terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

CRÔNICA - Jogo de Botão (TL)


JOGO DE BOTÃO

Totonho Laprovitera*


Antes do offset, os jornais eram impressos no processo tipográfico e em procedimento de composição manual de seus textos. Para tanto, utilizava-se da linotipo, uma máquina com teclado, como a de escrever, que fundia em bloco de barra de chumbo cada linha de caracteres tipográficos. Depois, as matrizes eram devolvidas às suas caixas, para novo uso.

Falando nisso, na minha infância, lembro que uma vez eu fui bater no jornal O Povo, para pedir pequenas sobras de chumbo e usá-las como peso no goleiro, feito de caixa de fósforos, do meu time de futebol de botão.

Para fazer o tal goleiro, eu enchi a caixa de fósforos com chumbo, a enrolei com fita isolante – ou foi esparadrapo? – colei as figuras do escudo, foto e número, para depois cobri-la com durex. Assim, ficou pronto o meu goalkeeper pra entrar em campo e jogar!

– À gol.

– Preparado, pode chutar.

Chutou...

– Gol!

– Não, o goleiro defendeu!

O jogo de botão foi uma das brincadeiras que eu mais dei valor em minha infância e adolescência. Quando não jogava com alguém, eu jogava só, com direito a irradiar a partida e imitar com a boca a torcida, com sua charanga e fogos!

Pois é, dentre tantas partidas, copas e campeonatos, o que mais ganhei foram as infindáveis lembranças de tempos felizes que vivi no principiar da minha vida.





COMENTÁRIO:
  
Totonho Laprovitera, em sua ótima croniqueta, fala da feitura do goleiro de chumbo, mas não refere em sua narativa se seu time de botões era de osso, ou de plástico, ele que é bem mais jovem que nós outros.

Da minha geração em diante as matérias derivadas de petróleo substituíram as coisas de origem vegetal ou animal, dentre elas os pequenos discos de osso bovino que abotoavam as roubas e que depois eram convocados para o futebol de mesa.

Ainda um dia desses o sambista carioca Paulinho da Viola contou em documentário que no começo da fama foi visitado no camarim de um show por três jogadores do Vasco da Gama, o seu time do coração, os quais, por seu turno, tornaram-se seus fãs.  

Ao defrontar os ídolos, a única coisa que lhe ocorreu foi lhes revelar que eles emprestavam seus nomes a peças integrantes de sua equipe de botões – todos ósseos, certamente.

Por meu turno, também homenageio em crônica de 1993 o time de botões que possui na infância, pelos idos dos anos 60, falando do seu craque principal, o Índio, um verdadeiro Garrincha entre os meninos e ex-meninos do bairro, por seguidas gerações.

De todos os times de botões que a Cidade conheceu, o Índio foi o mais famoso jogador. Só se prestavam a esse jogo os botões de osso, sabe Deus por que. Talvez tivessem a lisura ideal e o peso suficiente, o fato é que hoje, com o advento do plástico, nenhum paletó poderia fornecer um atleta respeitável”. (Traços da Memória – Laços da Província)

Reginaldo.



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