domingo, 22 de março de 2015

ARTIGO (RV)

LARGANDO O OSSO
Reginaldo Vasconcelos*


Que a gente soubesse, o destempero verbal era do outro, o ex-tudo Ciro Ferreira Gomes, que após se projetar politicamente no atacado, se prejudicou no varejo, por falar além do necessário, e sem aplicar a melhor razão às suas falas.

Mas a genética não falha, de modo que as virtudes e os defeitos costumam ser compartilhados por irmãos, em maior ou menor medida.

Ressinto-me, sinceramente, e lamento, porque são de fato dois grandes e precoces talentos políticos das plagas ceanrenses, que perdem reiteradas oportunidades de colocação no âmbito nacional, por não conseguirem se libertar dos modos rudes de Seu Lunga, em seu tosco palavreado nordestino.

Usos jocosos que ficavam pitorescos no texto de um Pantaleão, que dão graça ao personagem Didi Mocó, que marcam a irreverência do comediante Falcão, que caracterizam uma Meirinha e uma Rossicléa, não têm cabida na verve de um tribuno federal.

Ciro, então candidato muito bem cotado à Presidência da República, relacionado certa vez ao político baiano Antônio Carlos Magalhães por um dos entrevistadores do programa Roda Viva, da TV Cultura, reagiu com uma pérola da molecagem alencarina: “Me compare com uma porca que eu lhe dou os bacorinhos”. 

Não satisfeito, na mesma campanha, Ciro Gomes declarou a um repórter que a função de sua então companheira era tão-somente “dormir com ele”. Por isso sofreu injusto linchamento moral dos feministas de plantão, que pululam e varejam pelo Brasil da “ponte aérea”. Perdeu fragorosamente a eleição.

Todos sabemos que, no Ceará, quando se diz “dormir com o marido”, ou “dormir com a mulher”, não se faz nenhuma referência velada à pratica do ato sexual, por mais que este possa ser obviamente intuído, como o débito conjugal mais sacrossanto.

Entre nós essa expressão se refere mesmo ao puro aconchego afetivo do casal, ao companheirismo mais perfeito que os cônjuges podem ter, ao momento terno de descansar e pernoitar juntos e efetivamente dormir lado a lado em seu leito de casal.

Mas o Ciro, que não policia a língua, não atinou para isso, e tentando isentar a atriz Patrícia Pilar de sua atribulada vida pública, isentando-se, por seu turno, da atividade artística dela, ao aplicar esse regionalismo alvar deu a entender que a mulher amantíssima só lhe servia para o coito.

Agora vai o recente Ministro Cid Gomes dizer verdades ácidas em um evento estudantil, esquecido de que matos e paredes de hoje têm olhos e ouvidos, com escâncaras para o mundo. Ficou assim prisioneiro das suas afirmações agressivas, colocando em palpos de aranha o Governo a que servia.


Foi então à Câmara Federal para pedir desculpas aos deputados ofendidos, mas levou consigo um grupo de políticos cearenses, que por lá se comportaram como as turmas de meninos do passado, que se reuniam para ir ao futebol, ou à praia, ou à “tertúlia”, e para eventualmente brigar aos tabefes com a molecada de outro bairro. Foi o caminho mais curto para adquirir, em apenas três meses, o honroso título de ex-ministro.

Partidos da situação têm o dever de ser de situação, ou então larguem o osso!”.  Essa é uma das frases lapidares pelas quais Cid será nacionalmente lembrado para sempre. Melhor que fosse esquecido.


 *Reginaldo Vasconcelos
     Advogado e Jornalista
             Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ 

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