quinta-feira, 11 de outubro de 2018

ARTIGO - Mãos Lavadas (ES)


Mãos lavadas
Edmar Santos*


O segundo turno das eleições para presidente do Brasil põe o povo brasileiro em um dilema: votar em um lado que traz a sombra inapagável de um regime militarista que teve seus traços violentos, porém, que trouxe algum avanço; ou do outro lado votar num regime de liberalismo com pecha de libertino e viés comunista, mas que conseguiu atrair a simpatia dos menos favorecidos, principalmente com as políticas de assistência.

Deixem que o povo decida, diria Pilatos, enquanto lavava suas mãos. No entanto, não há a quem o povo martirizar dessa vez. Aliás, se alguém sofrerá martírio esse será o próprio povo, a depender de sua escolha. Que cruz nos espera?



Entre a fogueira e a fornalha, qual seria a melhor escolha? Avaliar as propostas vale muito pouco, são pontos criados dentro de um planejamento da busca de poder. Ainda que se possa utilizar para se fazer críticas e cobranças, pouco falam de quem os propôs e de suas personalidades; certamente o período de propaganda política é também insuficiente para embasar uma boa análise e escolha.

Não há mais tempo. Uma moeda e duas faces, cara ou coroa você deve escolher. A proposta que tem o pisar firme das botas militares ou a proposta que usa sandálias de retirantes?



Uma nação que se propõe a ser grande não pode vislumbrar uma política que negligencie a educação. A dificuldade de escolha está na dificuldade de discernimento, esse, só se aprende com o tempo e com educação, que ensine a pensar e aprender. A proposta que colocar segurança à frente de educação livre e eficiente é uma enganação. Votem bem, não lavem as mãos para esse momento!




COMENTÁRIO

Absolutamente congruente o tema abordado pelo nosso articulista, trazendo reflexão sobre o dilema do povo brasileiro neste momento eleitoral. De um lado a esquerda, que conquistou o poder e o manteve por longos 15 anos, até o colapso total de seu projeto, com a prisão e a deposição de seus políticos. 

Eleita sob a promessa de corrigir os já conhecidos vícios éticos da direita, a esquerda, entretanto, incorporou a suas práticas ilícitas, pela política de coalizão que praticou. Não promoveu de forma consistente a educação de qualidade e o emprego qualificado, e permitiu que o crime organizado criasse um Estado paralelo. Na verdade, só se tira o povo da pobreza ensinando o pescar, em vez de trocar peixe por apoio eleitoral. 

Do outro lado temos a nova direita, que exsurge agora como a solução final para os desvios gerais e os delitos naturalizados por todas as bandeiras da velha política brasileira. Mas entendo que não dá para lavar as mãos. É preciso enfrentar a realidade, e assumir os riscos – e os riscos são enormes.

O nosso Edmarus Sanctorum não frisa que o impasse se dá entre a certeza de uma política de esquerda fracassada, ainda vigente sob um vice de sua escolha, e a dúvida sobre o compromisso democrático e a capacidade administrativa da nova vertente, que prega, sem disfarces, o direitismo extremado.

A simpatia das multidões de pobres nordestinos – cada um, um voto – foi deliberadamente conquistada pela esquerda com a criação de uma bolha de prosperidade, por meio de medidas assistencialistas e expansão do crédito fácil, enquanto políticos ficavam ricos, os ricos ficavam mais ricos, e o País quebrava, ao tempo em que se espoliavam as  empresas estatais.

Também é preciso manter as mãos sujas diante do fato de que o militarismo não é, necessariamente, sinônimo de incompetência, de improbidade e de opressão. No mundo todo, da China aos Estados Unidos, os militares são vistos como heróis da pátria, sempre dispostos a defender as leis e o povo, se necessário com o sacrifício da própria vida, contra toda iniquidade.

Em país europeu vimos um idoso ceder, espontânea e orgulhosamente, sua posição numa fila, a um jovem oficial. E ninguém achou estranho.

Reginaldo Vasconcelos
     


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