ESQUECEMOS DO MUNDO
Rui Martinho Rodrigues*
A eleição nos fez esquecer tudo mais. O mundo, porém, é muito
importante para nós. Importamos as crises e a prosperidade, embora as nossas
importações e exportações sejam uma parcela pequena da nossa economia.
As grandes crises de 1898, 1929 e 2008 vieram de fora. A crise de
1929 derrubou todos os governos da América do Sul. A prosperidade também pode
vir de fora, como recentemente, quando as importações chinesas elevaram o preço
das nossas exportações, principalmente ferro e grãos.
Agora temos uma guerra comercial entre as duas maiores economias do
mundo, que já provocou a queda de meio por cento no crescimento da economia
chinesa. A China, maior destino das nossas exportações, caso tenha a economia
impactada pela guerra econômica com os EUA, causará forte restrição nas nossas
exportações e uma recessão mundial. A guerra comercial aludida certamente
afetará também os EUA.
A União Europeia (UE) está na iminência de uma nova crise. Desta
vez é a Itália, cuja economia é muito maior do que a da Grécia, mais difícil de
ser levado às costas. Os desentendimentos entre os estados membros da UE são
outra preocupação. O Reino Unido já resolveu sair. A participação do Velho
Continente no comércio mundial e particularmente nas nossas transações é enorme.
Uma crise europeia nos afetará duramente.
Argentina e Venezuela vivem crises profundas. A Arábia Saudita,
sacudida agora pelo assassinato de um jornalista no seu consulado em Istambul,
é a grande reguladora dos preços do petróleo. Sanções contra aquele reino árabe
causará um terremoto nos preços do petróleo, afetando as economias europeias, chinesa
e japonesa, que estão entre as maiores do mundo. Elas são os maiores
“entrepostos comerciais”. A própria economia saudita fragilizou-se. Suas trocas
internacionais são deficitárias.
A queda dos preços do petróleo, as despesas militares, em face das
guerras na Síria, no Iêmen, da ajuda ao Paquistão e da corrida militar com o
Irã, somadas ao assistencialismo com o qual o Riad conseguiu evitar a “primavera
árabe” em sua própria casa, criaram um déficit gigantesco. Sanções poderiam
abalar a estabilidade do regime que parece precariamente equilibrado. A queda
do trono provavelmente levaria a um período de desordem extremamente
prejudicial à economia mundial.
A “importação” de uma só crise na Argentina, Turquia, Rússia ou EUA
causou-nos forte impacto negativo. Uma crise simultânea nas maiores economias
do mundo seria muito mais impactante. Não estamos preparados para uma
tempestade perfeita no mundo. Temos uma boa reserva de divisas, mas carecemos
de capitais e tecnologias cujos fluxos seriam prejudicados em tal situação.
Temos uma grave crise fiscal. As exportações podem ser, junto com a atração de
investimentos, o caminho do crescimento, que contribuiria para a superação do
déficit fiscal e desemprego. A “importação” de uma crise agravaria negativamente
a nossa situação.
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