A CEGUEIRA DOS PARADIGMAS
Reginaldo Vasconcelos*
Aos meus amigos, os Professores Rui Martinho
Rodrigues e Álder Teixeira, dois grandes pensadores, em opostas trincheiras ideológicas.
A
“cegueira dos paradigmas” se observa, por exemplo, na absurda resistência que
os agnósticos desenvolvem, mesmo entre os mais lúcidos, em relação à existência de Deus, que é
evidente.
Sem
Deus todos os valores humanos e postulados lógicos ruiriam, e a existência consciente
do próprio pensador perderia o sentido ontológico, porque o dom da consciência
individual, cerne da personalidade, é antagônico ao caos e à negação do anabolismo.
Mas
a cegueira dos paradigmas também se verifica na espantosa dificuldade que os
místicos encontram, ainda mesmo os mais cultos, em entender que Deus não tem um contorno
antropomórfico, nem uma essência antropanímica, que se enfurece e se aplaca,
que premia ou castiga.
Deus
se constitui apenas em um intuito universal energético que executa um grande
projeto lógico incognoscível, movendo uma imensurável mandala geométrica, do qual todas as
coisas da existência são fractais.
Todas
as coisas são partes imbricadas do grande processo divino, coisas
dentre as quais o ser humano é a única a se perceber e determinar, porque se
consegue comunicar consigo mesmo, através do pensamento, e com os demais, por
meio da palavra – e por isso tem a faculdade de se conectar com o Absoluto e
melhor evoluir no sintagma da existência – mas também de se desviar e
corromper.
A
conjectura humanitária desses mestres socialistas, convertida em um teorema brilhante, tentada na prática não resistiu à realidade. Mas, como se
estivessem dotados de antolhos filosóficos, os discípulos perseveram na
busca de uma abismal utopia – palavra do latim cuja tradução literal é “lugar impossível”
– a não ser no campo imaginário.
Defendem
esses pensadores que Álder Teixeira representa que “a esquerda é formada por aqueles que se preocupam
com os pobres”, enquanto “a direita seria composta por aqueles que defendem os
ricos” – definição pueril atribuída a Norberto Bobbio, apud Noam Chomsky – certamente encontrada em algum livro
infantil que este último cometeu, vertendo o fabulário das histórias
de Trancoso, que remete ao “tempo em que os bichos falavam”.
Sim,
porque no mundo adulto é o contrário: a esquerda é composta pelos que odeiam os
ricos, e a direita por aqueles que amam os pobres, dando-lhes empregos e recolhendo
tributos com os quais o Estado promove o bem comum. Notai, não é a pobreza,
mas a riqueza do livre mercado que produz em grande escala os alimentos, e as motocicletas, e os aparelhos celulares, cada vez mais baratos, a que os pobres têm acesso – e o fazem largamente.
O
grande mito das esquerdas é a de que a riqueza produz pobreza, ou que seja por
ela responsável. Não. A riqueza é reprodutiva e distributiva, de modo que na
verdade ricos e pobres são como o fio azul e o fio vermelho que juntos produzem
a luz da lâmpada. Fora disso é a escuridão. Fora disso é a miséria. É notar
que há desafortunados lugares no mundo em que somente existem pobres, mas não pode haver sociedade onde todos sejam ricos.
Ora,
de todas as qualificações imagináveis em relação ao ser humano, existem as
definitivas, como a dos euros e dos afros, dos nipos e dos cinos, bem como a dos componentes dos quatro ou cinco
gêneros sexuais atualmente admitidos – entretanto riqueza e pobreza são condições absolutamente circunstanciais e relativas.
O
conceito de pobreza e riqueza é relativo porque os pobres cearenses são ricos para
os pobres indianos, por exemplo, enquanto os ricos do Brasil são pobres ante os
sheiks do Catar. De outro lado, a condição financeira não deflui de um
determinismo do destino, e, em tese, não é definitiva nem estanque. Todos os descendentes dos
antigos ricos do Bairro Jacarecanga em Fortaleza estão hoje entre modestos cidadãos,
enquanto os atuais ricos da Aldeota foram pobres, ou de pobres descendem, há duas ou três gerações.
