HOJE É DIA DO
CORPO DE DEUS
CORPO DE DEUS
Festa de Guarda da Igreja Católica (15.06.2017)
Vianney Mesquita*]
Deus não olha os teus atos, tampouco teu
aspecto externo. Ele enxerga, apenas, teu coração e tuas intenções. [Abu Hamid Muhammad ibn Muhammad, dito AL
GHAZALI – teólogo islâmico, cosmólogo, filósofo e jurista persa. Tus (Iran),
1058-1111].
1
INTRODUÇÃO
Hoje,
15 de junho de 2017, a quinta-feira sequente ao Domingo da Santíssima Trindade,
este imediatamente seguinte ao dia de Pentecostes, a Igreja de Roma celebra a
festa de CORPUS CHRISTI, expressão latina claramente significativa da dicção Corpo
de Deus. Consoante a Santa Sé, é data santa de guarda, cumprindo a participar
da Santa Missa aqueles que professam a confissão católica, de acordo com o
expresso pela CNBB, em se reportando ao Brasil.
O
caminho processional do Corpo de Deus pelas ruas é recomendado pelo Cânone 944,
ao determinar ao bispo da Diocese que o providencie, caso possível, (...) para testemunhar publicamente a adoração e
a veneração para com a Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do
Corpo e Sangue de Cristo.
Parece-nos
oportuno informar o fato de que, desde nossa primeira infância, tomamos contato
(e não desaproveitamos deste até o momento) com a doutrina cristã de orientação
tridentina, cuja transmissão pedagógica começou a ser operada com as
catequistas da Paróquia de São Francisco de Assis, no nosso Município de
nascimento, Palmácia (1957), antes Distrito de Maranguape-CE-Brasil.
Desenvolvia-se,
então – começo dos anos 1950 – o vicariato
do Cônego Joaquim Alves Ferreira, assessorado por seu irmão, Monsenhor Pedro, poliglota,
professor do Seminário Arquidiocesano de Fortaleza, sábio da Igreja, os quais
primavam pela instrução religiosa de seu pastoreio, concedendo-lhe apropriada
iniciação confessional, ao ponto de assegurar, sem intermitências, sua
continuidade, no nosso caso, ao abrigo diligente de nossos pais, Vicente Pinto
de Mesquita (Fortaleza, 15.10.1913-11.11.1993) e Maria de Lourdes Campos
Mesquita (Palmácia, 10.08.1920 – Fortaleza, 20.04.2004).
De
tal modo, na prossecução à busca da Palavra e de seus desdobramentos, tomamos
tento em dar sequência a esta manifestação constante de crédito cristão,
evidentemente – impende relevar – no reconhecido estado de humano penitente,
não farisaico. Na medida do possível, por conseguinte, demandamos conhecer mais
claramente as verdades emanadas do Verbo Divino, bem assim as diversas
circunstâncias que emolduraram sua repercussão, por meio da atenção e estudo
autodidático de seu enredo historiográfico.
Assim,
ao empregarmos o substrato prático prestadio ao desenvolvimento do tema, tomado
na consonância das razões descritas há pouco, também recorremos à literatura
histórica, devidamente referenciada, mas levando em conta fatos de domínio
público, para nos reportar neste escrito ao enredo do evento de Corpus Christi, no Brasil, ferido no
terceiro quartel do Trecento,
conforme será visto mais à frente.
2
ORIGEM – MILAGRE DE BOLSENA
A
exaltação do Corpo e Sangue de Jesus Cristo procede de uma intenção do padre
francês Jacques Pantaleon (nascido em Troyes, por isso Jacques = Iago = Jacob)
– futuro Papa Urbano IV, então cônego diocesano de Liége (Bélgica) – de que o mistério da Eucaristia fosse
celebrado com destaque, pois recebera segredo de Santa Juliana de Liége, monja
agostiniana do Mosteiro de Mont Cornillon, a qual experimentou visões de Jesus
Cristo, cujas significações foram depois explicadas à Igreja.
