À LA RECHERCHE
DU TEMPS PERDU*
Humberto Ellery**
A nostalgia dos “velhos bons tempos”, que acomete as almas mais
sensíveis, nos legou – além da portentosa obra de Marcel Proust – centenas de
poesias e músicas como a singela canção “eu era feliz e não sabia”, do mestre
Ataulfo Alves.
Ultimamente, por conta da escalada da violência urbana e do exagero
de corrupção, a sociedade voltou os olhos com saudades para os “anos de chumbo”,
justamente porque durante os governos militares havia segurança nas ruas, e a
corrupção, que nunca deixou de existir entre os homens, era pontual, restrita a
uns poucos (que quando alcançados eram devidamente punidos), e se dava em um
nível, digamos, aceitável.
Antes de prosseguir devo deixar bem claro que sou Capitão-Tenente
da reserva (não remunerada) da Marinha, e meu pai, o General Humberto Ellery
foi, aqui no Ceará, um dos principais líderes do Contra-Golpe-Preventivo de
Março de 64, na brilhante definição do Coronel Jarbas Passarinho.
Para os comunistas que pegaram em armas com o objetivo de derrubar
o governo dos generais, e substituí-lo por uma “Ditadura do Proletariado” (e foram
rechaçados), realmente os anos foram de chumbo, pois, “quem com chumbo fere com
chumbo será ferido”.
Mas, para o povo, que presenciou o Brasil subir da 48ª economia do
mundo para a 8ª posição, aqueles foram anos de ouro. Foi o período da
modernização do País, com a criação do Banco Central, do Banco Nacional de
Habitação; com a instituição do FGTS; com a unificação dos Institutos de
Previdência; com o pleno emprego; com a implantação de uma formidável rede de
obras de infraestrutura, em estradas, energia, comunicações (fora o resto). De
85 para cá a única obra de infraestrutura importante foi o Plano Real,
maravilhosa realização da engenharia nacional, como acredita a Miriam Leitão.
Em meio a esse quadro de desesperança surgiu um “Salvador da Pátria”,
um Messias, o Deputado-Capitão Jair Bolsonaro. O “povão”, que de política só
entende o que assiste na TV, se deixar conquistar por um discurso tão
inconsistente e populista, tudo bem, mas o que dizer de chefes militares,
coronéis e generais? O que aconteceu com sua capacidade de avaliação, que não
percebem que se trata de um fanfarrão, incapaz de conduzir os destinos do
Brasil? Somos um País tão grande e complexo, que clama por um estadista, não
por um mito.
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Não pense quem ler essas palavras que detesto o Capitão, ou que o
acho um fascista. Não se trata disso. Não sou petista, nem socialista, muito
menos comunista (em suma, não sou imbecil). Tenho por ele até um grande
respeito por ser honesto, bem intencionado, defender os princípios morais
cristãos. A questão é que essas qualidades, que são necessárias, não são
suficientes a um chefe de Estado.
(...............................................................................................................................)
Encerrando, digo que não pretendo com esse arrazoado “fazer a
cabeça” de ninguém, não tenho guru nem pretendo sê-lo; inclusive, no momento estou
entre os indecisos (faltam quase 60 dias para a eleição, tenho bastante tempo
para fazer minhas análises). Vou escolher o candidato que melhor se mostrar
como liberal na Economia, conservador nos costumes, e que tenha um currículo de
realizações nesse sentido, para facilitar minha escolha.
* “Em busca de um tempo perdido” – Romance do escritor francês Marcel
Prust, escrito e publicado na primeira metade do Século XX.
COMENTÁRIO
O pontilhado entre
parênteses (segundo uma velha convenção literária) significa que em dois momentos
houve a supressão de alguns trechos do texto do impagável Humberto Ellery, que
o tornavam mais longo do que recomenda a Editoria. Mas, para fazer o meu
comentário, vou traficar o teor do que foi decotado, em formato de resenha.
Nos primeiros parágrafos
suprimidos o autor compara longa e sucessivamente Jair Messias Bolsonaro ao
General Ernesto Geisel, e ao General João Figueiredo, ex-presidentes da
República do Brasil, dos quais reconhece as virtudes, mas o faz apenas para anotar o
que nestes últimos considera defeitos, a fim de cotejá-los com os cacoetes morais de que presume ser o Bolsonaro portador.
Os outros tantos parágrafos
retirados do texto fazem uma devassa na vida pregressa do Capitão da Reserva que
encabeça a chapa à Presidência da República, e do General da Reserva Antônio Hamilton
Mourão, que na mesma chapa concorre a vice-presidente.
