SÓ SE PODE VENDER
O QUE SE TEM
A OFERECER
Reginaldo Vasconcelos*
(02.10.18)
Estamos vivendo uma campanha política em que a mercadoria que se
oferece a granel é a mentira deslavada. O que cada candidato tem a oferecer é
aquilo que não é verdade, mas que eles acham – ou os marqueteiros lhes dizem –
que os eleitores vão comprar.
Os mais honestos até que começam a exibir suas virtudes verdadeiras, mas obviamente
omitindo os seus vícios, o que não deixa de ser uma forma de enganação e de
mentira que lhes encompridam os narizes.
Mas mesmo estes, no calor dos debates, não se furtam de tentar enganar
o público em relação aos contendores, falseando o que aqueles disseram,
descontextualizando suas palavras para vender a inverdade.
Porém, aqueles políticos e empresários condenados que celebram
acordo com o Ministério Público para delatar os seus comparsas, em troca de
sanções premiais, o fazem exatamente porque todo o seu estoque de mentiras
ficou encalhado, pois eles não conseguiram vende-lo na “feira” inquisitorial
ante a polícia.
Ora, se as mentiras de um réu não tiveram aceitação no “mercado” indiciário,
e não foram compradas pelos inquisidores, e em face desse mau negócio ele já
está condenado, resta-lhe então abrir o baú das verdades preciosas de que
disponha, e que o Parquê possa comprar.
Em suma, a única coisa que um delator premiado tinha para negociar era a verdade, mesmo sem provas, pois que não teria mais sentido vender mentiras
que os “compradores” vão escrutinar e não vão poder aproveitar – e isso seria
aprofundar a própria desgraça.
A conclusão do meu comentário é que não se pode acreditar no que os
candidatos dizem que são, que fizeram ou farão, tampouco se pode crer no que
afirmam não ser e não ter feito. Isso porque a mercadoria preciosa de que eles
dispõem para vender e nos oferecem é a inverdade.
Por outro lado, as delações premiadas não são somente vagos indícios
– diferentemente do que dizem os que são acusados, os
advogados deles, e alguns juízes vogais que advogam
tacitamente em favor dos seus criminosos estimados.
Essas delações não são mentiras utilitárias articuladas por maldade
ou vindita, mas são provas lógico-formais de alto valor, mesmo sem confirmação
material, simplesmente porque a única carta que os réus confessos têm na manga
para barganhar em seu favor é a verdade sobre os cúmplices. Nessa fase do jogo
da agonia os condenados já não têm o curinga da farsa em seu baralho.
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