segunda-feira, 16 de março de 2015

ARTIGO (RMR)

MAS SE ERGUES A CLAVA 
FORTE DA JUSTIÇA...
Rui Martinho Rodrigues*

A manifestação da Praça Portugal, em Fortaleza, neste 15 de março, caracterizou-se pela presença de homens grisalhos e senhoras de cabelos acaju; famílias inteiras levando crianças de colo e muita paz. Não se arrancou uma flor de um jardim. As cores eram o verde e o amarelo.

O Hino Nacional Brasileiro foi cantado por todos, com o devido respeito. A polícia não teve trabalho. Policiais não foram agredidos e por isso não usaram da força. Não se usou baixo calão. Não havia ali mercenário em busca de pecúnia, aguardando receber “quentinhas”, não havia “boiada cidadã”, tangida pelos “vaqueiros da cidadania”, profissionais do ativismo. Não eram pessoas disponíveis encontradas nas proximidades, pois domingo, sob o sol inclemente do meio dia não se encontram passantes disponíveis para permanecer sob o sol causticante de Fortaleza.


Os cabelos brancos e as famílias com suas crianças de colo atestavam a maturidade, a seriedade e a serenidade da manifestação. Não havia ali a expressão dos arroubos de juventude, embora não faltassem jovem entusiasmados. O que havia ali era a presença de uma cidadania madura, consciente, digna. O que motivava a multidão ali reunida eram os versos do hino entoado por todos:

Mas se ergues da justiça a clava forte/Verás que o filho teu não foge à luta/Nem teme quem te adora a própria morte.

A milícia da organização paramilitar convocada para reprimir a expressão da cidadania não intimidou aqueles que não fogem à luta quando se ergue a clava forte da justiça. Os ministros Teori Zavascki e Dias Toffoli precisam saber disso. O Senhor Rodrigo Janot também precisa atentar para esse fato. A clava forte da justiça, empunhada pelos que não fogem à luta, foi erguida.

Ao contrário das jornadas de junho, esta jornada de março não disparava reivindicações difusas. A pauta era única: fora Dilma, fora corruptos, fora PT e um sonoro basta! Partidos e sindicatos foram as grandes ausências. Sabiam, por certo, que seriam repelidos, o que evidencia a crise de representação da sociedade brasileira.

A oposição partidária esteve ausente, embora fosse um protesto especificamente contrário ao governo federal. Ao contrário do que defensores do governo andaram propalando sobre uma oposição “afoita”, o que se viu foi uma oposição omissa, cuja presença era indesejável por ser reconhecida como leniente diante das práticas dos governantes.

As alegações de golpismo foram desmentidas pelo espírito legalista de manifestantes ordeiros e pacíficos, pela ausência de conexões com supostas ambições oposicionistas. A manifestação não estava a serviço de ninguém além da defesa da probidade administrativa e das instituições republicanas.

A ausência de artistas, celebridades e de show desmente a hipótese de carnaval cívico, até pela presença das famílias e de idosos. Havia até um jovem tetraplégico acompanhado de familiares. As jornadas de março começaram como a mais autêntica, mais pacífica, a mais espontânea e a mais democrática de todas as manifestações de toda a história deste país. E também a mais consciente.


*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Titular Emérito de sua Cadeira de nº 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário