RENASCERÁ
EM
OUTROS CORAÇÕES*
Antonio
Mourão Cavalcante **
Durante muitos meses o meu discurso era um só:
Lula, Dilma e o PT não são os únicos responsáveis pelo desastre do Brasil. Há
mais gente nisso. Aqueles mesmos que acusam não têm telhado sólido. Há que
investigar a todos. Sem distinção. Mas, durante meses a “República de Curitiba”
só aceitou denúncias contra esse triângulo mágico. Uma vez esses personagens
afastados da política, o Brasil seria um mar de rosas...
Nesse contexto aconteceu a queda de Dilma e as
repetidas capas da VEJA: Lula vai ser preso. Lula é bandido, etc. Quando foi
possível avançar por outros caminhos, o Brasil está escancarado. É Aécio,
Temer, Cunha, Serra. Uma lista imensa.
Acredito que vamos avançar para águas mais
profundas. E, assim como tivemos autoridade para exigir a fatura total,
precisamos agora ajustar as contas. O grande dilema do Brasil é saber para quem
desejamos construir a Nação. Se existem chances para os mais pobres. Se vamos
alimentar veredas de igualdade ou simplesmente aprofundar a exploração do
Capital sobre o Trabalho. Se vamos
aceitar, passivamente, essa podre convivência de homens públicos com
empresários canalhas.
É muito curioso que as elites digam que o
Temer pode até cair. Provavelmente ele não é mais útil, como ocorreu com
Eduardo Cunha e outros. São automaticamente cuspidos do navio. Entretanto, as
reformas precisam ser implantadas para o bem do País! Que mentira, meu Deus!
Que embuste! Quanta falácia! Se eles próprios são os principais devedores. Tem
que ser goela abaixo. Pouco importa o clamor público.
A reação popular deve ser entendida sobre duas
vertentes. Primeira, não é um protesto apenas contra a corrupção, mas
igualmente contra estas reformas que sufocam as mínimas conquistas dos
trabalhadores, ao longo de décadas. Num passe de mágica os empresários, curtos
de compreensão, querem sufocar as massas que consomem o que fabricam. Segunda,
não menos importante: as lutas populares, inclusive contra as reformas, não são
apanágio do PT, da CUT ou do MST. Devem ser entendidas como um clamor da
sociedade brasileira.
Durante muitos anos o Partido dos
Trabalhadores procurou conduzir estas bandeiras sociais. Hoje, não possui o
mesmo crédito. Recordo o querido Dom Hélder Câmara: “Não é porque bandeiras
certas andaram por mãos erradas que devemos abandoná-las.” A luta continua. E,
como na canção Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin: “Se o ideal que sempre nos
acalentou, renascerá em outros corações”.
* Opinião - Jornal O POVO (Fortaleza.CE) 03.06.17
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