EDITORIAL
OS FATOS POLÍTICOS CONSOLIDADOS
O Brasil entra em processo eleitoral, no qual concorrerão 13 candidatos à Presidência da República, 341 ao Senado da República, 8.071 à Câmara Federal, 17.785 às Assembleias Estaduais e Distrital, e 193 aos Governos dos Estados.
Coincidentemente, o País vive neste momento uma profunda crise fiscal e o absoluto colapso dos estamentos policial, judiciário e penitenciário, criando um drama sem precedentes na Segurança Pública em todo território nacional, com o total descontrole do crime organizado – tráfico de drogas, facções criminosas e milícias, que estabeleceram um Estado paralelo no seio da República.
Esse dramático quadro administrativo também afeta outras áreas essenciais como a da Saúde, a da Cultura e a da Educação, com um grande déficit orçamentário e com diversas Unidades da Federação insolventes ou falidas.
Referido estado de coisas tem suas causas nos equívocos e desmandos das últimas gestões do Poder Executivo, nas esferas federal, estadual e municipal – bem como à péssima qualidade do Parlamento Brasileiro, nas legislaturas mais recentes, conforme se constatou na pantomima circense das votações no Congresso durante o impeachment da ex-presidente Dilma.
Do primeiro Governo Lula se esperava uma faxina moral no Poder Público, combatendo e corrigindo as tradicionais práticas antiéticas que já estavam naturalizadas na política brasileira, a começar por mandar investigar em profundidade as denúncias de compras de votos para a Emenda da Reeleição, no governo Fernando Henrique Cardoso – que lhe permitiu dobrar o seu patrimônio mandatício.
Então, enquanto ele implementava políticas sociais importantes, aproveitava as boas condições da economia naquele momento e ganhava popularidade interna e prestígio no concerto das nações, iniciou-se uma sequência de escândalos financeiros envolvendo integrantes dos vários partidos que compunham o seu Governo, episódios que, ao todo, contam-se em torno de cento e dez.
Mas as principais crises que Lula e seu partido enfrentaram foram o clamoroso assassinato de Celso Daniel, o escândalo dos bingos, envolvendo Waldomiro Diniz, assessor de Zé Dirceu, a quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa na CEF, por Antônio Palocci, o escândalo dos Correios, em seguida o Mensalão, denunciado por Roberto Jefferson, em que Lula alegou ter sido traído, mas não apontou e nem puniu os seus presuntivos “traidores”.
Houve em seguida o Caso Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, na sequência o Caso “Lulinha”, envolvendo a Gamecorp-Telemar. Também ocorreram o caso “dólares na cueca”, o escândalo das ambulâncias, o dossiê dos “aloprados”, e os casos Erenice Guerra e Rosemary de Noronha.
A despeito de todos esses fatos Lula dobrou o mandato e fez a sucessora, Dilma Rousseff, que trouxe para a vice-presidência, por duas vezes, Michel Temer, cujo partido tinha diversos quadros no Governo praticando ilicitudes – malfeitos mal feitos, que tanto se exacerbaram que se foram revelando.
Isso oportunizou que Temer assumisse o Governo quando, em função do “conjunto da obra”, mormente a rapinagem na Petrobrás e o mau uso do BNDES – que vieram a lume pela Operação Lava Jato – Dilma terminou sendo deposta – e depois o próprio Lula condenado e preso, na verdade em função de todo esse histórico que a sua trajetória descreveu.
De fato, os crimes de “pequeno potencial ofensivo” pelos quais os ex-presidentes petistas foram condenados representam apenas pretextos penais que o Ministério Público conseguiu articular juridicamente para, enfim, incriminá-los e retirá-los da política.