Sim.
As pessoas nascem belas ou feias, hígidas ou não, árabes ou nórdicas, e forçosamente assim o serão a vida toda, mas ninguém é condenado a ser pobre, nem proibido de ser
rico, a Deus querer. Tudo é uma questão de sorte e mérito. O resto se resolve
com as políticas humanitárias, as obras pias e as iniciativas caridosas. No
mais, tudo é paradigmática cegueira.
Então, como defender a classe dos que hoje são mas ontem não foram, e amanhã não serão mais? Lutando para que eles não sejam, para que outros venham a ser? Não. Somente o gênio individual e o trabalho coletivo, remunerado conforme o descortino e o desempenho de cada qual, eliminam a pobreza e produzem riqueza, o que não compete jamais a impraticáveis teorias messiânicas.
Então, como defender a classe dos que hoje são mas ontem não foram, e amanhã não serão mais? Lutando para que eles não sejam, para que outros venham a ser? Não. Somente o gênio individual e o trabalho coletivo, remunerado conforme o descortino e o desempenho de cada qual, eliminam a pobreza e produzem riqueza, o que não compete jamais a impraticáveis teorias messiânicas.
Tão
cegos são os esquerdistas brasileiros que, sendo eles mesmos geralmente pessoas honestas,
que ascenderam a boas castas sociais pelo estudo e pelo trabalho, pela sorte e pelo mérito, no entanto
desprezam as questões éticas e morais em favor de seus estalões imaginários.
Insistem
eles em que Lula da Silva foi o mais virtuoso presidente do País, “a viva alma mais honesta do Brasil”, em virtude
de ter continuado, mantido e aprofundado programas sociais – entretanto
esquecendo-se de que sob seu comando houve Waldomiro Diniz, André Esteves, Daniel Dantas, Antônio Palocci, José
Genuíno, Delúbio Soares, João Vacari Neto, Henrique Pizzolato, Sérgio Sombra, José Dirceu, Sérgio Cabral, dentre
outros “aloprados” e “cuequeiros” em geral.
SHOW TUBE BRASIL
Sob
o poder de Lula nos veio Dilma, e com ela Temer, chefe do enclave peemedebista
no Governo, do qual faziam parte Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique
Eduardo Alves e quejandos, gente que quase quebrou a Petrobrás, e assaltou outras estatais por meio dos cargos que indicavam –
e quanto a isso não há dúvida, porque muitos confessaram, delataram os outros,
indicaram as contas, devolveram dinheiro.
Então,
como o Lula pode ser essa maravilha de pessoa e de político? Aliás, ele mesmo um
belo exemplo de “mobilidade social” – embora sendo um péssimo exemplo de
enriquecimento ilícito, já que era um nordestino paupérrimo e enriqueceu de repente a sua
prole, ele próprio tentando ocultar patrimônio mal havido, como a polícia
revelou.
Lula
e Dilma não marcaram sua passagem no poder com grandes obras que promovessem o
progresso do País (ao contrário do que fizeram os governos militares) – até porque estiveram preocupados em dotar outras nações de
estradas e portos construídos com recursos brasileiros, geralmente ditaduras
bananeiras sul-americanas e da África, todos mancomunados com grandes empreiteiros.
Mas,
ainda que lhes demos o crédito de terem incrementado políticas sociais já
existentes – o Bolsa-Família em continuação ao Bolsa-Escola; o Minha Casa Minha Vida inspirado na velha COHAB; o FIES
dando sequência ao Crédito Educativo – e dessa forma granjeado eleitoreira simpatia popular, entretanto nada disso justifica terem se aliado
ao que havia de pior na política brasileira – de Sarney a Collor, de Jucá a
Calheiros, de Barbalho a Maluf – quando foram eleitos sob a promessa de combater a corrupção.
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