quarta-feira, 28 de junho de 2017

ARTIGO - A Verdade Fatiada (RV)


A VERDADE FATIADA
Reginaldo Vasconcelos*


É verdade, Michel Temer não é flor que se cheire. Não pode estar acima do bem e do mal quem foi aliado de Lula e seus asseclas – Dilma, Palocci, Dirceu, Delúbio, Waldomiro, Pizzolato, Vacari, Mercadante, Guimarães... Por outro lado, não pode ser uma vestal quem é líder da ilustre patuleia que participou do Governo para fazer estripulias: Renan, Cunha, Barbalho, Sarney, Romero, Geddel...

Mas também é verdade que ele não teve nada a ver com o impeachment da Dilma, a qual despencou de podre, depois de uma administração ruinosa e de uma campanha mentirosa, abandonada finalmente por sua base parlamentar. A Presidência da República, por sua vez, caiu no colo de Temer por ação da gravidade, por imposição constitucional.

Uma vez no Governo, Temer deveria ter formado um ministério de notáveis, ao invés de se acercar de tanta gente corrupta, que foi caindo do Governo à medida que era alcançada por deleções gravadas e por investigações policiais, embora se possa arguir que ele precisava equilibrar os pratos para ter governabilidade, e conseguir enfim emplacar as reformas.

Porém, deveria e poderia Temer ter instalado um gabinete de crise, para promover a recuperação do País, formado pelos melhores técnicos do mercado, durante o seu mandato tampão, empurrando com a barriga as ambições políticas da sua gangue para a sua sucessão ou reeleição. Certamente teria funcionado.

Entretanto, é verdade também ser muito estranhável que um Procurador Geral nomeado pelo PT tenha feito composição com um empresário que prosperou exponencialmente, e desonestamente, durante os governos do PT, para fazer gravações secretas com o Presidente da República e com o presidente de seu partido, inimigos políticos do PT, para poder o delator confessar seus crimes e ficar totalmente impune, com respaldo de um Ministro do Supremo que trabalhou na campanha da Dilma e foi por ela nomeado.

É verdade, sim, que a denúncia contra Temer tem bases muito frágeis, não somente pela questionável licitude da forma usada para a obtenção das provas, mas também porque as evidências são apenas gravações precárias, em que Temer, em sua casa, ouve coisas de um megaempresário às quais responde de forma econômica e monossilábica.

No mais, o que se tem assacado contra Temer é o recebimento de propina por um assessor, o que suscita ilações contra o Presidente, é verdade, mas não induz formação de culpa em relação a ele, porque a culpa não passa do agente, e o agente foi um terceiro. 

Ademais, provar que alguém recebeu dinheiro, por doação ou empréstimo, ainda que politicamente cause dúvida e suspeição, não faz prova jurídica de que esse favor visava, ou resultou numa contrapartida desonesta. Collor de Mello foi levado ao impeachment por um automóvel Fiat que ganhou, e foi depois absolvido pelo Supremo Tribunal porque não se provou que, em troca do carro, ele tenha beneficiado o doador.  

A mulher de César, politicamente falando, precisa parecer honesta – é verdade – mas, juridicamente, não pode ser inquinada quando por acaso parecer não ser, a despeito de não haver prova concreta de que ela tenha sido desonesta.

Por fim, a última fatia dessa confusa verdade é a seguinte: tudo o que está acontecendo com Temer não visa fazer justiça, muito menos o bem do País, mas apenas abrir caminho para candidaturas em 2018.

Se o interesse fosse de fazer justiça não teriam dado perdão judicial a um grupo de bandidos liderados pelos irmãos Batista, que praticaram crimes muito maiores do que Temer poderia ter perpetrado ao logo de toda a sua vida.

Tampouco o foco dessas ações é o bem da Nação e a felicidade do povo. O Brasil de hoje é um barco furado, detonado pelos desmandos dos governos anteriores, de modo que todos deveriam estar remando para que se chegue à outra margem, em vez de parar o barco, que está fazendo água, no meio da travessia, empreendendo todos os esforços para jogar ao mar um cachorro morto político como o Presidente Michel Temer, que saindo do Governo terá o resto da vida para responder por seus eventuais ilícitos.



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