sábado, 24 de fevereiro de 2018

ARTIGO - A Cegueira dos Paradigmas (RV)


A CEGUEIRA DOS PARADIGMAS
Reginaldo Vasconcelos*



Aos meus amigos, os Professores Rui Martinho Rodrigues e Álder Teixeira, dois grandes pensadores, em opostas trincheiras ideológicas.



A “cegueira dos paradigmas” se observa, por exemplo, na absurda resistência que os agnósticos desenvolvem, mesmo entre os mais lúcidos, em relação à existência de Deus, que é evidente.

Sem Deus todos os valores humanos e postulados lógicos ruiriam, e a existência consciente do próprio pensador perderia o sentido ontológico, porque o dom da consciência individual, cerne da personalidade, é antagônico ao caos e à negação do anabolismo.

Mas a cegueira dos paradigmas também se verifica na espantosa dificuldade que os místicos encontram, ainda mesmo os mais cultos, em entender que Deus não tem um contorno antropomórfico, nem uma essência antropanímica, que se enfurece e se aplaca, que premia ou castiga.

Deus se constitui apenas em um intuito universal energético que executa um grande projeto lógico incognoscível, movendo uma imensurável mandala geométrica, do qual todas as coisas da existência são fractais.

Todas as coisas  são partes imbricadas do grande processo divino, coisas dentre as quais o ser humano é a única a se perceber e determinar, porque se consegue comunicar consigo mesmo, através do pensamento, e com os demais, por meio da palavra – e por isso tem a faculdade de se conectar com o Absoluto e melhor evoluir no sintagma da existência – mas também de se desviar e corromper. 

Mas Rui Martinho Rodrigues alvejou em seu mais recente artigo deste Blog o específico fenômeno dos ideólogos doutos que continuam perseguindo um intangível arco-íris, contra todas as evidências mais solares de que não é viável o éden social que seus mentores intelectuais conceberam e propalaram.

A conjectura humanitária desses mestres socialistas, convertida em um teorema brilhante, tentada na prática não resistiu à realidade. Mas, como se estivessem dotados de antolhos filosóficos, os discípulos perseveram na busca de uma abismal utopia – palavra do latim cuja tradução literal é “lugar impossível” – a não ser no campo imaginário.

Defendem esses pensadores que Álder Teixeira representa que “a esquerda é formada por aqueles que se preocupam com os pobres”, enquanto “a direita seria composta por aqueles que defendem os ricos” – definição pueril atribuída a Norberto Bobbio, apud Noam Chomsky – certamente encontrada em algum livro infantil que este último cometeu, vertendo o fabulário das histórias de Trancoso, que remete ao “tempo em que os bichos falavam”.

Sim, porque no mundo adulto é o contrário: a esquerda é composta pelos que odeiam os ricos, e a direita por aqueles que amam os pobres, dando-lhes empregos e recolhendo tributos com os quais o Estado promove o bem comum. Notai, não é a pobreza, mas a riqueza do livre mercado que produz em grande escala os alimentos, e as motocicletas, e os aparelhos celulares, cada vez mais baratos, a que os pobres têm acesso – e o fazem largamente.

O grande mito das esquerdas é a de que a riqueza produz pobreza, ou que seja por ela responsável. Não. A riqueza é reprodutiva e distributiva, de modo que na verdade ricos e pobres são como o fio azul e o fio vermelho que juntos produzem a luz da lâmpada. Fora disso é a escuridão. Fora disso é a miséria. É notar que há desafortunados lugares no mundo em que somente existem pobres, mas não pode haver sociedade onde todos sejam ricos.

Ora, de todas as qualificações imagináveis em relação ao ser humano, existem as definitivas, como a dos euros e dos afros, dos nipos e dos cinos, bem como a dos componentes dos quatro ou cinco gêneros sexuais atualmente admitidos – entretanto riqueza e pobreza são condições absolutamente circunstanciais e relativas.