Ellery revela “partes” registradas contra eles, por seus superiores, em suas fichas militares, punições que teriam ambos sofrido por excessos verbais – no caso do Bolsonaro também por atitudes de caráter “sindical”, reclamando melhores salários, e uma suspeita de planejar uma insurreição interna de cunho “terrorista”, da qual o próprio Ellery diz que ele terminou absolvido.
Ellery revela “partes” registradas contra eles, por seus superiores, em suas fichas militares, punições que teriam ambos sofrido por excessos verbais – no caso do Bolsonaro também por atitudes de caráter “sindical”, reclamando melhores salários, e uma suspeita de planejar uma insurreição interna de cunho “terrorista”, da qual o próprio Ellery diz que ele terminou absolvido.
O maravilhoso articulista
entra em texto aludindo àquilo que a psicologia denomina “memória eufórica”, entrevista
na tendência saudosista de considerar que o passado era melhor (“não se fazem mais as coisas como antigamente”) – e a mim me parece que é o próprio Humberto Ellery que manifesta essa saudade, já que tece loas àquele período que ele chama “anos de ouro”. De forma alguma os sequazes de Bolsonaro querem voltar aos “anos de chumbo” – como se convencionou denominar aquele período sob o tacão de bota.
Não. Quem vai votar no Bolsonaro não vai fazê-lo numa perspectiva progressista, em face das subidas virtudes que presumam no “Mito”, em prol de uma nova ditadura. Ao contrário, Bolsonaro está se submetendo às eleições em um processo democrático, prometendo restaurar a autoridade pública, de forma republicana – tudo aquilo por que anseia o seu eleitorado.
Não. Quem vai votar no Bolsonaro não vai fazê-lo numa perspectiva progressista, em face das subidas virtudes que presumam no “Mito”, em prol de uma nova ditadura. Ao contrário, Bolsonaro está se submetendo às eleições em um processo democrático, prometendo restaurar a autoridade pública, de forma republicana – tudo aquilo por que anseia o seu eleitorado.
Sim. Votarão nele numa atitude defensiva,
considerando os vícios que sabidamente ele não tem – os vezos aéticos que são o
corolário da infecta política velha destes últimos 30 anos, baseada no estelionato eleitoral. Seus personagens são “sepulcros caiados” (de esquerda e de direita), que a Lava Jato exumou e
trouxe a lume.
Enfim, não se sabe se Bolsonaro chegará inteiro ao final do mês de outubro, pois até lá ele terá uma travessia dificílima, sem tempo de televisão e sem verba eleitoral, lutando contra a candidatura milionária e altissonante do matreiro Geraldo Alckmin, que está pronto para lotear a República com a sua coligação.
Além disso, a grande imprensa ataca o Capitão como uma alcateia que cerca e dilacera a sua presa – no momento, explorando o caso de uma senhora humilde que ele remunerava com a verba de seu gabinete, que orça em 400 mil reais, dos quais a metade ele poupa e reembolsa aos cofres públicos. Esse dispêndio de caráter alimentar de um pouco mais de mil reais mensais configura “delito de bagatela” – que pelo “princípio da insignificância” não tem nenhum valor jurídico.
Pessoalmente, como não há no horizonte o meu candidato ideal, quem quer que se eleja à Presidência da República em outubro me deixará apreensivo e não eufórico – mas também aliviado em relação aos 12 derrotados. Como dizia a minha avó, “eu troco um pelo outro e não quero volta”.
Enfim, não se sabe se Bolsonaro chegará inteiro ao final do mês de outubro, pois até lá ele terá uma travessia dificílima, sem tempo de televisão e sem verba eleitoral, lutando contra a candidatura milionária e altissonante do matreiro Geraldo Alckmin, que está pronto para lotear a República com a sua coligação.
Além disso, a grande imprensa ataca o Capitão como uma alcateia que cerca e dilacera a sua presa – no momento, explorando o caso de uma senhora humilde que ele remunerava com a verba de seu gabinete, que orça em 400 mil reais, dos quais a metade ele poupa e reembolsa aos cofres públicos. Esse dispêndio de caráter alimentar de um pouco mais de mil reais mensais configura “delito de bagatela” – que pelo “princípio da insignificância” não tem nenhum valor jurídico.
Pessoalmente, como não há no horizonte o meu candidato ideal, quem quer que se eleja à Presidência da República em outubro me deixará apreensivo e não eufórico – mas também aliviado em relação aos 12 derrotados. Como dizia a minha avó, “eu troco um pelo outro e não quero volta”.
Reginaldo
Vasconcelos
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