sábado, 17 de fevereiro de 2018

CRÔNICA - Mulher no Espelho (EOS)


Mulher no espelho
Edmar de Oliveira Santos*



Toda mulher é mais ou menos narcísica. Prova é que observar uma mulher frente ao espelho é muito interessante. Um foi feito para o outro; à moda daqueles pares que, por tanto combinarem-se, servem até de inspiração para músicas, do tipo: “como a camisa e o botão; Romeu sem Julieta; sou eu, assim sem você!”

No entanto, como todo bom relacionamento, muitas vezes vemos um conflito aqui e ali, quando um ou outro, só de birra, causa uma chateação em seu parceiro.

Assim, o espelho, sempre mantendo um absoluto silêncio, como um sábio estoico que se julgava imune ao infortúnio, permite que sua parceira se auto-aprecie, proferindo monólogos analíticos de sua beleza que, quando se acha realmente bela, em nada agradece ao parceiro que lhe reflete, sequer tem o cuidado de lhe passar a velha flanela.

Ao contrário, se ele lhe revela a imagem de algumas protuberâncias celulíticas, estrias ou varizes, logo lhe direciona frases características de discussões de relacionamento, as velhas “DR”, tipo: “Odeio esse espelho!”

Mas se sabe que um não vive sem o outro. Ora, eles até se perseguem pelas ruas e bares, lojas e supermercados, sendo fácil vê-los um frente ao outro em toda parte. O espelho é mesmo paciente e apaixonado, não cansa de replicar a imagem de sua parceira, quer onde ela esteja.

Já a mulher em sua complexidade, o a pequena, sem medir as consequências, só para que caiba em sua bolsa para continuar a trazê-lo sempre consigo.

Eis que em seus caminhos, um terceiro lhes aparece: o tempo. Este os cerca e os impacta por toda a vida, como querendo mostrar que um dia se cansarão um do outro. O espelho, envelhecendo, se enche de manchas, que vão lhe diminuindo o poder de reflexão; a mulher vai enrugando a pele, os contornos se perdem na flacidez, cabelos embranquecendo, a beleza se esvanecendo.

Mas o tempo, por mais incisivo que seja, não consegue lhes tolher a vontade de estar um de frente ao outro, ainda que para comprovar a velhice e lembrar-lhes dos tempos em que ambos, cada um de a sua maneira, brilhavam!


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