VERÔNICA
Marcos
Maia Gurgel*
Verônica – do latim “vera” + do grego “eikôn”
= verdadeira imagem. Nome atribuído à mulher do povo que enxugou o rosto de Jesus,
gravando sua imagem em sangue no sudário.
Certos fatos nos chamam atenção de
forma diferente. Assim é que, em função da minha frequente estada em Limoeiro
do Norte nos fins de semana, em contínua assessoria que presto à Prefeita
Arivan Lucena, me acostumei a ver nas noites frias desta cidade uma “figura” que,
tangida pela necessidade, desenvolve um trabalho de forma altiva e brava, mas,
sobretudo, perigosa.
No silêncio da noite aquela figura
busca condições financeiras para o acalento dos filhos, que na manhã seguinte
precisam da mãe para a sua sobrevivência, já que o pai provedor não volta mais.
O galpão das frutas, o Mercado da
Carne, a Praça da Coluna da Hora, foram testemunhas do incansável e corajoso
trabalho do marido de Verônica – ela a figura referida.
O prematuro falecimento do marido
ocasionou o desequilíbrio emocional e financeiro da família. Quem poderia
substituí-lo, no atendimento das necessidades do lar, senão a própria esposa?
Jaleco nas costas, uma oração no
bolso, em cima de uma moto ainda não paga, deixada pelo marido, agora é
Verônica que vigia grande parte do centro da cidade. De início, o medo; com o
tempo, o amadurecimento e a conformação.
– Não haveria outra forma de criar meus filhos
– diz ela. Agora sou eu que digo: Verônica, Deus a está vendo, protegendo, lhe
dando força e saúde para que realize com êxito esse mister. Um dia o seu
trabalho será outro; você tem credenciais, é inteligente, é trabalhadora, é
experiente, e tem um diploma de professora.
E digo mais: Nós que estamos em
casa quando você está na rua, temos muito a agradecer, pelo risco que você
corre para que os que dormem estejam em paz. Você não é funcionária pública e
não tem patrão definido. Alguns comerciantes a gratificam, mas a sua vigilância
noturna serve à cidade inteira.
Quantos assaltos você já evitou?
Quantos favores você prestou noite adentro, levando recados, comprando
remédios? Por tudo isso, Verônica, aprendi a admirá-la e procurei me aproximar
de você.
Hoje, no dia internacional da
mulher, presto-lhe essa pequena homenagem, adjetivando-a de mulher sensata,
mulher destemida, mãe dedicada, filha bondosa. Tenho plena convicção de que
muitos limoeirenses que ainda não conhecem seu trabalho, mas que dele são
beneficiários, ainda vão lhe dizer: “Verônica, obrigado!”.
Rádio Educadora de Limoeiro do Norte
Dia Internacional da Mulher
08 de março de 2004
*Marcos Maia Gurgel
Odontólogo – Advogado – Poeta – Cronista
Membro Honorário da ACLJ
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