O MENINO E A PIPA
Martônio Vasconcelos*
Vou falar dos ventos, das monções,
Dizer loas das cousas, dos amigos,
Vou falar do passado e dos antigos
Dizer sobre raias e pipas, coisas vãs!
Passos vesgos de noites, das manhãs,
Fios longos que o tempo desfiou,
Feito em dias, pedaços e em louças
Na certeza perene: não passou...
Foi o tempo – aliás – d’outras melenas,
Que em paz transmudou minha estranha luz,
E as belezas que delas, bem malvadas,
Assim foram gravadas em tons azuis.
Foi assim que na pipa e no papel,
Esticando o papiro qual menino,
Consumindo das cores seus efeitos,
Consegui encontrar – meio sem jeito –
Meu espaço de homem, meu destino!
E, num dia quase sempre igual,
Acordei, na noite, estranhamente,
Com feição de levantar feito gigante
E novamente ir dormir como menino...
E a pipa, sábia e novamente livre,
Perdendo-se nas curvas do mar revolto:
Buscou
caminhos que só sabe solto,
E
outros tantos que só dela vive.
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