CEGO DO AMENDOIM
Totonho Laprovitera*
Totonho Laprovitera*
O sol tinha acabado de se por quando, no Mercado dos Peixes, eu,
Erick e Ferruccio nos deparamos com um jovem cego, vendedor de amendoim.
Apresentado pelo Luís “Rei dos Cornos” – que foi reconhecido só
pelo aperto de mão – pra início de conversa, afável, o deficiente visual logo
se mostrou boa-praça e de bem com a vida. Daí, puxando cavaco, travamos um leve
e bem-humorado bate-papo.
– Você é cego de nascença? – indagou Ferruccio.
– Você é cego de nascença? – indagou Ferruccio.
– Não, doutor. Eu enxergava, mas sofri uma pedrada na cabeça quando era pivete e, quando virei adulto, comecei a ter dor de cabeça, a minha vista foi embaçando, embaçando, até que fiquei cego.
– Mas você não procurou um médico? – inquiriu Erick.
– Procurei, mas quando já era tarde demais.
– Tarde demais? – perguntei.
– Sim, porque o glaucoma já havia consumido minha visão.
– Diga pra eles o que você era, antes de cegar – pediu Luís.
– Ah, eu era garçom e dos bons! Mas, perdi a visão, então, fui obrigado a largar a profissão, e para sobreviver eu hoje vendo amendoim.
– E tem mais, mesmo sem ver, ele conhece qualquer cédula! – glosou Luís.
– É mesmo? – perguntou Ferruccio.
– Pois então vamos fazer um desafio. Eu vou lhe dar umas cédulas pra você segurar. As que você identificar serão suas. Tá valendo?
– Tá valendo. Sério.
Ora, foram quatro cédulas – 2, 5, 10 e 50 reais, não nessa ordem –
e o cego não errou uma. Quer dizer, acertou e embolsou todas!
Aí, fiquei curioso de saber qual a técnica usada por ele para identificar as notas.
Aí, fiquei curioso de saber qual a técnica usada por ele para identificar as notas.
– Amigo, você as reconhece pelo tato, naturalmente.
– Sim.
– Por alguma saliência ou aspereza?
– Não, senhor, pelo tamanho.
Pois é, muitas vezes eu penso que tem é cego que, mesmo sem ver,
enxerga.
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