J´Accuse*
Humberto
Ellery**
Reconheço a minha pequenez, de modo que se dotei
este artigo com o título “J'Accuse”,
não foi para tentar me comparar ao grande Emile Zola. Foi apenas para lembrar a
todos a absurda injustiça que se cometeu no caso Dreyfus (até Zola entrar em
campo), e conclamar os que já julgaram e condenaram o Presidente Temer a terem um
pouco de moderação e paciência, enquanto se desenrolam as investigações e o
julgamento, para então formarem uma opinião fundamentada.
Aos que estão cheios de certezas afirmo que
prefiro sempre encarar fatos novos cheio de dúvidas (“nunca tenha certeza de nada, porque a Sabedoria nasce das dúvidas” –
Sigmund Freud). Se tiverem interesse nas denuncias do Janot contra o Temer,
sugiro a leitura das pouco mais de sessenta páginas da peça de acusação. Mas
alerto: é um porre! aliás a ressaca do porre!
Como sou curioso (daí viver cheio de dúvidas),
fui conhecer a tal peça. Tremenda perda de tempo. Partindo do fim para o começo
fica mais interessante, pois o Procurador Janot conclui seu libelo afirmando, cheio
de certezas, que “não há dúvidas de
que Michel Temer cometeu práticas espúrias, ludibriou o cidadão brasileiro,
causando abalo moral à sociedade”.
Ocorre que a denuncia, “com muita convicção mas sem nenhuma prova”, como diria Lula da
Silva, é baseada somente nas palavras do delator Joesley Batista, este padrão
de credibilidade. Basta lembrar que, ao ser confrontado com a sua afirmação de
que comprara dois juízes e um procurador, respondeu que estava “blefando” (bluff,
no original, em inglês, significa iludir, enganar, mentir, lograr, tirar
proveito a partir de uma mentira), e quem joga poker sabe como é difícil
jogar contra um bom blefador. A gente nunca pode confiar, principalmente se ele
é rico, poderoso e tem cacife para dobrar a parada.
Mas, voltemos à vaca fria. Os diálogos
gravados pelo veraz Joesley, mesmo admitindo-se que não foram editados, são
entrecortados, muitas vezes incompreensíveis, às vezes tão surreais que parecem
os discurso de Dilma Rousseff.
Entre outras, a peça acusatória diz que “Michel Temer recebeu de Joesley vantagem
indevida de R$ 500 mil em troca de sua intervenção (através do Rocha Loures) no
Conselho Administrativo de Defesa Econômica”, para em seguida admitir,
candidamente, que “no exíguo prazo deste
Inquérito, não foi possível reunir elementos que permitam concluir que o
interesse manifestado por Rodrigo Rocha Loures no CADE tenha provocado, no seio
daquele órgão, ações ou decisões precipitadas ou desviadas da boa técnica”.
Além de revelar tamanha incompetência para produzir provas, a peça ainda apresenta
uma péssima redação.
No que se refere ao
Eduardo Cunha (parece a Dilma falando), o douto procurador
se superou, pois analisando a frase temerária “tem que manter isso, viu?”, que embasou a denuncia de obstrução de
justiça, comprando o silêncio do Eduardo Cunha, ele admite que ainda será
necessária “uma análise mais cuidadosa,
aprofundada e responsável”. Sei que é inacreditável, mas está lá, escrito e
assinado pelo jurisconsulto.
Nas primeiras trinta páginas da peça
acusatória (verdadeiro enchimento de linguiça) o procurador (que deveria
primeiro procurar um professor de redação) tenta desenhar um certo esquema de
Michel Temer para favorecer uma empresa da área portuária. Depois de muita tergiversação
sugere “instaurar investigação específica
para melhor elucidar os fatos”. Parece mentira, mas a conclusão da
investigação é a de que se deve investigar mais.
Mesmo não confiando na imparcialidade do STF,
se eu fosse o Temer orientava os aliados da Câmara dos Deputados a aceitarem a
denúncia, absurdamente inepta, e enviarem-na ao julgamento de doutores da lei. Seria
um arraso.
*J'accuse (em português Eu acuso) é o título do
artigo redigido por Émile Zola quando do caso Dreyfus e publicado
no jornal L'Aurore do 13 de janeiro de 1898 sob a forma
de uma carta ao presidente da República Francesa, Félix Faure. Zola inspirou-se
num dossiê fornecido em 1896 pelo escritor Bernard Lazare.
Este
artigo é publicado três dias após Esterhazy ter sido
inocentado pelo Conselho de Guerra (10 de janeiro), o que parece acabar com
toda esperança dos que contavam com uma revisão do processo que condenara Dreyfus.
Neste
artigo, Zola ataca nominalmente os generais e outros oficiais responsáveis do erro
judicial que levou ao processo e à condenação, os especialistas
em grafologia culpados de « relatórios mentirosos e fraudulentos. »
Ele ainda acusa o exército, culpado de uma campanha de imprensa mentirosa, bem
como os dois Conselhos de Guerra: um tendo condenado Dreyfus baseado em uma
peça mantida em segredo, enquanto o segundo inocentou sabidamente um culpado.
Mas, acima de tudo, ele proclama desde o início a inocência de Dreyfus.
(Wikipedia)
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