Mãos lavadas
Edmar Santos*
O segundo turno das
eleições para presidente do Brasil põe o povo brasileiro em um dilema: votar em
um lado que traz a sombra inapagável de um regime militarista que teve seus
traços violentos, porém, que trouxe algum avanço; ou do outro lado votar num
regime de liberalismo com pecha de libertino e viés comunista, mas que
conseguiu atrair a simpatia dos menos favorecidos, principalmente com as
políticas de assistência.
Deixem que o povo
decida, diria Pilatos, enquanto lavava suas mãos. No entanto, não há a quem o
povo martirizar dessa vez. Aliás, se alguém sofrerá martírio esse será o
próprio povo, a depender de sua escolha. Que cruz nos espera?
Entre a fogueira e a
fornalha, qual seria a melhor escolha? Avaliar as propostas vale muito pouco,
são pontos criados dentro de um planejamento da busca de poder. Ainda que se
possa utilizar para se fazer críticas e cobranças, pouco falam de quem os
propôs e de suas personalidades; certamente o período de propaganda política é
também insuficiente para embasar uma boa análise e escolha.
Não há mais tempo.
Uma moeda e duas faces, cara ou coroa você deve escolher. A proposta que tem o
pisar firme das botas militares ou a proposta que usa sandálias de retirantes?
Uma nação que se
propõe a ser grande não pode vislumbrar uma política que negligencie a
educação. A dificuldade de escolha está na dificuldade de discernimento, esse,
só se aprende com o tempo e com educação, que ensine a pensar e aprender. A
proposta que colocar segurança à frente de educação livre e eficiente é uma
enganação. Votem bem, não lavem as mãos para esse momento!
COMENTÁRIO
Absolutamente congruente o
tema abordado pelo nosso articulista, trazendo reflexão sobre o dilema do povo
brasileiro neste momento eleitoral. De um lado a esquerda, que conquistou o
poder e o manteve por longos 15 anos, até o colapso total de seu projeto, com a
prisão e a deposição de seus políticos.
Eleita sob a promessa de
corrigir os já conhecidos vícios éticos da direita, a esquerda, entretanto,
incorporou a suas práticas ilícitas, pela política de coalizão que praticou. Não promoveu de forma consistente a educação de qualidade e o emprego qualificado, e permitiu que o crime organizado criasse um Estado paralelo. Na verdade, só se tira o povo da pobreza ensinando o pescar, em vez de trocar peixe por apoio eleitoral.
Do outro lado temos a nova
direita, que exsurge agora como a solução final para os desvios gerais e os
delitos naturalizados por todas as bandeiras da velha política brasileira. Mas
entendo que não dá para lavar as mãos. É preciso enfrentar a realidade, e
assumir os riscos – e os riscos são enormes.
O nosso Edmarus Sanctorum não frisa que o
impasse se dá entre a certeza de uma política de esquerda fracassada, ainda
vigente sob um vice de sua escolha, e a dúvida sobre o compromisso democrático e a capacidade
administrativa da nova vertente, que prega, sem disfarces, o direitismo
extremado.
A simpatia das multidões de
pobres nordestinos – cada um, um voto – foi deliberadamente conquistada pela esquerda com a
criação de uma bolha de prosperidade, por meio de medidas assistencialistas e
expansão do crédito fácil, enquanto políticos ficavam ricos, os ricos ficavam
mais ricos, e o País quebrava, ao tempo em que se espoliavam as empresas estatais.
Também é preciso manter as
mãos sujas diante do fato de que o militarismo não é, necessariamente, sinônimo
de incompetência, de improbidade e de opressão. No mundo todo, da China aos Estados Unidos, os
militares são vistos como heróis da pátria, sempre dispostos a defender as leis
e o povo, se necessário com o sacrifício da própria vida, contra toda iniquidade.
Em país europeu vimos um idoso
ceder, espontânea e orgulhosamente, sua posição numa fila, a um jovem oficial. E
ninguém achou estranho.
Reginaldo Vasconcelos
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