LARGANDO O OSSO
Reginaldo Vasconcelos*
Que
a gente soubesse, o destempero verbal era do outro, o ex-tudo Ciro Ferreira Gomes, que
após se projetar politicamente no atacado, se prejudicou no varejo, por falar
além do necessário, e sem aplicar a melhor razão às suas falas.
Mas
a genética não falha, de modo que as virtudes e os defeitos costumam ser
compartilhados por irmãos, em maior ou menor medida.
Ressinto-me,
sinceramente, e lamento, porque são de fato dois grandes e precoces talentos
políticos das plagas ceanrenses, que perdem reiteradas oportunidades de colocação no
âmbito nacional, por não conseguirem se libertar dos modos rudes de Seu Lunga, em
seu tosco palavreado nordestino.
Usos
jocosos que ficavam pitorescos no texto de um Pantaleão, que dão graça ao
personagem Didi Mocó, que marcam a irreverência do comediante Falcão, que caracterizam
uma Meirinha e uma Rossicléa, não têm cabida na verve de um tribuno federal.
Ciro,
então candidato muito bem cotado à Presidência da República, relacionado certa
vez ao político baiano Antônio Carlos Magalhães por um dos entrevistadores do
programa Roda Viva, da TV Cultura, reagiu com uma pérola da molecagem
alencarina: “Me compare com uma porca que
eu lhe dou os bacorinhos”.
Não
satisfeito, na mesma campanha, Ciro Gomes declarou a um repórter que a função
de sua então companheira era tão-somente “dormir com ele”. Por isso sofreu
injusto linchamento moral dos feministas de plantão, que pululam e varejam pelo
Brasil da “ponte aérea”. Perdeu fragorosamente a eleição.
Todos
sabemos que, no Ceará, quando se diz “dormir com o marido”, ou “dormir com a mulher”,
não se faz nenhuma referência velada à pratica do ato sexual, por mais que este
possa ser obviamente intuído, como o débito conjugal mais sacrossanto.
Entre
nós essa expressão se refere mesmo ao puro aconchego afetivo do casal, ao
companheirismo mais perfeito que os cônjuges podem ter, ao momento terno de
descansar e pernoitar juntos e efetivamente dormir lado a lado em seu leito de
casal.
Mas
o Ciro, que não policia a língua, não atinou para isso, e tentando isentar a
atriz Patrícia Pilar de sua atribulada vida pública, isentando-se, por seu
turno, da atividade artística dela, ao aplicar esse regionalismo alvar deu a
entender que a mulher amantíssima só lhe servia para o coito.
Agora
vai o recente Ministro Cid Gomes dizer verdades ácidas em um evento estudantil,
esquecido de que matos e paredes de hoje têm olhos e ouvidos, com escâncaras
para o mundo. Ficou assim prisioneiro das suas afirmações agressivas, colocando
em palpos de aranha o Governo a que servia.
Foi
então à Câmara Federal para pedir desculpas aos deputados ofendidos, mas levou
consigo um grupo de políticos cearenses, que por lá se comportaram como as
turmas de meninos do passado, que se reuniam para ir ao futebol, ou à praia, ou
à “tertúlia”, e para eventualmente brigar aos tabefes com a molecada de outro bairro.
Foi o caminho mais curto para adquirir, em apenas três meses, o honroso título de
ex-ministro.
“Partidos da situação têm o dever de ser de
situação, ou então larguem o osso!”. Essa é uma das frases lapidares pelas quais
Cid será nacionalmente lembrado para sempre. Melhor que fosse esquecido.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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