terça-feira, 10 de março de 2015

ARTIGO (PMA)

AMEAÇA PERMANENTE
Paulo Maria de Aragão*


O trânsito, no conturbado mundo moderno, continua sendo um dos grandes problemas deste novo século. Bens, integridade corporal e vida sofrem as maiores agressões. A solução é muito difícil. Em especial porque dias após dias, horas após horas, mais e mais automóveis deixam as linhas de fabricação e invadem as cidades. 

A morte vai, assim, ganhando velocidade. E apesar de termos um dos menores índices de automóveis per capita do mundo ocidental, atinge-se a maior porcentagens de desastres de tráfego. Segundo as estatísticas, a cada 52 minutos morre um brasileiro por acidente de trânsito causado pelo festival diabólico das rodas. Causaria, ainda, mais espanto se revelasse, além do número e da variedade de infortúnios, a quantidade de vítimas que ficam parcial ou totalmente inutilizadas.

A batalha nas ruas e estradas é intensa. Não se consegue eliminá-la, mas ao menos seria possível reduzi-la. De tão assustadora, já atrai participação da própria Igreja  tradicional norteadora das almas  hoje modernizada e preocupada também com o “corpus” dos fiéis, à mercê dos que fazem do volante uma arma e do acelerador um gatilho. São mais desumanos por trás do volante, esquecem a urbanidade, se fazem mais agressivos, insanos e indiferentes à vida e à sorte de indefesas vítimas.

Até o senso da previdência é afetado pelo automóvel, considerando que, a sociedade de consumo o colocou como produto aquisitivo de primeira ordem, capaz de dar novo status àqueles que saem das camadas inferiores. Casa própria, instrução, saúde, enfim, necessidades primárias são sacrificadas em seu nome. Há quem zele mais pelo carro do que pela família. Desse modo, se supõe um “deus” no volante, nutrindo empáfia, por força dos olhares de terceiros que o julgam um “poderoso”. Mas que nada! Não passa de um tolo que poderá em segundos ser mais um a compor o elenco dos extintos.

Alastra-se, dessa maneira, a guerra com sua legião de mortos, sequelados e criminosos anônimos, ante a leniência do Estado, estímulo à “execução” nas pistas de asfalto. Obriga-se o homem a adaptar-se a um fato incompreensível, conduzir-se a um progressivo desejo de superar a si mesmo para terminar, sombriamente, destruindo a si próprio e o semelhante pelo imperativo prazer de intemperança, veleidade da cupidez e despreparo produto  da sociedade comprometida com o “consumo”, tal qual se identifica.

* Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

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