Talvez em Nome do Povo
Arnaldo
Santos*
Este título tomei emprestado do livro
recém-publicado pelo Professor Doutor Rui Martinho Rodrigues, para trazer à
reflexão o acordo político com o Senador Eunício Oliveira, Presidente do Senado
Federal, com vistas às próximas eleições.
Alinhavado pelo governador Camilo Santana e
corroborado pelo ex-governador Cid Gomes, referida aliança, de tão pragmática,
desorientou a oposição e produziu divergências, até no interior do grupo que
apoia o Governador.
O presidenciável Ciro Gomes, e o deputado
federal André Figueiredo, presidente estadual do PDT, que fazem parte da
aliança, reiteradas vezes, reverberaram contra esse arranjo eleitoral, com críticas
nem um pouco lisonjeiras.
Por mais contraditório que nos pareça o tal
acordo (e o é), sobretudo quando se examinam as relações de hostilidades entre
o Senador e os irmãos Gomes, deve ser lembrado o fato de que acordos da espécie
a História nos legou uma penca, cada um mais esdrúxulo do que o outro.
Na República Velha, por exemplo, é emblemática
desta realidade a política do café com
leite (1898/1930), como ficou conhecido o combinemos engendrado pelas oligarquias de São Paulo e Minas
Gerais, com o Governo Federal, para que os candidatos a Presidente da República,
durante aquele período e de modo alternado, fossem escolhidos entre os políticos
desses dois Estados.
Histórica e contemporaneamente, no acordo
entre PSD e UDN, na política do nosso terreiro, que ficou conhecido como União pelo Ceará, (1962), corria até
sangue entre esses dois partidos, e essa combinação resultou na escolha, pelo
voto, do Governador Virgílio Távora, com vistas a pacificar o Estado.
Mutatis
mutandis, paixões, motivações e interesses à parte,
uma aliança na perspectiva de um acordo é um pacto entre as partes envolvidas
objetivando a construção de fins comuns; e esses arranjos são da essência
política, em qualquer democracia. Adversários de ontem, por mais hostis
que tenham sido, em uma determinada conjuntura, representam apenas o mal menor.
Na política não há espaço para virtuosos.
Em sã consciência, ninguém pode obscurecer a
projeção do Senador Eunício Oliveira, no cenário político nacional, pela
posição que ocupa.
Desconhecer sua importância, especialmente
como mediador dos interesses do Estado, seria uma tentativa ilusória de negação
da história. A propósito, em uma conversa informal com o Senador, ouvi dele um
relato muito substantivo no que refere à liberação de recursos em favor do
Ceará, em 2017.
A meu sentir, o que está equivocado não é a
aliança com o Senador Eunício, e sim a omissão dos fundamentos que embasaram o
acordo. Na falta de um debate transparente a respeito da composição, sobra a
ideia de que se trata de uma engenharia meramente eleitoral (Eleitoreira?).
Em ultrapasse aos interesses eleitorais,
objetivando suas reeleições, o Governador Camilo Santana e o Senador Oliveira
deveriam inaugurar outra prática política no Estado para o estabelecimento
desse acordo.
Minha sugestão é de que sejam listados e
publicados na imprensa, por via de uma nota pública, todos os grandes projetos
de interesse do Ceará, que fundamentaram o acordo, com os quais o Senador
Oliveira se comprometeu a defender.
Sem que essas informações sejam
disponibilizadas para a população, prevalece o que sugere a denominação dada a
esta análise.
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