segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CRÔNICA - Necessidade Moral (HE)


NECESSIDADE
MORAL
Humberto Ellery*



A propósito da discussão sobre o Auxílio-Moradia pago aos juízes e procuradores, mesmo residindo no município em que exerçam suas funções, em casa própria, (inclusive em duplicidade, no caso dos cônjuges terem também esse “direito”), lembrei do meu pai, o General Humberto Ellery.

Falecido em 1993, o General Humberto Ellery  foi Vice- Governador do Estado do Ceará, de 1966 a 1971, quando do Governo de nosso estimado amigo Plácido Castelo.

No início dos anos noventa, acompanhado de minha mãe Ilay, ele seguiu para Curitiba, onde eu residia, para um breve período de convivência com o filho, a nora e os netos.

Um belo dia, enquanto conversávamos, recebemos um telefonema de Fortaleza. Era minha irmã Angelina, que “administrava” sua vida financeira, pedindo que ele transferisse alguma quantia para fazer uns pagamentos.

Para quem vivia com a aposentadoria de General de Brigada, “meu velho” tinha uma vida financeira muito controlada, pois, ao contrário do que muita gente pensa, a aposentadoria dos militares não dá para qualquer extravagância.

Assim, perguntei a ele por que não tinha requerido a “aposentadoria” decorrente de ter exercido interinamente a governadoria do Estado. Respondeu-me com uma pergunta: “Meu filho, você acha que eu teria direito ao salário de governador, por ter exercido a função por tão pouco tempo?”. Respondi que o direito existia, visto que era assegurado por lei.

Não foi surpresa para mim sua resposta. Como eu já esperava, ele retrucou dizendo que “podia até ser legal, mas não era moral”.

Aí, para reforçar minha argumentação, lembrei-me do ex-Governador, Coronel Adauto Bezerra, nosso amigo – inclusive ex-aluno do meu pai quando cadete – um homem riquíssimo, banqueiro, entre outras atividades empresariais.

Eu disse, então:

– Pai, todos os ex-Governadores recebem, inclusive o Coronel Adauto.

Gozador como era, meu pai fez um ar compungido e, suspirando, encerrou o papo dizendo:

– É. Mas o Adauto precisa.

Caímos todos na gargalhada, e até hoje eu rio quando me lembro desse fato.


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