O PANORAMA ELEITORAL
Rui Martinho Rodrigues*
O quadro que se nos apresenta, no atual certame político,
caracteriza-se pela desagregação dos partidos, cujas lideranças estaduais fazem
alianças diversas dos acordos acertados entre os diretórios federais. As redes
sociais parecem constituir uma força mais poderosa do que se esperava, embora
ainda não se possa avaliar com segurança este aspecto.
Os meios tradicionais de
comunicação social parecem menos influentes, a julgar pelo resultado da recente
eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro, além de outros exemplos, inclusive internacionais. O financiamento provavelmente será mais curto e mais controlado
pelos donos dos partidos, uma vez que estes distribuem o financiamento público.
Agremiações e lideranças estão desgastadas pelos escândalos e pelo fracasso das
políticas executadas sob as bênçãos de líderes, partidos e especialistas.
Discute-se longamente a segurança das urnas eletrônicas sem o voto
impresso, estimulando vaticínios de questionamento da legitimidade dos
resultados da eleição. A segmentação do eleitorado geralmente destaca
diferentes níveis de escolaridade, sexo, idade e regiões do país. Os mais
escolarizados estão tendendo para o candidato mais repudiado pela “grande
mídia” e pelos intelectuais. Homens e mulheres revelam tendências mais
distanciada do que em pleitos anteriores. Os mais jovens surpreendem mostrando
receptividade sem precedentes ao candidato conservador. As regiões do país
continuam a manifestar a diferença de sempre.
Olhando para os mais destacados grupos da segmentação focada pelas
pesquisas, temos o agronegócio e os grupos religiosos mais avivados optando
majoritariamente pelo voto conservador. Funcionários públicos, sindicalistas,
corporações e os chamados “movimentos sociais” dividem-se entre o socialismo
eslavo e a social democracia. Militares e policiais parecem inclinados a apoiar
o candidato conservador. Os de maior renda tendem para a social democracia. Os
liberais dividem-se entre o apoio aos conservadores e a social democracia. Os
pobres, desesperados diante da criminalidade, dividem-se entre a tentação
clientelista e o voto conservador, com a promessa de política de segurança mais
enérgica.
Os candidatos já não conquistam tantos eleitores por falar bem ou
ter poderosas máquinas partidárias. As alianças partidárias e a experiência de
quem passou por cargos despertam desconfiança. O horário eleitoral está mais
curto e a campanha terá pouco mais de um mês. Tantas modificações nas diversas
variáveis produzem incertezas agravadas por investigações criminais e também
pela judicialização da política. O setor financeiro, mais sensível, mostra
nervosismo. Brasileiros de maior renda estão emigrando, fato incomum na
história das migrações. O Brasil tem medo tanto do novo como do velho, e ambos
poderão sair das urnas.
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