sábado, 7 de março de 2015

CRÔNICA (MMG)



VERÔNICA
Marcos Maia Gurgel*

Verônica – do latim “vera” + do grego “eikôn” = verdadeira imagem. Nome atribuído à mulher do povo que enxugou o rosto de Jesus, gravando sua imagem em sangue no sudário.

Certos fatos nos chamam atenção de forma diferente. Assim é que, em função da minha frequente estada em Limoeiro do Norte nos fins de semana, em contínua assessoria que presto à Prefeita Arivan Lucena, me acostumei a ver nas noites frias desta cidade uma “figura” que, tangida pela necessidade, desenvolve um trabalho de forma altiva e brava, mas, sobretudo, perigosa.

No silêncio da noite aquela figura busca condições financeiras para o acalento dos filhos, que na manhã seguinte precisam da mãe para a sua sobrevivência, já que o pai provedor não volta mais.

O galpão das frutas, o Mercado da Carne, a Praça da Coluna da Hora, foram testemunhas do incansável e corajoso trabalho do marido de Verônica – ela a figura referida.

O prematuro falecimento do marido ocasionou o desequilíbrio emocional e financeiro da família. Quem poderia substituí-lo, no atendimento das necessidades do lar, senão a própria esposa?

Jaleco nas costas, uma oração no bolso, em cima de uma moto ainda não paga, deixada pelo marido, agora é Verônica que vigia grande parte do centro da cidade. De início, o medo; com o tempo, o amadurecimento e a conformação.

 – Não haveria outra forma de criar meus filhos – diz ela. Agora sou eu que digo: Verônica, Deus a está vendo, protegendo, lhe dando força e saúde para que realize com êxito esse mister. Um dia o seu trabalho será outro; você tem credenciais, é inteligente, é trabalhadora, é experiente, e tem um diploma de professora.

E digo mais: Nós que estamos em casa quando você está na rua, temos muito a agradecer, pelo risco que você corre para que os que dormem estejam em paz. Você não é funcionária pública e não tem patrão definido. Alguns comerciantes a gratificam, mas a sua vigilância noturna serve à cidade inteira.

Quantos assaltos você já evitou? Quantos favores você prestou noite adentro, levando recados, comprando remédios? Por tudo isso, Verônica, aprendi a admirá-la e procurei me aproximar de você. 

Hoje, no dia internacional da mulher, presto-lhe essa pequena homenagem, adjetivando-a de mulher sensata, mulher destemida, mãe dedicada, filha bondosa. Tenho plena convicção de que muitos limoeirenses que ainda não conhecem seu trabalho, mas que dele são beneficiários, ainda vão lhe dizer: “Verônica, obrigado!”.

Rádio Educadora de Limoeiro do Norte
Dia Internacional da Mulher 
08 de março de 2004


*Marcos Maia Gurgel
Odontólogo   Advogado  Poeta  Cronista
Membro Honorário da ACLJ


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