Santa
Juliana viu, numa das vezes, a lua cheia com uma rachadura no disco. Então, o
Senhor lhe revelou que a Lua era a Igreja e a cisão a ausência de uma
solenidade no círculo litúrgico dedicada ao Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Ela contou às autoridades o ocorrido depois de 1230
(therealpresence.org.).
Já
no Sínodo de 1246, Dom Roberto Thouroutte, prelado de Liége, estabeleceu na sua
Diocese uma festa em honra do Ss. Sacramento, celebrada pela vez primeira em 5
de junho de 1249.
Entrementes,
no Papado há pouco referido, São Pantaleão – Urbano IV – numa cidade perto de
Orvieto (Umbria, Vorsínia, dos Etruscos,
hoje com 26 mil hab), foi assinalado o conhecido Prodígio de Bolsena (Itália,
norte de Viterbo, no Lacio). Consoante fonte mencionada no final deste
parágrafo, um padre celebrante da Missa, ao partir a Hóstia Sagrada, viu sair
dela sangue que encharcou o corporal
(pano sobre o qual descansam o cálice e a patena no decurso da Missa). Então, o
Sumo Pontífice prescreveu que os objetos milagrosos fossem conduzidos para
Orvieto (lugar da Corte desse Papa, que jamais ocupou Roma), em procissão, no
dia 19 de junho de 1264, recebidos com solenidade pelo Vigário de Cristo e
levados para a Catedral de Santa Prisca.
(http;//www.therealpresence.org.eucharst/mir/portuguese_pdf/
PORTU-bolsena.pdf).
Com
efeito, a solenidade do Corpo de Deus foi oficialmente instituída ex-vi da Bula Transiturus de hoc Mundo (Passagem
desde mundo), editada em 11 de
agosto de 1264, sob a assinatura de Urbano IV, para ser celebrada na
quinta-feira imediatamente posterior à oitava de Pentecostes.
Com
vistas a conferir maior esplendor às comemorações, queria São Pantaleão (Urbano
IV) um canto para ser oficiado durante a celebração. Pediu, pois, a Santo Tomás
de Aquino (1225-1274) para compor o Ofício, que o fez sob o título Lauda Sion, o qual é entoado, ainda hoje, nas celebrações de Corpus Christi, na sequência antes do
Evangelho, sendo Aquino, também, o compositor de várias outras peças, como, verbi gratia, o Tantum Ergo, Pange Lingua et reliqua.
Lauda Sion
Salvatore
Sião
exulta de alegria/louva teu pastor e guia/
Com
teus hinos, tua voz!/Tanto possas, tanto ouses/
Em
louvá-lo não repouses:/ Sempre excede o teu louvor.
(ecclesia.com.br.filocalia/?Page+_id=440).
3
PROPAGAÇÃO DA SOLENIDADE
Mencionada
Bula, em razão da morte do Papa menos de um mês depois, experimentou de pouca
repercussão, porém se espalhou por algumas igrejas, conforme ocorreu em
Colônia, Alemanha, na qual a Festa do Corpo de Deus é oficiada desde antes de
1270, onde a procissão surgiu e se espalhou pelo País, depois em França e
Itália. Em Roma, o préstito ocorre desde 1350.
A
Santa Eucaristia, como é do conhecimento geral dos católicos, é o terceiro dos
sete sacramentos (Batismo, Crisma ou Confirmação Batismal, Eucaristia,
Penitência ou Confissão, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio), instituído
quando da Última Ceia, oportunidade em que Jesus falou que Este é meu corpo ... isto é o meu sangue... fazei isto em memória de
mim.
Para
o Bispo de Hipona, Santo Agostinho, a celebração de Corpus Christi é um memorial de imensurável benefício para os
cristãos, deixado em pão e vinho. Pelo fato de a Eucaristia ter sido celebrada
pela primeira vez nas Endoenças, isto
é, na Quinta Feira Maior, a festa do Corpo de Deus é sempre oficiada neste dia
da semana. Corpus Christi é
celebrado, como adiantamos, 60 dias depois da Páscoa, ou seja, de 21 de maio a
24 de junho.
