terça-feira, 30 de outubro de 2018

ARTIGO - Uma Pedra no Meio do Caminho (RMR)


UMA PEDRA 
NO MEIO DO CAMINHO
Rui Martinho Rodrigues*


No meio do caminho havia uma pedra. Lembremos de Carlos Drummond de Andrade. Estamos testemunhando uma campanha eleitoral na qual os competidores se agridem e fazem promessas oferecendo vantagens e facilidades. Parecem ignorar as pedras do caminho. 

Não temos um Winston Churchill (1874 – 1965), admitindo francamente que só teremos sangue, suor e lágrimas. O estadista britânico vivia o início de uma guerra que seria longa e cheia de sacrifícios. Não estamos em guerra, mas temos uma profunda crise fiscal e uma demanda insatisfeita por pesados investimentos nas áreas de infraestrutura de transportes; saneamento; serviços de saúde; educação; segurança pública e serviços de toda espécie; sistema prisional; geração e transporte de energia; tudo que se pensar.

É pouco? Temos grandes desafios no campo político, com o Congresso dividido em trinta partidos, na próxima legislatura; temos uma guerra verbal dividindo profundamente o País. Corporações poderosas insistem em defender privilégios incompatíveis com os sacrifícios inevitáveis decorrentes do desequilíbrio das contas públicas.

A Espanha sepultou centenas de milhares de mortos em uma guerra civil, mas o Pacto de Moncloa (25 de outubro de 1977) fechou trincheiras, sarou feridas e abriu caminho para a construção do futuro. Não temos nada semelhante no horizonte. A situação internacional parece rumar para a instabilidade, com uma crise na Itália mais difícil de resolver que a da Grécia e uma guerra comercial entre as maiores economias do mundo, entre outras dificuldades. 


Não estamos isolados do mundo. Não vivemos uma guerra de fato, mas o desequilíbrio fiscal e as demandas insatisfeitas são desafios ciclópicos. Remédios amargos inevitáveis precisam de um entendimento semelhante ao pacto de Moncloa. Reformas da previdência, reestruturação tributária e reforma política não se tornarão realidade sem um mínimo de entendimento.

A campanha, porém, está semeando antagonismos, pedras no meio do caminho. “Nunca me esquecerei que no meio do caminho / Tinha uma pedra”, disse o Poeta Drummond. Temos pedras no caminho. Obstáculos devem ser contornados ou removidos, não agravados.



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