AMEAÇA PERMANENTE
Paulo Maria de Aragão*
O trânsito, no
conturbado mundo moderno, continua sendo um dos grandes problemas deste novo
século. Bens, integridade corporal e vida sofrem as maiores agressões. A solução
é muito difícil. Em especial porque dias após dias, horas após horas, mais e
mais automóveis deixam as linhas de fabricação e invadem as cidades.
A morte vai,
assim, ganhando velocidade. E apesar de termos um dos menores índices de
automóveis per capita do mundo ocidental, atinge-se a maior porcentagens de
desastres de tráfego. Segundo as estatísticas, a cada 52 minutos morre um
brasileiro por acidente de trânsito causado pelo festival diabólico das rodas.
Causaria, ainda, mais espanto se revelasse, além do número e da variedade de
infortúnios, a quantidade de vítimas que ficam parcial ou totalmente
inutilizadas.
A batalha nas
ruas e estradas é intensa. Não se consegue eliminá-la, mas ao menos seria
possível reduzi-la. De tão assustadora, já atrai participação da própria Igreja – tradicional norteadora das almas – hoje modernizada e preocupada também com o
“corpus” dos fiéis, à mercê dos que fazem do volante uma arma e do acelerador
um gatilho. São mais desumanos por trás do volante, esquecem a urbanidade, se fazem
mais agressivos, insanos e indiferentes à vida e à sorte de indefesas vítimas.
Até o senso da
previdência é afetado pelo automóvel, considerando que, a “sociedade de
consumo” o colocou como produto aquisitivo de primeira ordem, capaz de dar novo
status àqueles que saem das camadas inferiores. Casa própria, instrução, saúde,
enfim, necessidades primárias são sacrificadas em seu nome. Há quem zele mais
pelo carro do que pela família. Desse modo, se supõe um “deus” no volante,
nutrindo empáfia, por força dos olhares de terceiros que o julgam um
“poderoso”. Mas que nada! Não passa de um tolo que poderá em segundos ser mais
um a compor o elenco dos extintos.
Alastra-se,
dessa maneira, a guerra com sua legião de mortos, sequelados e criminosos
anônimos, ante a leniência do Estado, estímulo à “execução” nas pistas de
asfalto. Obriga-se o homem a adaptar-se a um fato incompreensível, conduzir-se
a um progressivo desejo de superar a si mesmo para terminar, sombriamente,
destruindo a si próprio e o semelhante pelo imperativo prazer de intemperança,
veleidade da cupidez e despreparo –produto da sociedade comprometida com o “consumo”, tal
qual se identifica.
* Paulo Maria de Aragão
Advogado e professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ
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