A
modo de informação complementar, Endoenças
– vocábulo nem sempre bem explicado – procede da palavra latina
eclesiástica indulgencia (ae),
relativa a bondade, brandura, condescendência, favor, graça, isenção de um
tributo, perdão de uma pena. A Quinta feira Santa e a Sexta Feira da Paixão
eram dias de perdão – dies indugentia (ae),
em que eram concedidas
“indulgências eclesiásticas”. (HOUAISS; VILLAR SALLES, 2011). Particularizou-se,
então, o uso do substantivo – somente no plural – para corresponder à Quinta
Feira Santa, dia de instituída a Eucaristia.
4
CELEBRAÇÕES LOCAIS
Diferentemente
de outros lugares do Brasil, na Arquidiocese de Fortaleza – bem como nas demais
dioceses cearenses (oito – Crateús, Crato, Iguatu, Itapipoca, Limoeiro do
Norte, Quixadá, Sobral e Tianguá) – recorre-se à procissão com andores,
acompanhada de cânticos e, evidentemente, a Santa Missa, de sorte que não se
usam tapetes nas ruas na recepção ao Corpo de Deus, ao modo de algumas cidades
brasileiras, mormente as históricas, como, por exemplo, em Mariana-MG,
destacando-se, ainda, Pirenópolis-GO, Castelo-ES, Jaguariúna, Caieiras e
Borborema, no Estado de São Paulo.
Tal
usança procede de Portugal, para aqui trazida pelo elemento colonizador,
consoante informa Canção Nova (v. ref.). Os desenhistas dos tapetes se utilizam
de materiais como serragem colorida, farinha, areia, pó de café, flores e
demais atavios.
5
FINAL
Contando
mais de oito centúrias de celebração da Festa do Corpo de Deus, quando no mundo
católico se processaram, por todo esse lapso, manifestações de adoração ao
Senhor, conforme o espírito que presidiu o Papa Urbano IV – São Pantaleão – ao instituir a Bula Transiturus de hoc Mundo – Passagem desde
Mundo – chamamos a atenção dos fiéis para que, também nas celebrações de
rua do Corpus Christi, suas atenções
primordiais se dirijam, preferencial e absolutamente, ao louvor e
reconhecimento de Deus como criador, senhor de todas as coisas, protetor e
provedor das nossas necessidades, Deus verdadeiro de Deus Verdadeiro,
consubstancial ao Pai, conforme dita a oração do Credo Niceno-constantinopolitano.
De
tal modo, mesmo que se haja de apreciar a tradição, vestida de folclore, aliás,
culturalmente, parte da civilização humana, não se haverá de deixar no olvido o
fato de que o objetivo axial da existência humana repousa na salvação das almas.
Isto porque, estamos na dependência da vida correta conduzida na Terra, anelo
ao qual se aporta somente ao cultivar a crença na Trindade Santa, no
atendimento às suas prescrições expressas nos Santos Evangelhos, Escrituras e desdobres
verbais dos vigários terrenos da Divindade.
Por
tais pretextos, no Corpus Christi ora
solenizado, havemos de reforçar as raízes da nossa fé e nos dedicar, por
inteiro, enquanto temos corpo, às ideações salvíficas, para que, enfim,
pós-Último Julgado, nos seja possível desembarcar no Melhor Lugar da
eternidade, sob a destra do Criador, cujo corpo se adora e venera em tão ditosa
ocasião.
BIBLIOGRAFIA
HEUSER,
- O.F.B., Frei Bruno. História Sagrada.
45 ed.. Petrópolis: Vozes, 1976.
HOUAISS,
A.; SALLES, Mauro Villar. Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2001.
SGARBOSA,
Mário; GIOVANNINI, Luigi. Um santo para
cada dia. São Paulo: Paulus, 1996.
WHITE,
Ellen G. Vida de Jesus. Tatuí-SP:
Casa Publicadora Brasileira,1996.
(ecclesia.com.br.filocalia/?pag_id.440)
noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=234011 (presbíteros.com.br/site/historia-da-solenidade-de-corpus-christi)
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