Aceita um café?
Edmar de Oliveira Santos*
Seis
da manhã, o fogão aquece um recipiente com água em ebulição que sopra um vapor
quente e faz soar um apito de seu bico esguio e torto. Enquanto isso, ao lado,
na mesa de madeira envernizada, rodeada por seis banquetas da mesma cor,
enquanto outro recipiente com a boca amordaçada por um saco espetado por duas
varetinhas; aguarda em silêncio o fim do soar agudo que vem do fogão.
O
saco de algodão é preenchido de café em pó que era preparado lá mesmo. O grão
havia sido torrado no tacho que ficava no quintal da casa, sobre uns tijolos
afastados pela lenha que queimava até que ficassem pretos como jabuticabas;
depois, amassados em um pilão de madeira. A água quente e vaporosa lavava o
café que escorria pelo saco ao fundo do bule, momento em que exalava o odor
intenso, que ao longe, convidava à degustação.
Essa
cena um tanto bucólica, e que nos aguça uma memória afetiva e nos remete aos
lares do campo ou de uma cidadezinha, por lá mesmo ficaram e, mesmo lá, já não
se aprecia tal dinâmica.
Não
é, em hipótese alguma, que o café tenha perdido sua importância. Pelo
contrário, ele até se avantajou no status
social. Prova disso é que, hodiernamente, faz parte da cena de reuniões
executivas importantes, preparado em máquinas eletrônicas, com roupagens em
sachês e sabores diferenciados com misturas e tric-trics.
A
sociedade brasileira, assim como a velha praxe de se fazer café, se transformou
de maneira tal, que os órgãos de nossos sentidos já não têm mais tempo para
apreciar tais minúcias deliciosas da vida cotidiana, que nos preenchiam o
tempo, nos embalavam a mente e as conversas em roda.
Infelizmente
vivemos o tempo da angustia existencial, onde só pensando na segurança que não
temos para viver, perdemos o hábito de parar e apreciar despreocupadamente um
cafezinho entre amigos. Restou-nos apenas a saudade!
COMENTÁRIO:
Realmente, saudades das farinhadas e dos “Beijus”,
nos fornos à lenha...
Marcos Teles
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