. Isso é uma afronta aos descendentes do Alferes Joaquim
José da Silva Xavier, um desrespeito ao seu sofrimento ao cair nas cordas que
lhe ceifaram a vida. Uma achincalhação descompassada com aquele que realmente
enfrentou a própria morte para o bem-estar geral do País.
COMENTÁRIO
Louvável, por todos os títulos, o libelo de indignação
do poeta Paulo Ximenes, em favor do nosso grande mártir da Inconfidência,
glosado por radialistas em programa radiofônico humorístico.
Mas isso me lembra o dia em que encontrei
furioso o meu habitual garçom no Canecanto, o Bira, o qual tinha uma queixa moral a me
apresentar, contra um colega jornalista. Ele me aguardava no bar com uma edição
de jornal, que trazia a crônica intitulada “Todo garçom é ladrão”.
Assim que me sentei à mesa, o Bira, com o
jornal na mão, foi logo me abordando – Doutor, o senhor acha direito o sujeito
dizer isso no jornal contra a classe dos garçons?
Li a crônica, que contava o caso de um colega
do Bira que conquistou uma namorada, sem lhe revelar a verdadeira profissão. Foram
a um restaurante, e quando ao final veio a conta ela o advertiu: “Amor, confere
direito, que todo garçom é ladrão”.
Expliquei ao Bira (o qual, de tão revoltado, nem
lera a matéria) que não era o cronista que dizia aquilo, mas ele apenas estava narrando
uma história engraçada, que merecera aquele título. Ele então riu muito e
absolveu o articulista.
No caso presente, ao que me parece, Boechat e
José Simão estavam apenas evidenciando a falta de conhecimento dos jovens brasileiros sobre a História do Brasil, e
não debochando de Tiradentes – até pelo contrário, pois demonstravam e subliminarmente lamentando, por meio da comicidade, esteja este herói, hoje em dia, tão ausente da memória nacional.
Reginaldo
Vasconcelos
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