GATO ESCALDADO
Reginaldo Vasconcelos*
A campanha política envereda agora pela exumação dos anos de
chumbo, repristinando os fatos dantescos da repressão política e do tenebroso
método da tortura, levado a cabo pelas Forças Armadas contra os revolucionários,
já há mais de meio século.
E a Rede Globo, fazendo a charanga dessa passeata, vai à frente,
tocando as cornetas e batendo o bumbo – inclusive contratando pesquisa
imbecil, de resultado óbvio, sobre se o povo prefere democracia ou ditadura –consultando ainda sobre o risco de quebra da democracia (aliás, utilizando erroneamente o termo “chance”, que indica um lance de sorte, ao invés de “risco”, que significa uma possibilidade infeliz).
Imagino que a causa dessa preocupação exacerbada seja o fato de que Bolsonaro
é militar da reserva, ter louvado a tortura na sua infância política, e, mais recentemente,
exaltado um coronel falecido tido como torturador – um ato impensado e desnecessário. Mas não é menos desarrazoado levantar essa lebre neste momento grave,
pois transcorre um processo eleitoral regular, dentro dos cânones republicanos e em normalidade absoluta.
Não há ameaça real de que se instale uma nova ditadura no momento,
e esse receio paranoico lembra o brocardo sobre o gato escaldado que cisma,
crispa e pula ao se defrontar com água fria.
Um levante militar ocorre em face de uma grande insatisfação popular, de ameaça ou iminência de anarquia institucional, de provocação aos brios militares – como aconteceu em 64 – e não pelo mero fato da eventual eleição de um egresso da caserna.
Esse risco de conflito se desenha na verdade a partir das declarações de militantes da esquerda, quando falam em exército campesino, em revolta armada, em derramamento de sangue, em uma boa espingarda e uma boa cova, que sua luta só terminará com Lula de volta no Planalto.
Em correspondência com o jornalista paulista Roberto Pompeu de Toledo, que mantinha um artigo regular na última página da Revista Veja, disse-lhe eu certa vez do risco de uma revolta militar contra o Governo Dilma Rousseff, cuja permanência ele defendia, manifestando-se contra o processo de impeachment.
Um levante militar ocorre em face de uma grande insatisfação popular, de ameaça ou iminência de anarquia institucional, de provocação aos brios militares – como aconteceu em 64 – e não pelo mero fato da eventual eleição de um egresso da caserna.
Esse risco de conflito se desenha na verdade a partir das declarações de militantes da esquerda, quando falam em exército campesino, em revolta armada, em derramamento de sangue, em uma boa espingarda e uma boa cova, que sua luta só terminará com Lula de volta no Planalto.
Em correspondência com o jornalista paulista Roberto Pompeu de Toledo, que mantinha um artigo regular na última página da Revista Veja, disse-lhe eu certa vez do risco de uma revolta militar contra o Governo Dilma Rousseff, cuja permanência ele defendia, manifestando-se contra o processo de impeachment.
E esse risco retornará, segundo penso, apenas no caso de a
regularidade deste processo eleitoral restar frustrada. E, nessa hipótese,
considero mesmo que o perigo seja enorme.
A revolução de 64 foi deflagrada porque havia corrupção generalizada no Governo e um movimento simpático à esquerda socialista, que na época florescia em outros países. Novamente, é apenas aí que mora o perigo.
A revolução de 64 foi deflagrada porque havia corrupção generalizada no Governo e um movimento simpático à esquerda socialista, que na época florescia em outros países. Novamente, é apenas aí que mora o perigo.
Sendo assim, quem quer manter a normalidade, eliminando o risco de
um novo surto autoritário, deveria esquecer o passado, sobre o qual celebrou-se ampla anistia, e defender que o processo
eleitoral termine sem grandes sustos e sem novos sobressaltos.
Jair Bolsonaro foi militar, e naturalmente se posiciona, de forma meramente retórica, a favor da sua grei, naquele período de conflito, de que não participou pessoalmente, e em
que, de lado a lado, houve atrocidades e mortes. Isso não significa, necessariamente, que pretenderia ele reeditar aquela
quadra deplorável, quando está submetendo seu nome a democráticas eleições.
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