PROMESSAS AMEAÇADORAS
Rui Martinho Rodrigues*
Promessas demagógicas podem ser cumpridas. Na véspera das eleições
municipais de 2012, o Brasil ouviu a notícia da redução das tarifas de
eletricidade. Era uma declaração demagógica. Muitos não acreditaram. Afinal,
quebraria o setor elétrico e inviabilizaria os indispensáveis investimentos na
importantíssima área. Mas a promessa foi cumprida.
As empresas do setor tornaram-se inviáveis. O erário, leia-se – o
contribuinte, supostamente beneficiado, ainda hoje está pagando a conta.
Políticas de preço tipicamente eleitoreiras, com resultados devastadores, não
são novidade. A Petrobrás sofreu muito mais vendendo combustível com prejuízo,
para esconder a inflação por algum tempo, do que com a roubalheira do Petrolão.
Agora testemunhamos novamente promessas ameaçadoras. O gás de
cozinha vendido por pouco mais da metade do preço atual é a mais chocante
delas. O mais grave é que o dito poderá ser cumprido, afinal preços artificiais
já foram praticados exatamente na área de energia, tanto no campo dos
combustíveis fósseis como na área da eletricidade.
A Petrobrás, que está se recuperando a duras penas, poderá ser
novamente atingida por mais uma manobra eleitoreira. Também já tivemos promessa
de governo de bonança, com crescimento econômico, sem necessidade de ajuste.
Isso se deu em fins de 2014.
Déficit e dívida não eram problema. Banqueiros não seriam sevados
com o pagamento de juros e o ajuste fiscal era desnecessário. No dia seguinte a
autora da promessa chamou um economista monetarista para fazer o “famigerado”
ajuste. A Presidente eleita prometendo bonança queria fazer crer que o
sacrifício era coisa do ministro e dos partidos da base aliada, ela e o seu
partido não tinham responsabilidade pelas práticas da economia ortodoxa.
A tal base aliada e o Ministro não aceitaram ser bois de piranhas.
A “nova matriz econômica” dizia que a solução era gastar, então, logicamente,
colaborar com o governo e a retomada do crescimento econômico seria fazer
“pauta bomba”. Deu no que deu.
Promessas ameaçadoras agora se repetem. Dizem que gênio é quem
aprende com os erros dos outros; inteligente quem aprende com os próprios
erros; quem não aprende nem com os próprios erros é burro. Parece que este é o nosso caso.
Milhares morrem no trânsito e em acidentes de trabalho. Mas não
aprendemos a trágica lição de prudência: continuamos sendo imprudentes nas ruas, como nas estradas, e negligentes no concernente aos procedimentos de segurança
do trabalho.
Karl Heinrich Marx (1818 – 1883) disse, referindo-se ao golpe
Bonaparte III (1808 – 1873), que a história só se repete como farsa ou como
tragédia. Nem sempre é assim. Temos agora a repetição de promessas que se
pretendem bondosas, mas cujos resultados serão devastadores, se concretizadas.
Já sabemos do que seus autores são capazes de fazer para ganhar eleição. Mas
não sabemos se a repetição, desta vez, é uma farsa ou será uma tragédia.
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