SIM OU NÃO?
Humberto Ellery*
O
jornalista gaúcho (que em sua matrícula escolar constava como nascido no
Uruguay) Apparicio Fernando de Brinkerhoff Torelly, que também assinava
Apporelly, quando veio para o Rio trabalhar em jornais, se auto concedeu o
título nobiliárquico de Barão de Itararé (referência à maior batalha campal da
América Latina – que nunca chegou a ser travada).
Um
dos mais brilhantes e criativos intelectuais da nossa imprensa, criador de
frases memoráveis, como “quando um pobre come galinha um dos dois está doente”; “o casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e outro religioso”; “tudo
seria muito fácil, se não fossem as dificuldades”.
Certa
vez, respondendo a uma prova oral do curso de medicina, que abandonou no quarto
ano por questões não explicadas, o professor, tentando humilhá-lo por uma
resposta errada, dirigiu-se a um bedel e pediu, em voz alta: Fulano, vá até a
cantina e traga um feixe de capim! O nosso Apparicio completou: e pra mim um
cafezinho! Comenta-se que ali começou o seu afastamento da Faculdade.
Durante
a ditadura Vargas, Apporelli foi muito perseguido por ser comunista. Foi eleito vereador
pelo Partidão, com o lema: “Mais leite e mais água para o povo; e menos água no
leite!”.
Dividiu
cela com Graciliano Ramos, de quem era amigo e correligionário, e está citado
no monumental “Memórias do Cárcere”. ”
Certa
vez, durante um interrogatório, irritou tanto o policial que o interrogava, que
este bradou:
– Seu Apparicio, responda apenas o que eu perguntei, pare com tantos subterfúgios e diga apenas sim ou não.
O bravo jornalista respondeu:
– Senhor Major, certas perguntas não podem ser respondidas com apenas um sim ou um não. Há que contextualizá-las.
– Seu Apparicio, responda apenas o que eu perguntei, pare com tantos subterfúgios e diga apenas sim ou não.
O bravo jornalista respondeu:
– Senhor Major, certas perguntas não podem ser respondidas com apenas um sim ou um não. Há que contextualizá-las.
O
major discordou, afirmando que qualquer pergunta pode ser respondida
simplesmente com um sim ou um não – ao que o interrogado retrucou:
– Posso
fazer ao senhor uma pergunta para o senhor responder sim ou não? – perguntou
humildemente o nosso herói. O major, cheio de raiva desafiou:
– Faça! faça qualquer pergunta que eu responderei sim ou não.
– Faça! faça qualquer pergunta que eu responderei sim ou não.
O
destemido jornalista tascou:
– Major, o senhor acredita que sua esposa parou de lhe trair?
– Major, o senhor acredita que sua esposa parou de lhe trair?
Foi
quando levou a primeira mãozada. Pois é, são dessas perguntas capciosas que não podem
ser respondidas que constam das mais de oitenta que o Fachin mandou para o
Temer, e lhe concedeu 24 horas para responder; depois, condescendente, dilatou o
tempo, mas as perguntas continuaram irrespondíveis, e versavam sobre quatro
temas:
1.
relativas à gravação clandestina que não foi periciada e é a pièce de
résistance de todo o processo, mesmo não sendo aceita como prova em nenhum
tribunal decente;
2.
fatos anteriores ao mandato presidencial, portanto fora do alcance do processo;
3.
questões de caráter pessoal (quem é Edgar?); e
4.
questões referentes ao Rocha Loures, que está em outro processo.
Descobri
hoje que o Fachin não é obrigado a responder aos questionamentos que alguns
deputados aliados do Temer queriam lhe fazer. Mas eu farei as perguntas que me
intrigam mesmo assim, ainda que conhecendo as suas respostas.
Lá
vai:
1. Ministro Fachin, é verdade que o senhor certa
vez atuou como advogado do Paraguay numa questão internacional contra o Brasil?
(patriotismo é isso!).
2. Ministro Fachin, é verdade que o senhor
participou ativamente da campanha presidencial, pedindo votos para a Dilma, se identificando como líder de “um grupo de juristas que têm lado, o lado do PT?"
3. Ministro Fachin, é verdade que o senhor advogou
pelo MST, em questões de invasões de propriedades?
4. Ministro Fachin, é verdade que, para ser
Ministro do STF, o senhor foi pedir votos aos senadores de braços dados
com o Ricardo Saud, tesoureiro e propineiro do Joesley Folgadão?
5. Ministro Fachin, é verdade que o senhor, já
Ministro do STF, participou de um jantar na mansão do Joesley Folgadão em
Brasília, que varou a noite, e pela manhã foi para Curitiba no Jatinho do
criminoso?
6. Ministro Fachin, é verdade que o Joesley
Folgadão cometeu 245 crimes, cuja prisão, na soma pelas penas máximas, chegam a
2.448 anos de cadeia?
7. Ministro Fachin, é verdade que o senhor mandou
instaurar um processo contra o Presidente da República com base numa fita
gravada clandestinamente, portanto sem nenhum valor em qualquer tribunal
democrático?
8. Ministro Fachin, é verdade que o senhor se
arvorou relator do Processo solicitado pelo Janot, quando, pelo Regimento
Interno do STF, o relator deveria ser escolhido por sorteio?
9. Ministro Fachin, é verdade que, ao arrepio da
Lei, o senhor concedeu Perdão Judicial ad aeternum ao
criminoso Joesley Folgadão?
10. Ministro Fachin, por que o senhor é desse
jeito?
GESTO
DE GRANDEZA
Humberto
Ellery*
O
tucano FHC quando resolveu descer do muro, atrapalhou-se e acabou,
açodadamente, descendo do lado errado.
Sem
querer entrar agora no mérito das acusações contra o Temer, por enquanto eu
as julgo infundadas, inconsistentes, e, consequentemente, injustas.
Se,
durante o desenrolar do processo, surgirem provas graves e robustas contra ele,
eu vou me permitir mudar de posição.
John
Maynarde Keynes ensinou que “quando os fatos mudam eu também mudo de ideia”.
Não tenho compromisso com a corrupção, mas com a Lei e seus direitos de defesa,
contraditório, presunção de inocência e outros valores que, de forma paciente e
prudente costumo assumir.
Já
disse e vou repetir: embora eu defenda meus pontos de vista com paixão,
construo minhas convicções com a razão.
Pois o
sociólogo resolveu agora dar uma de golpista. Como convocar eleições gerais? Atropelando
a Constituição?
O
Presidente da República tem esse poder?
Quem
inventou uma reeleição para permanecer no poder além do tempo regulamentar tem
moral para falar em Gesto de Grandeza?
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