segunda-feira, 5 de junho de 2017

ARTIGO - Por Quem os Sinos Dobram? (RMR)


POR QUEM OS SINOS DOBRAM?
Rui Martinho Rodrigues*



Não temos partidos, mas organizações criminosas. Não temos líderes, mas chefes mafiosos. As ideias majoritárias nos meios universitários, políticos, e de comunicação são as mais equivocadas. A desorientação decorrente da irracionalidade dos paradigmas, como diria Thomas Kuhn, ou da cegueira ideológica, como se diz vulgarmente, produziu em muitos uma surpreendente incapacidade para os raciocínios mais óbvios, que somada às manobras conscientes de desinformação, da parte de outros, instalaram o caos cognitivo.

Até o medieval “martelo das bruxas” está de volta. Este consistia em torturar os réus da “santa inquisição”, considerando culpados aqueles que cedessem ao suplício, por admitir como válidas as confissões. Também consideravam culpados quem não confessasse, porque só tendo pacto com o diabo se poderia resistir ao tormento. Pelo sim, pelo não, os investigadores “do bem” estavam sempre certos.

A “grande mídia é mentirosa” quando denuncia alguém das “esquerdas”, mas é verdadeira quando acusa a “direita”, apesar das partes terem sido sócias no saque ao erário, por um longo período, numa cooperação ideologicamente indiferenciada. Parceiros por tantos anos não seriam coautores nos crimes da Lava Jato  sustenta-se sem nenhum rubor na face. Alega-se em defesa das “esquerdas”, que outros personagens também praticaram crimes, como se isso fosse excludente de ilicitude.

Argumenta-se que o Brasil não virou um mar de rosas com o afastamento de parte dos criminosos que saquearam o País nos últimos anos, como se a aplicação da lei fosse condicionada a resultados de política econômica e social. Lula não foi preso e isso seria “evidência da inocência do ex-presidente”, mas sua prisão seria “prova de perseguição”. A ideia de um conflito inconciliável entre capital e trabalho, tão prestigiada até meados do século XX, continua forte no Brasil, ignorando o fato de que quem tem interesse em vender não conflita irremediavelmente com quem tem interesse em consumir.

Assistimos a uma pregação aberta da violência, sob o argumento de que passou o tempo da conciliação e até de que não há solução sem derramamento de sangue, esquecidos dos reiterados fracassos das revoluções. Quem acusa as “esquerdas” tem ódio no coração, mas quem acusa a “direita” tem “amor cristão”, embora não se saiba o que é esquerda e direita.

Por quem os sinos dobram? Pelo Brasil.



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