sexta-feira, 10 de agosto de 2018

ARTIGO - Reencontro Benéfico (VM)


REENCONTRO BENÉFICO
Vianney Mesquita*



Na adversidade é que se prova a fidelidade dos amigos. (Nicolau MAQUIAVEL).



Na semana passada, dirigi-me à Av. Virgílio Távora, 999 – Fortaleza, a fim de bacorejar as temáticas de algumas produções librárias mais novas, por via da leitura de suas guarnições, em particular, aquelas relativas a apreciações literárias, notadamente obras de autores cearenses.

Ao escalar o derradeiro degrau daquela culta escada da famosa Livraria Cultura, deparei no cafezinho o meu amigo Prof. Dr. Francisco Auto Filho, a quem há muito não via. Com ele, tampouco, mantinha qualquer conversa, sequer por telefone ou correio eletrônico, palestra que me fazia bastante falta, pois estivera, então, abstido de suas tiradas racionais e doutrinações elevadamente pedagógicas, o que aprecio demasiado, máxime no terreno do comportamento cidadão no âmbito da vida em sociedade.

Intelectual de renome nacional, aggiornato ad oggi em relação a todas as modalidades informacionais, não apenas de Filosofia – substância que cultiva e transmite na Universidade – ele assim procede, pois intui que o saber parcialmente ordenado não é estanque, não é feito em pedaços e “pacotes”, distinguindo, pois, o fato de inexistir saber particular  (Non datur scientia de individuo), como já se descortinava  no âmbito da Escolástica de Alberto Magno e tantos outros sábios, ainda no momento bastante respeitada naquilo que o tempo, impondo naturalmente  outros pensares, não houve por bem falsear e desmanchar.

Por exatamente compreender que o todo individualizado é inexprimível (Omne individuum ineffabile), esse docente, filósofo, jornalista e erudito cearense demanda, nos livros e em todos os meios de propagação massiva – bem assim nas relações estabelecidas com pessoas e circunstâncias do trato social e intelectivo - apropriar-se do que é surgente em matéria de conhecimento, seja de que vertente for, a fim de cada vez mais se aparelhar para transferi-los a alunos e pares da Academia, no seu mister professoral de movimento contínuo e edificante.

De tal maneira, esse modo de proceder de Auto Filho durante o tempo em que não nos víamos foi tão efetivo que, pela própria conversa, notei com nitidez seus engrandecidos aprestos intelectuais, pois feriu temas, conquanto antigos, adornados com adendos provenientes de suas mais recentes observações e descodificações dos novos argumentos então divisados, de sorte a se ajuntar para cada vez mais enriquecer o conhecimento.

Cumpre-me exprimir a ideia de que, sobre ter sido de bastante agrado esse encontro, cresceu a admiração por sua pessoa, em razão, exatamente, de haver ocorrido uma mudança, para melhor, num diálogo diferente, fato que me faz evocar a ideação expressa pelo sábio da Escola Jônica, Heráclito de Éfeso (540-480 a.t.p.)**, para quem um homem não pode se banhar por duas vezes no mesmo rio, porquanto, no segundo ensejo, será outro o homem e outro ocorrerá de ser também o rio.

De tal modo, essa rentreé amistosa em mim redundou benéfica, ao operar imenso contentamento. Muito confortante é expressar-me assim... 



**Em razão de a ciência ser naturalmente laica, deixou-se de usar a expressão “a.C”. = antes de Cristo), passando-se a aplicar “a.t.p.” = antes do tempo presente.




COMENTÁRIOS

Embora dele já tenha ouvido falar – e muito bem – ainda não experimentei a amizade do Prof. Dr. Auto Filho. Conhecendo, entretanto, sobejamente, o Prof. Vianney Mesquita, cuja obra inteira já li e acompanho pari passu a sua literatura (vem aí seu livro número 21). Sou partidário da ideia de que quem sabe somente uma coisa não sabe essa coisa.

Aliás, parece haver sido Ruy Barbosa a dizer que “Quem sabe só Direito não sabe Direito”.

Admirável, pois, é o costume desse professor, comentado pelo Articulista, de selecionar suas leituras, tendo por escopo a diversidade temática, em respeito ao “desempacotamento” do saber. 

Assim é que o leitor enriquece cada vez mais seus cabedais, principalmente se vai este ser distribuído às mentes inteligentes da Universidade.

Louvo a ambos pelo descortino de “homo” realmente “sapiens”.

Régis Kennedy Gondim Cruz

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O douto professor Vianey Mesquita, em seu culto artigo da semana, publicado neste blog da ACLJ, narra, com alegria e acentuada dose literária, o reencontro com o também douto catedrático Auto Filho, de cuja amizade também tenho o sublime privilégio de privar.

O reencontro, ocorrido na Livraria Cultura, (doravante por mim denominada de “Farmácia Literária”), me permite inferir que o encontro entre esses doutores das letras, paralelo ao prazer da boa conversa entre velhos amigos, que havia tempo não se encontravam, foi regado a literatura, filosofia, sociologia e política.

Essa é a profilaxia para o tratamento da estagnação do pensamento, na busca pelo mútuo enriquecimento intelectual! Fica aqui o sentimento de frustração por não ter participado desse rico papo cultural, entre esses dois amigos meus, dois respeitados homens de letras.

Arnaldo Santos



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