O VELHO E O NOVO
Rui Martinho Rodrigues*
O Estado patrimonial e burocrático, descrito
por Raymundo Faoro (1925 – 2003), assumiu a forma de presidencialismo de
cooptação. É uma forma degradada de coalisão.
Manuel Ferraz de Campos Sales (1841 – 1913),
presidente entre 1898 e 1902, comentando a chamada “política de governadores”,
disse que esta foi uma forma desvirtuada do que deveria ser uma política de
Estados, voltada para o fortalecimento da Federação.
O municipalismo enveredou pelo descaminho da
“prefeituralização”. Assistimos agora a mais profunda crise do modelo de
cooptação, a coalizão degenerada. Não temos uma fórmula nova.
A nossa República tem ciclos. A crise do
primeiro deles ficou evidente com o tenentismo, nos anos vinte. Entre a
Constituição de 1891 e o levante dos “18 do Forte Copacabana” (que não eram
dezoito, mas onze) e da Escola Militar de Realengo, em 1922, passaram-se trinta
e um anos.
A chamada “Revolução de 30” iniciou um ciclo
que começou a morrer a 29 de outubro de 1945, com a deposição do Presidente Vargas,
prolongando-se até o suicídio deste, a 24 de agosto de 1954. Durou 24 anos. A
Constituição de 18 de setembro de 1946 sobreviveu até 1967, chegando aos vinte
e um anos. O consulado militar durou vinte e um anos, entre 1964 e 1985.
Os ciclos se fazem presentes também nos
estados federados. O arranjo político liderado por Epitácio Pessoa (1865 –
1942), na Paraíba, pactuado em 1912, durou aproximadamente dezoito anos, indo
até 1930. No Ceará o poder aglutinado em torno do Comendador Nogueira Accioly (1848
– 1921) – a grafia do nome é objeto de divergência nas fontes históricas – prolongou-se
por dezesseis anos, de 1896 a 1912.
Temos ciclos com duração entre quinze e trinta
anos. O presidencialismo de cooptação, com base na Carta Política de 05 de
outubro de 1988, completou trinta anos e agoniza. O esquema estiolou-se.
Alianças consumadas, como a do candidato
Alckmin, ou tentadas, como as de Ciro Gomes e outros, envolvendo tempo de
televisão e cargos, já não valem os votos sonhados. Cooperativas de poder,
formada por lideranças estaduais, sob o rótulo de partidos, já não conseguem
harmonizar interesses.
Resulta daí a fórmula da “liberação” das
seções estaduais para a formação de alianças eleitorais. Nem para a eleição os
líderes chegam a um entendimento. A formação de uma base para governar será,
por certo, ainda mais difícil. Já há quem pretenda governar via entendimento
com as bancadas temáticas. Estas, talvez, se tornem embriões de estranhos
partidos.
Os veículos tradicionais de comunicação
social, as cooperativas de poder havidas como partidos, as lideranças
personalistas, as instituições dos Três Poderes estão todas desgastadas e desacreditadas.
A sociedade repudia os políticos, depois do
desmascaramento do mecanismo de cooptação, financiamento de eleições e formação
de patrimônio pessoal. Mas a política é complexa. O amadorismo não é mérito. O
quadro atual está à espera do novo, alheio ao esquema exaurido, ainda que
habite no espaço institucional desgastado. Praza aos céus que a emenda não saia
pior do que o soneto. O tempo tudo resolve, mas o trabalho do parto da História
poderá ser longo e dolorido.
Porto Alegre, 08 de agosto de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário