sexta-feira, 30 de junho de 2017

ARTIGO - J'Accuse (HE)


J´Accuse*
Humberto Ellery**


Reconheço a minha pequenez, de modo que se dotei este artigo com o título “J'Accuse”, não foi para tentar me comparar ao grande Emile Zola. Foi apenas para lembrar a todos a absurda injustiça que se cometeu no caso Dreyfus (até Zola entrar em campo), e conclamar os que já julgaram e condenaram o Presidente Temer a terem um pouco de moderação e paciência, enquanto se desenrolam as investigações e o julgamento, para então formarem uma opinião fundamentada.

Aos que estão cheios de certezas afirmo que prefiro sempre encarar fatos novos cheio de dúvidas (“nunca tenha certeza de nada, porque a Sabedoria nasce das dúvidas” – Sigmund Freud). Se tiverem interesse nas denuncias do Janot contra o Temer, sugiro a leitura das pouco mais de sessenta páginas da peça de acusação. Mas alerto: é um porre! aliás a ressaca do porre!

Como sou curioso (daí viver cheio de dúvidas), fui conhecer a tal peça. Tremenda perda de tempo. Partindo do fim para o começo fica mais interessante, pois o Procurador Janot conclui seu libelo afirmando, cheio de certezas,  que “não há dúvidas de que Michel Temer cometeu práticas espúrias, ludibriou o cidadão brasileiro, causando abalo moral à sociedade”.

Ocorre que a denuncia, “com muita convicção mas sem nenhuma prova”, como diria Lula da Silva, é baseada somente nas palavras do delator Joesley Batista, este padrão de credibilidade. Basta lembrar que, ao ser confrontado com a sua afirmação de que comprara dois juízes e um procurador, respondeu que estava “blefando” (bluff, no original, em inglês, significa iludir, enganar, mentir, lograr, tirar proveito a partir de uma mentira), e quem joga poker sabe como é difícil jogar contra um bom blefador. A gente nunca pode confiar, principalmente se ele é rico, poderoso e tem cacife para dobrar a parada.

Mas, voltemos à vaca fria. Os diálogos gravados pelo veraz Joesley, mesmo admitindo-se que não foram editados, são entrecortados, muitas vezes incompreensíveis, às vezes tão surreais que parecem os discurso de Dilma Rousseff.

Entre outras, a peça acusatória  diz que “Michel Temer recebeu de Joesley vantagem indevida de R$ 500 mil em troca de sua intervenção (através do Rocha Loures) no Conselho Administrativo de Defesa Econômica”, para em seguida admitir, candidamente, que “no exíguo prazo deste Inquérito, não foi possível reunir elementos que permitam concluir que o interesse manifestado por Rodrigo Rocha Loures no CADE tenha provocado, no seio daquele órgão, ações ou decisões precipitadas ou desviadas da boa técnica”. Além de revelar tamanha incompetência para produzir provas, a peça ainda apresenta uma péssima redação.

No que se refere ao Eduardo Cunha (parece a Dilma falando), o douto procurador se superou, pois analisando a frase temerária “tem que manter isso, viu?”, que embasou a denuncia de obstrução de justiça, comprando o silêncio do Eduardo Cunha, ele admite que ainda será necessária “uma análise mais cuidadosa, aprofundada e responsável”. Sei que é inacreditável, mas está lá, escrito e assinado pelo jurisconsulto.

Nas primeiras trinta páginas da peça acusatória (verdadeiro enchimento de linguiça) o procurador (que deveria primeiro procurar um professor de redação) tenta desenhar um certo esquema de Michel Temer para favorecer uma empresa da área portuária. Depois de muita tergiversação sugere “instaurar investigação específica para melhor elucidar os fatos”. Parece mentira, mas a conclusão da investigação é a de que se deve investigar mais.

Mesmo não confiando na imparcialidade do STF, se eu fosse o Temer orientava os aliados da Câmara dos Deputados a aceitarem a denúncia, absurdamente inepta, e enviarem-na ao julgamento de doutores da lei. Seria um arraso.

*J'accuse (em português Eu acuso) é o título do artigo redigido por Émile Zola quando do caso Dreyfus e publicado no jornal L'Aurore do 13 de janeiro de 1898 sob a forma de uma carta ao presidente da República FrancesaFélix Faure. Zola inspirou-se num dossiê fornecido em 1896 pelo escritor Bernard Lazare.

Este artigo é publicado três dias após Esterhazy ter sido inocentado pelo Conselho de Guerra (10 de janeiro), o que parece acabar com toda esperança dos que contavam com uma revisão do processo que condenara Dreyfus.

Neste artigo, Zola ataca nominalmente os generais e outros oficiais responsáveis do erro judicial que levou ao processo e à condenação, os especialistas em grafologia culpados de « relatórios mentirosos e fraudulentos. » Ele ainda acusa o exército, culpado de uma campanha de imprensa mentirosa, bem como os dois Conselhos de Guerra: um tendo condenado Dreyfus baseado em uma peça mantida em segredo, enquanto o segundo inocentou sabidamente um culpado. Mas, acima de tudo, ele proclama desde o início a inocência de Dreyfus. (Wikipedia)


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