UM NOVO PRÉDIO
PARA PRÁTICAS ANTIGAS
Cândido Albuquerque*
Começo
a desconfiar de que o problema da política brasileira não esteja nas pessoas
que se candidatam, pedem votos e são eleitas, mas sim nos eleitores. Com
efeito, Brasil afora, políticos conhecidos pela prática de condutas pouco
recomendáveis são eleitos e reeleitos. Ou o problema estaria em nosso sistema
político?
Não sei ao certo, mas me preocupa a maneira fácil e repetida com que
aceitamos que os nossos políticos errem e repitam os erros, sempre em benefício
próprio. Só o fato de que os nossos parlamentares destinam milhões de reais
para as suas reeleições, através do imoral Fundo Partidário, sem qualquer
resistência dos eleitores, já é um indicativo muito ruim para a nossa imagem como
cidadãos.
Ocorre
que, pelo andar da carruagem, estamos mesmo perdendo o respeito. Pouco importa,
para os nossos políticos, o que pensamos, já que não somos capazes de reagir.
Pelos menos é isso que indica o anúncio (focus.jor.br) de que a Assembleia
Legislativa do Estado do Ceará, sem qualquer razão lógica ou razoabilidade,
esteja pretendendo construir mais um prédio.
De fato, salvo os mais de cinco
mil servidores que recebem dinheiro público, muitos sem cumprir uma carga
horária de trabalho regular, os demais cearenses, nos últimos tempos, passaram
a questionar o número de servidores lotados na nossa Assembleia Legislativa,
sendo certo que a maioria dos eleitores do Ceará não compreende as razões pelas
quais nosso Parlamento Estadual gasta milhões de reais para funcionar, quando
em países do Primeiro Mundo – podendo-se citar a Suécia como exemplo – os
parlamentos custam pouco e são eficientes. Aqui, apesar das mordomias e
privilégios, o nosso Parlamento notabilizou-se, com grave acentuação nos últimos
anos, pela facilidade com que se deixa cooptar pelo Poder Executivo, este
sempre prestimoso em conquistar deputados e bancadas.
Nossa
Assembleia já impressiona pelo tamanho e luxo de suas instalações. Há, ali, um
óbvio exagero no que diz respeito às acomodações físicas. Como se isso já não
fosse um desrespeito ao eleitor, responsável pelo custeio desse carrossel,
somos surpreendidos pela informação de que, ao custo de mais de vinte e cinco
milhões de reais, será erguido um novo prédio.
E tanto se dará sem que o
assunto tenha sido debatido ou mesmo exposto à sociedade com o objetivo de
explicar as reais necessidades dessa nova construção, quando se sabe que a
saúde e a segurança públicas do Estado estão à beira do caos, exatamente por
falta de recursos.
E mais, há menos de um ano essa mesma Assembleia golpeou a
sociedade ao lhe dificultar o acesso à Justiça com a aprovação de um projeto de
lei que decretou o fechamento de comarcas com o pomposo nome de “reunião de
acervos”, sob o argumento de que era preciso economizar.
O
desafio, agora, é fazer valer o peso da nossa cidadania e, pelas vias legais,
impedir a construção anunciada, notadamente às vésperas de um pleito eleitoral.
Não é, entretanto, uma tarefa que possa ser exercida por uma pessoa isoladamente
ou por um pequeno grupo de cidadãos. Exercitar a cidadania, em casos como esse,
reclama ação conjunta da sociedade, de modo a não deixar dúvidas quanto à
legitimidade das medidas implementadas, cada um agindo, na Justiça, nos meios
de comunicação e nas redes sociais como lhe parecer melhor. O fundamental é que
as ações sejam sinalizadas e multiplicadas de maneira objetiva, deixando clara
a desaprovação.
Não
podemos esquecer que no próximo dia 7 de outubro teremos mais um encontro
cívico com os nossos representantes, quando, então, eles estarão no “banco dos
réus” da cidadania.
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