A RUPTURA
Rui Martinho Rodrigue*
Rupturas, tratando-se de sistemas políticos
acompanhados do respectivo ordenamento jurídico, são traumáticas. Evitá-las nem
sempre é possível. Há momentos em que o desgaste dos líderes, partidos e
instituições provoca o desmoronamento da ordem estabelecida. A Primeira
República caiu quando a chamada “política de governadores”, da aliança do “café
com leite”, conduzida por paulistas e mineiros, exauriu-se.
O gaúcho José Gomes Pinheiro Machado (1851 –
1915) tentou um remendo, reunindo os Estados de média importância, procurando
minimizar a exclusão do estrito círculo de mineiros e paulista. Veio a fratura
quando desacreditados os acordos; desmoralizada a Carta Política de 1891,
fortemente federalista; desgastados os líderes; ausente partidos autênticos;
economia rota e evidenciada a crise moral. A agonia foi lenta: evidenciada com
o assassinato de Pinheiro Machado, em 1915, teve o seu epílogo em 1930. A
ruptura foi traumática. Houve exilados, prisioneiros e até torturados, na conta
do “tenente” Filinto Müller (1900 – 1973). Vargas só assumia a paternidade do
que era bom.
O ciclo atual já nasceu claudicando. O
primeiro presidente eleito, Fernando Affonso Collor de Mello, foi destituído
via impeachment. A prosperidade vinda
de fora, decorrente do aumento do preço dos produtos primários exportados,
manteve a ilusão de que poderíamos aumentar indefinidamente os gastos públicos,
aumentando a carga tributária. Gastamos muito e mal. Tivemos o crescimento
exponencial da dívida pública enquanto tínhamos aumento de arrecadação e ainda
assim a infraestrutura de transporte e energia deteriorou-se juntamente com a
segurança pública e os serviços em geral. Findo o ciclo de aumento de preço dos
produtos primários exportados a crise econômica ficou evidente.
O mundo avançou no controle da corrupção.
Contas secretas nos paraísos ficais deixaram de ser secretas. Registros
indeléveis nos bancos, telefones e computadores em geral, aliados a presença
universal de câmeras guardando imagens, com o reforço do Direito Premial,
induzindo a colaboração de cúmplices, somados a ampla divulgação nas redes
sociais desmascaram líderes, desacreditaram partidos e abalaram os poderes da
República. Todos os escaninhos do Estado e da sociedade foram alcançados pelos
escândalos. O presidencialismo de cooptação, analogamente ao que aconteceu com
a “política de governadores”, encontra-se em estado terminal.
Rupturas são momentos de suma gravidade. Quando existem estadistas na ocasião, tornam-se oportunidades. Não parece ser este o caso do momento. A Netflix fez um seriado – mais documentário do que arte – descrevendo a degradação generalizada, com foco na Lava Jato. A síntese de tudo foi expressa com a palavra “mecanismo”. O mecanismo da política foi desnudado. É Crise. É impasse e oportunidade. Temos eleição. O que fará o Macunaíma? Teremos agonia prolongada ou ruptura, ainda que conduzida sem muita elegância.
Rupturas são momentos de suma gravidade. Quando existem estadistas na ocasião, tornam-se oportunidades. Não parece ser este o caso do momento. A Netflix fez um seriado – mais documentário do que arte – descrevendo a degradação generalizada, com foco na Lava Jato. A síntese de tudo foi expressa com a palavra “mecanismo”. O mecanismo da política foi desnudado. É Crise. É impasse e oportunidade. Temos eleição. O que fará o Macunaíma? Teremos agonia prolongada ou ruptura, ainda que conduzida sem muita elegância.
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