O conceito de pobreza e riqueza é relativo porque os pobres cearenses são ricos para os pobres indianos, por exemplo, enquanto os ricos do Brasil são pobres ante os sheiks do Catar. De outro lado, a condição financeira não deflui de um determinismo do destino, e, em tese, não é definitiva nem estanque. Todos os descendentes dos antigos ricos do Bairro Jacarecanga em Fortaleza estão hoje entre modestos cidadãos, enquanto os atuais ricos da Aldeota foram pobres, ou de pobres descendem, há duas ou três gerações.
                   
Sim. As pessoas nascem belas ou feias, hígidas ou não, árabes ou nórdicas, e forçosamente assim o serão a vida toda, mas ninguém é condenado a ser pobre, nem proibido de ser rico, a Deus querer. Tudo é uma questão de sorte e mérito. O resto se resolve com as políticas humanitárias, as obras pias e as iniciativas caridosas. No mais, tudo é paradigmática cegueira.

Então, como defender a classe dos que hoje são mas ontem não foram, e amanhã não serão mais? Lutando para que eles não sejam, para que outros venham a ser? Não. Somente o gênio individual e o trabalho coletivo, remunerado conforme o descortino e o desempenho de cada qual,  eliminam a pobreza e produzem riqueza, o que não compete jamais a impraticáveis teorias messiânicas.

Tão cegos são os esquerdistas brasileiros que, sendo eles mesmos geralmente pessoas honestas, que ascenderam a boas castas sociais pelo estudo e pelo trabalho, pela sorte e pelo mérito, no entanto desprezam as questões éticas e morais em favor de seus estalões imaginários.

Insistem eles em que Lula da Silva foi o mais virtuoso presidente do País, “a viva alma mais honesta do Brasil”, em virtude de ter continuado, mantido e aprofundado programas sociais – entretanto esquecendo-se de que sob seu comando houve Waldomiro Diniz, André Esteves, Daniel Dantas, Antônio Palocci, José Genuíno, Delúbio Soares, João Vacari Neto, Henrique Pizzolato, Sérgio Sombra, José Dirceu, Sérgio Cabral, dentre outros “aloprados” e “cuequeiros” em geral.




SHOW TUBE BRASIL



Sob o poder de Lula nos veio Dilma, e com ela Temer, chefe do enclave peemedebista no Governo, do qual faziam parte Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e quejandos, gente que quase quebrou a Petrobrás, e assaltou outras estatais por meio dos cargos que indicavam – e quanto a isso não há dúvida, porque muitos confessaram, delataram os outros, indicaram as contas, devolveram dinheiro.

Então, como o Lula pode ser essa maravilha de pessoa e de político? Aliás, ele mesmo um belo exemplo de “mobilidade social” – embora sendo um péssimo exemplo de enriquecimento ilícito, já que era um nordestino paupérrimo e enriqueceu de repente a sua prole, ele próprio tentando ocultar patrimônio mal havido, como a polícia revelou.

Lula e Dilma não marcaram sua passagem no poder com grandes obras que promovessem o progresso do País (ao contrário do que fizeram os governos militares) – até porque estiveram preocupados em dotar outras nações de estradas e portos construídos com recursos brasileiros, geralmente ditaduras bananeiras sul-americanas e da África, todos mancomunados com grandes empreiteiros.   

Mas, ainda que lhes demos o crédito de terem incrementado políticas sociais já existentes – o Bolsa-Família em continuação ao Bolsa-Escola; o Minha Casa Minha Vida inspirado na velha COHAB; o FIES dando sequência ao Crédito Educativo – e dessa forma granjeado eleitoreira simpatia popular, entretanto nada disso justifica terem se aliado ao que havia de pior na política brasileira – de Sarney a Collor, de Jucá a Calheiros, de Barbalho a Maluf – quando foram eleitos sob a promessa de combater a corrupção.

É bom lembrar que por salvar a vida da moça que se afogava no oceano, mesmo assim o herói não adquire o direito de logo após seviciá-la. O PT não salvou a Pátria, e ainda estuprou as suas finanças.



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