O GOVERNO E A CRISE
Arnaldo Santos*
Iniciamos hoje, nesse espaço de opinião do blog da
ACLJ, uma série de três artigos, abordando as várias percepções e os
rebatimentos da crise ético-moral e político-econômica que paralisou o
País e desorientou a Nação.
Hoje analisaremos o problema sob o ponto de vista
da política, no contexto externo e interno, com suporte nos últimos
episódios protagonizados pelo Governo, no contexto das gravações da conversa do
Presidente Temer com o empresário Joesley Batista da JBS, e as reações da
sociedade nacional manifestas nas ruas das cidades brasileiras, ainda
que a participação não tenha sido na mesma intensidade de quando da campanha
pelo impeachment da presidente Dilma.
No segundo artigo nos reportaremos ao papel das instituições ante este
estado tão crítico, com foco na atuação do Congresso Nacional, do STF e do
TSE. No terceiro e último formularemos algumas sugestões e propostas
políticas, na perspectiva da democracia no século XXI.
Um olhar sobre o contexto político externo
contemporâneo evidencia uma ação política, liderada por alguns
líderes mundiais (o Papa Francisco ganha destaque), com poder e
influência global, repleto de símbolos como reflexos das mudanças
reclamadas pelas sociedades em todo mundo, no século que
corre.
O mais midiático ocorreu no ano que passou, quando
da visita do ex-Presidente Barack Obama a Cuba, após 58 anos, desde o
rompimento diplomático e embargos econômicos, impostos pelos Estados
Unidos quando da tomada do poder
por Fidel Castro, e, mais recentemente, a revogação dos acordos diplomáticos pelo
presidente Donald Trump.
As mudanças promovidas pelo Papa Francisco no âmbito
da Igreja Católica, rompendo dogmas e criando outros paradigmas, como
inclusão da comunidade homossexual, a aceitação de métodos contraceptivos em
algumas situações, e a punição de alguns, até então intocáveis, como bispos e
cardeais envolvidos em escândalos de pedofilia, são emblemáticas desses novos
tempos.
Os avanços que se observam em parte do mundo, no
Brasil se traduzem num agudo retrocesso moral e ético sem
precedentes, erodindo a democracia e suas instituições, desorientando a Nação e
fragilizando a esperança da juventude no estabelecimento de um país melhor.
O que torna essa realidade ainda mais
grave é a falta de perspectiva, já que não se vislumbra, no curto prazo,
uma porta de saída para superação da crise, em face da
inexistência de lideranças confiáveis para conduzir o País, visto
que, em maior ou menor grau, a elite dirigente, no Congresso e no Poder Executivo,
está toda contaminada pela endemia da “corruPTopatia”, a
partir do próprio presidente Michel Temer, denunciado pelo Procurador Geral da
República, Rodrigo Janot.
Um chefe de Estado, para ter condições de
governar um povo, precisa reunir algumas precondições de legitimidade, dentre
as quais confiança e credibilidade das instituições e da sociedade, além
de apoio popular e político, absolutamente imprescindíveis. O atual
Presidente já não reúne nem um desses requisitos.
Pelo clima observado nos lugares públicos, e a
julgar pelas novas descobertas da Operação Lava Jato, que a cada dia mais surpreende a Nação,
o atual governo mergulhado em vários escândalos de corrupção, seja pelos ministros denunciados no STF, seja pelo Presidente Michel Temer, igualmente
denunciado, a sociedade reclama por uma solução saneadora.
Se já não bastasse os aspectos éticos
e morais (imorais, mesmo!) que são muito graves, a taxa de
desemprego em torno de 10% divulgada pelo IBGE, um
déficit orçamentário de quase cem bilhões proposto pelo Ministro da
Fazenda, a renegociação das dívidas por Estados e Municípios, agravando ainda
mais o descontrole das contas, faz o governo sucumbir diante de um Congresso
que corre célere para a todo custo aprovar as reformas trabalhista e da
previdência, para tentar salvar o Governo, que já enfrenta uma dezena de
pedidos para instalação de um processo de impeachment do Presidente.
Não por acaso, parte do próprio PT, o PMDB e o
PSDB já ensaiam, em seus laboratórios de política e corrupção, uma
vacina de autoimunização para fugir das suas responsabilidades pela
crise. Os tucanos vivendo o drama hameletiano de ser ou não ser governo.
É pelo diálogo que se edificam pontes de saída
das crises; o Presidente perdeu essa opção, erodido pela crise moral que o
devora e que enfraquece o seu governo.
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