quinta-feira, 29 de junho de 2017

AERTIGO - O Governo e a Crise (AS)


O GOVERNO E A CRISE
Arnaldo Santos*



Iniciamos hoje, nesse espaço de opinião do blog da ACLJ, uma série de três artigos, abordando as várias percepções e os rebatimentos da crise ético-moral e político-econômica que paralisou o País e desorientou a Nação.

Hoje analisaremos o problema sob o ponto de vista da política, no contexto externo e interno, com suporte nos últimos episódios protagonizados pelo Governo, no contexto das gravações da conversa do Presidente Temer com o empresário Joesley Batista da JBS, e as reações da sociedade nacional manifestas nas ruas das cidades brasileiras, ainda que a participação não tenha sido na mesma intensidade de quando da campanha pelo impeachment da presidente Dilma.

No segundo artigo nos reportaremos ao papel das instituições ante este estado tão crítico, com foco na atuação do Congresso Nacional, do STF e do TSE. No terceiro e último formularemos algumas sugestões e propostas políticas, na perspectiva da democracia no século XXI.

Um olhar sobre o contexto político externo contemporâneo evidencia uma ação política, liderada por alguns líderes mundiais (o Papa Francisco ganha destaque), com poder e influência global, repleto de símbolos como reflexos das mudanças reclamadas pelas sociedades em todo mundo, no século que corre. 
     
O mais midiático ocorreu no ano que passou, quando da visita do ex-Presidente Barack Obama a Cuba, após 58 anos, desde o rompimento diplomático e embargos econômicos, impostos pelos Estados Unidos quando da tomada do poder por Fidel Castro, e, mais recentemente, a revogação dos acordos diplomáticos pelo presidente Donald Trump.

As mudanças promovidas pelo Papa Francisco no âmbito da Igreja Católica, rompendo dogmas e criando outros paradigmas, como inclusão da comunidade homossexual, a aceitação de métodos contraceptivos em algumas situações, e a punição de alguns, até então intocáveis, como bispos e cardeais envolvidos em escândalos de pedofilia, são emblemáticas desses novos tempos.
         
Os avanços que se observam em parte do mundo, no Brasil se traduzem num agudo retrocesso moral e ético sem precedentes, erodindo a democracia e suas instituições, desorientando a Nação e fragilizando a esperança da juventude no estabelecimento de um país melhor.

O que torna essa realidade ainda mais grave é a falta de perspectiva, já que não se vislumbra, no curto prazo, uma porta de saída para superação da crise, em face da inexistência de lideranças confiáveis para conduzir o País, visto que, em maior ou menor grau, a elite dirigente, no Congresso e no Poder Executivo, está toda contaminada pela endemia da “corruPTopatia”, a partir do próprio presidente Michel Temer, denunciado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.

Um chefe de Estado, para ter condições de governar um povo, precisa reunir algumas precondições de legitimidade, dentre as quais confiança e credibilidade das instituições e da sociedade, além de apoio popular e político, absolutamente imprescindíveis. O atual Presidente já não reúne nem um desses requisitos. 

Pelo clima observado nos lugares públicos, e a julgar pelas novas descobertas da Operação Lava Jato, que a cada dia mais surpreende a Nação, o atual governo mergulhado em vários escândalos de corrupção, seja pelos ministros denunciados no STF, seja pelo Presidente Michel Temer, igualmente denunciado, a sociedade reclama por uma solução saneadora. 

Se já não bastasse os aspectos éticos e morais (imorais, mesmo!) que são muito graves, a taxa de desemprego em torno de 10% divulgada pelo IBGE, um déficit orçamentário de quase cem bilhões proposto pelo Ministro da Fazenda, a renegociação das dívidas por Estados e Municípios, agravando ainda mais o descontrole das contas, faz o governo sucumbir diante de um Congresso que corre célere para a todo custo aprovar as reformas trabalhista e da previdência, para tentar salvar o Governo, que já enfrenta uma dezena de pedidos para instalação de um processo de impeachment do Presidente.

Não por acaso, parte do próprio PT, o PMDB e o PSDB já ensaiam, em seus laboratórios de política e corrupção, uma vacina de autoimunização para fugir das suas responsabilidades pela crise. Os tucanos vivendo o drama hameletiano de ser ou não ser governo.

É pelo diálogo que se edificam pontes de saída das crises; o Presidente perdeu essa opção, erodido pela crise moral que o devora e que enfraquece o seu governo.



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