POR QUEM OS SINOS DOBRAM?
Rui Martinho Rodrigues*
Não temos partidos, mas organizações
criminosas. Não temos líderes, mas chefes mafiosos. As ideias majoritárias nos
meios universitários, políticos, e de comunicação são as mais equivocadas. A
desorientação decorrente da irracionalidade dos paradigmas, como diria Thomas
Kuhn, ou da cegueira ideológica, como se diz vulgarmente, produziu em muitos
uma surpreendente incapacidade para os raciocínios mais óbvios, que somada às
manobras conscientes de desinformação, da parte de outros, instalaram o caos
cognitivo.
Até o medieval “martelo das bruxas” está de
volta. Este consistia em torturar os réus da “santa inquisição”, considerando
culpados aqueles que cedessem ao suplício, por admitir como válidas as
confissões. Também consideravam culpados quem não confessasse, porque só tendo
pacto com o diabo se poderia resistir ao tormento. Pelo sim, pelo não, os
investigadores “do bem” estavam sempre certos.
A “grande mídia é mentirosa” quando denuncia
alguém das “esquerdas”, mas é verdadeira quando acusa a “direita”, apesar das
partes terem sido sócias no saque ao erário, por um longo período, numa
cooperação ideologicamente indiferenciada. Parceiros por tantos anos não seriam
coautores nos crimes da Lava Jato – sustenta-se sem nenhum rubor na face. Alega-se
em defesa das “esquerdas”, que outros personagens também praticaram crimes,
como se isso fosse excludente de ilicitude.
Argumenta-se que o Brasil não virou um mar de
rosas com o afastamento de parte dos criminosos que saquearam o País nos
últimos anos, como se a aplicação da lei fosse condicionada a resultados de
política econômica e social. Lula não foi preso e isso seria “evidência da
inocência do ex-presidente”, mas sua prisão seria “prova de perseguição”. A
ideia de um conflito inconciliável entre capital e trabalho, tão prestigiada
até meados do século XX, continua forte no Brasil, ignorando o fato de que quem
tem interesse em vender não conflita irremediavelmente com quem tem interesse
em consumir.
Assistimos a uma pregação aberta da violência,
sob o argumento de que passou o tempo da conciliação e até de que não há
solução sem derramamento de sangue, esquecidos dos reiterados fracassos das
revoluções. Quem acusa as “esquerdas” tem ódio no coração, mas quem acusa a
“direita” tem “amor cristão”, embora não se saiba o que é esquerda e direita.
Por quem os sinos dobram? Pelo Brasil.
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