Alguns daqueles escândalos tiveram desdobramentos internacionais, outros contornos sangrentos, como no caso Celso Daniel. Bem como no apoio moral e financeiro a ditaduras de esquerda das Américas e da África, e a instituições irregulares e violentas como as FARC e o Estado Islâmico (com o qual Dilma pretendia ter diálogo).
AS CANDIDATURAS

Bolsonaro e Alckmin já com eleitorados sedimentados, e os outros dois, ainda viáveis, com números razoáveis nas pesquisas e com perspectivas de crescimento.
Bolsonaro é um ex-militar, parlamentar veterano e polêmico, que conserva a mentalidade que reinava no Mundo, até o final do Século XX, que ele considera virtuosa. Sua meta é restaurar os costumes, resgatando a família e a fé cristã; militarizar a educação e combater, em regime de “tolerância zero”, o crime de colarinho branco e as organizações criminosas nacionais, sob o slogan “direitos humanos para humanos direitos”.
É crítico do conceito modernoso do “politicamente correto” e da vigente hegemonia da “pós-verdade”, bem como de “movimentos sociais”, ONGs, sindicatos e partidos políticos que recebem apoio oficial e verbas públicas. E não nega suas posições nesse sentido, cônscio de que o seu eleitorado se compõe de uma grande massa que pensa exatamente como ele.
Nega a pecha de ser racista, homofóbico e misógino – para além dos limites pacificamente já entrevistos na vertente conservadora que defende. Promete formar uma equipe de governo apolítica e composta por notáveis, para cada uma das áreas técnicas em que confessa ser jejuno.
Alckmin e Ciro Gomes são homens intelectualmente mais preparados e politicamente mais experientes, ambos sem histórico de enriquecimento pessoal ilícito, porém, cada um à sua maneira, representando a velha política clientelista e de conchavos de que se pretende uma reforma profunda, da qual se fala há muito tempo e não se consegue implementar.
Tanto assim que Ciro e Alckmin lutaram entre si na pré-campanha pelo apoio do chamado “Centrão”, para uma ampla coligação de partidos, visando verbas eleitorais e tempo de televisão, em troca, obviamente, do loteamento da República. Alckmin levou a melhor.
Já Álvaro Dias, também um político profissional de absoluta ficha limpa e de larga e exitosa experiência em governança estadual, propõe o que ele chama de “refundação da República”, uma onda moralizadora em que todos os velhos vícios da nossa política seriam eliminados, e os potenciais do País melhormente aproveitados.

Todas as demais esquerdas estão concentradas na quimera de reeleger Lula da Silva, penalmente condenado e tecnicamente inelegível pela “Lei da Ficha Limpa”, que ele mesmo sancionou quando na Presidência da República – porém dono da simpatia e do voto de uma grande cópia de ideólogo marxistas, em seus diversos matizes, e da imensa “massa de manobra” que aqueles conduzem, por vias passionais ou fisiológicas.
Em não sendo possível que Lula da Silva participe do certame eleitoral, pelos impedimentos legais que o limitam – hipótese em que teria boas chances de vitória – ele tentará transferir seus votos, em alguma medida, para o ex-prefeito de São Paulo, o também petista Fernando Haddad, que nesse momento figura como o seu vice eventual.
NEUTRALIDADE INSTITUCIONAL
E RESPEITO ÀS DIFERENÇAS
A ACLJ, entidade cultural, que como instituição se mantém neutra no cenário eleitoral, sendo também uma casa jornalística, não pode deixar de considerar, de registrar e de analisar os fatos com imparcialidade e realismo, em momento tão agudo da nacionalidade brasileira – e é isso que justifica, neste momento azado, este Editorial.

Cada um desses acadêmicos, segundo a sua pessoal visão de Mundo, acredita piamente que o seu candidato representa a melhor opção para os destinos da Nação, orientado, por conseguinte, pelos mais nobres sentimentos.

Segundo o prestigioso pensador espanhol Ortega y Gasset “O homem é o homem e suas circunstâncias”. De fato, é inelutável: de suas circunstâncias, formadoras de suas convicções, ninguém se consegue libertar – a menos que novas experiências vividas, boas e más, façam-no evoluir para outros patamares.
Nessa
mesma linha defendia o filósofo francês Jean Paul Sartre, para quem – segundo o
imperioso instinto humano de autopreservação – cada opção que a
pessoa faz na vida, ainda que depois se revele errática, é sempre aquela que se
lhe afigura a melhor possível – diante das suas circunstâncias práticas e
psíquicas no momento decisório.
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