domingo, 28 de outubro de 2018

ARTIGO - O Brasil Está Dividido (CA)


O BRASIL ESTÁ DIVIDIDO
Cândido Albuquerque*


Essa frase passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros: o Brasil está dividido. Sim, está mesmo! Mas será que a divisão é apenas entre direita e esquerda, ou entre socialistas e liberais? Será que todos os eleitores do PT sabem mesmo o que é socialismo, e os do Bolsonaro o que é liberalismo? Será que quando um militante do PT chama alguém de “fascista” (antes era “burguês”, depois “elite”, mais adiante “coxinha”) ele o está “conceituando” ideologicamente ou apenas o identificando como não petista? 

Por outro lado, o que dizer dos que “conceituam” de “petista” ou de “esquerdopata” todo aquele que não adere às pautas ou à figura de Bolsonaro? O nível de intolerância, dos dois lados, chegou a tal ponto que já não se discutem os programas (quase inexistentes, é verdade). Os dois polos só se insultam mutuamente.

E o eleitor, o “homem comum”, aquele que não se acha protagonista, como está vendo a disputa eleitoral? Essa é a questão que precisa ser analisada. Em primeiro lugar, graças a esse “homem comum”, todas as previsões foram derrotadas, e de maneira indiscutível. O PSDB fechou largo arco de alianças, inclusive com o famoso Centrão, mas o resultado foi lamentável. É que o PSDB não combinou com o homem comum. O PT, para ficarmos apenas com os partidos maiores, manteve a candidatura do Lula na certeza de que, ao final, com o indeferimento da candidatura, os votos seriam transferidos para Haddad. Errou, porque não ajustou essa transferência com o “homem comum”.

De outro lado, o candidato de um partido nanico e sem estrutura eleitoral adequada, com um discurso radical, mas com fama de honesto e prometendo mudanças, começou a se comunicar e a representar o “homem comum”. Não os anseios desse homem, mas a sua indignação, a sua descrença com o atual sistema, inclusive o eleitoral, o qual, por exemplo, manteve o famigerado fundo partidário e as mais inimagináveis coligações.

Ao que penso, além da indignação com o histórico de corrupção que atinge muitos partidos e candidatos, e  da arrogância de alguns partidos – os quais institucionalmente tratam os eleitores como vassalos, vendo-os como incapazes de pensar – o nosso “homem comum” não aceita mais o “sistema político”, desenvolvido e mantido para agasalhar privilégios, mordomias e ineficiências. 

Nesse contexto, para a maioria está valendo mesmo um salto no escuro, a partir da esperança de que não haverá nada pior do que o cenário atual. Ou seja, o povo está dizendo não a esse sistema apodrecido, onde as oportunidades são manipuladas, onde a educação não passa de promessa, onde se produzem mais de sessenta mil homicídios por ano, onde a corrupção fez morada, onde os menos favorecidos morrem nos corredores dos hospitais, mas o Estado constrói prédios desnecessários e suntuosos e mantém rica frota de automóveis para o deleite de alguns servidores públicos. “Chega!”, diz o “homem comum”.  Ele quer mudanças, pensa que com os tradicionais elas não virão e, assim, resolveu apostar mesmo no desconhecido. Não o faz por irresponsabilidade, mas por desesperança com o que está posto. Como acreditar em políticos que ficam ricos durante o exercício dos mandatos?

Quem é esse homem comum? É você! Sim, você, que paga as contas em dia, suporta uma carga imensa de impostos, mas não recebe em troca saúde, educação nem segurança pública. E mesmo os que, de alguma forma, contracenam com o sistema, já não suportam mais os abusos dos que o controlam.

Ocorre, meu bom amigo, que com democracia e estado democrático de direito não se brinca. Se o povo tem o direito de mudar, a esse direito corresponde o dever de não aceitar retrocessos no processo democrático, na preservação da dignidade e dos direitos humanos. Assim, seja lá quem for o eleito, temos uma missão importante a desempenhar.




COMENTÁRIO

Gostei do Artigo “O Brasil está dividido” – do Cândido Albuquerque. Parabéns a todos...

Avila Ramos


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