segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

ARTIGO - Talvez em Nome do Povo (AS)



Talvez em Nome do Povo
Arnaldo Santos*



Este título tomei emprestado do livro recém-publicado pelo Professor Doutor Rui Martinho Rodrigues, para trazer à reflexão o acordo político com o Senador Eunício Oliveira, Presidente do Senado Federal, com vistas às próximas eleições. 

Alinhavado pelo governador Camilo Santana e corroborado pelo ex-governador Cid Gomes, referida aliança, de tão pragmática, desorientou a oposição e produziu divergências, até no interior do grupo que apoia o Governador. 

O presidenciável Ciro Gomes, e o deputado federal André Figueiredo, presidente estadual do PDT, que fazem parte da aliança, reiteradas vezes, reverberaram contra esse arranjo eleitoral, com críticas nem um pouco lisonjeiras.

Por mais contraditório que nos pareça o tal acordo (e o é), sobretudo quando se examinam as relações de hostilidades entre o Senador e os irmãos Gomes, deve ser lembrado o fato de que acordos da espécie a História nos legou uma penca, cada um mais esdrúxulo do que o outro.

Na República Velha, por exemplo, é emblemática desta realidade a política do café com leite (1898/1930), como ficou conhecido o combinemos engendrado pelas oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, com o Governo Federal, para que os candidatos a Presidente da República, durante aquele período e de modo alternado, fossem escolhidos entre os políticos desses dois Estados. 
Histórica e contemporaneamente, no acordo entre PSD e UDN, na política do nosso terreiro, que ficou conhecido como União pelo Ceará, (1962), corria até sangue entre esses dois partidos, e essa combinação resultou na escolha, pelo voto, do Governador Virgílio Távora, com vistas a pacificar o Estado.

Mutatis mutandis, paixões, motivações e interesses à parte, uma aliança na perspectiva de um acordo é um pacto entre as partes envolvidas objetivando a construção de fins comuns; e esses arranjos são da essência política, em qualquer democracia. Adversários de ontem, por mais hostis que tenham sido, em uma determinada conjuntura, representam apenas o mal menor. Na política não há espaço para virtuosos.  

Em sã consciência, ninguém pode obscurecer a projeção do Senador Eunício Oliveira, no cenário político nacional, pela posição que ocupa.

Desconhecer sua importância, especialmente como mediador dos interesses do Estado, seria uma tentativa ilusória de negação da história. A propósito, em uma conversa informal com o Senador, ouvi dele um relato muito substantivo no que refere à liberação de recursos em favor do Ceará, em 2017.

A meu sentir, o que está equivocado não é a aliança com o Senador Eunício, e sim a omissão dos fundamentos que embasaram o acordo. Na falta de um debate transparente a respeito da composição, sobra a ideia de que se trata de uma engenharia meramente eleitoral (Eleitoreira?).

Em ultrapasse aos interesses eleitorais, objetivando suas reeleições, o Governador Camilo Santana e o Senador Oliveira deveriam inaugurar outra prática política no Estado para o estabelecimento desse acordo.

Minha sugestão é de que sejam listados e publicados na imprensa, por via de uma nota pública, todos os grandes projetos de interesse do Ceará, que fundamentaram o acordo, com os quais o Senador Oliveira se comprometeu a defender.

Sem que essas informações sejam disponibilizadas para a população, prevalece o que sugere a denominação dada a esta análise.


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